Num país onde até Sílvio
Santos já foi candidato a presidente e os campeões de intenção de
voto são, até agora, um criminoso condenado e um dublê de militar e deputado federal
saudoso dos anos de chumbo, não chega a espantar o fato de Luciano Huck se destacar nas pesquisas, mesmo sem ser oficialmente
candidato. Mas que dá medo, isso dá.
Não de Huck, naturalmente, que me parece um sujeito inteligente e
bem-intencionado (ainda que o caminho do
inferno esteja pavimentado com boas intenções). O que assusta é o desespero
da população diante da absoluta falta de opções que abre uma janela de
oportunidade para um populista qualquer posar (outra vez) de salvador da pátria
― e aí não estou me referindo a Luciano
Huck, é bom deixar bem claro.
Em extensa matéria publicada em sua mais recente edição, a
revista IstoÉ pondera que, tão logo
se integrou a movimentos cívicos organizados, Huck se transformou no fenômeno eleitoral da vez. Não que ele tenha
manifestado interesse em lançar sua candidatura, mas, principalmente, pelo potencial
eleitoral de uma possível candidatura e pelo alvoroço que esse fato político
incontestável provocou no País.
Num ambiente altamente tóxico e de total descrédito da
classe política, o apresentador encarna um perfil capaz de cativar um
eleitorado carente de opções, interessado em escapar da polarização radical Lula x Bolsonaro. Seria o cara certo no lugar certo, num momento de
desgaste do carcomido modelo político, em que as pessoas não se sentem mais
representadas pelos veteranos do jogo.
Na maioria das simulações, Huck figurou na casa dos dois dígitos, o que representa um
desempenho e tanto num cenário pulverizado como o atual. A última pesquisa
revelou que ele é o mais bem avaliado entre os 23 nomes submetidos ao eleitor, com uma aprovação de 60% e apenas 32% de
reprovação. Em dois meses, cresceu 17 pontos percentuais, enquanto outros
cotados na disputa, como o trio assombro Lula,
Bolsonaro e Marina, apresentam feedbacks negativos, sempre perto dos 60%,
causando calafrios nos que poderiam ser seus oponentes.
O grande “X” da questão é que Huck não é candidato. Embora tencione continuar participando do Agora! e do Renova BR ― dois movimentos suprapartidários nos quais se engajou
nos últimos meses ―, ele anunciou que não pretende se filiar a nenhum partido,
sendo um ponto fora da curva na nossa política, onde ninguém desiste de ser candidato justamente quando seus índices de
aprovação vão de vento em popa. Mas ele o fez, talvez porque, se realmente lançasse sua candidatura, teria a vida pregressa devassada,
ou porque a Globo lhe deu prazo até 15 de dezembro para decidir se sai em
campanha ou se fica na emissora (caso ele optasse por sair candidato, sua mulher, Angélica, também teria que se desligar
da empresa).
Mesmo montado na bufunfa, ninguém em sã consciência abriria
mão de um salário de R$ 1,5 milhão
por mês, mais contratos de publicidade, para ganhar R$ 33 mil como presidente de uma república de Bananas encrencada
como a nossa. A não ser, claro, que enxergasse outros portos além de onde a
vista alcança no horizonte... Mas não me parece ser o caso do incrível Huck. E ainda que fosse, é bom
lembrar que a Lava-Jato está aí ― combatida,
sabotada e enfraquecida, mas ainda ativa e operante. E Lula lá.
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