A imagem acima é uma alusão à intervenção federal na Segurança do Estado
do Rio de Janeiro (assunto que será abordado oportunamente). Dito isso, vamos
ao que interessa.
Dentre os quase 20 postulantes à presidência da Banânia (num universo surreal de 35 partidos oficialmente registrados e outros 73 aguardando a vez), são bem poucos os que têm chances reais de chegar ao segundo turno. Por ironia do destino ― ou pela
ignorância atávica do nosso povo ―, os que mais se destacam são justamente aqueles que mais preocupam.
Lula, ao que
tudo indica, ficará fora do páreo. Claro que estamos no Brasil, onde
interpretar as leis ao sabor de conveniências e especificidades não é incomum.
Mas é consenso entre os juristas ― aí incluídos ministros do TSE
e do STF ― que a Lei da Ficha-Limpa sepulta as pretensões eleitorais do criminoso condenado (se o PT chegar a pedir o registro de sua candidatura, o TSE deverá negá-lo). Quando, porém, é que são elas. E enquanto dura essa
agonia, Bolsonaro continua colhendo frutos de sua alardeada postura
anti-Lula e antipetista (que a mim parece ser seu único predicado).
Alckmin empacou
nos 5%, mas pode cair se e quando forem comprovadas as denúncias
de corrupção feitas por delatores contra ele. No final do ano passado, a PGR pediu ao STJ (instância em
que tramitam processos contra governadores, que também têm direito a foro
especial por prerrogativa de função) a abertura de um inquérito (que corre em segredo de justiça). Seja como for, pelo que se pode inferir da
história pregressa do PSDB, a candidatura do “picolé de chuchu” será
mais um voo de galinha ― isso se ele chegar politicamente vivo às
eleições. Uma pena, porque, a julgar pelos concorrentes, Alckmin ― se realmente
não estiver envolvido nas maracutaias ―, é uma das poucas alternativas dignas de consideração.
Observação: O governador tucano afirma que “nunca
nossa vida pública precisou tanto de transparência e verdade; confio que a
apuração das informações pela Justiça encerrará todas as dúvidas”. Mas foi isso mesmo que Temer disse quando sua conversa pecaminosa com Joesley
Batista veio a público ― e depois vendeu a alma ao Diabo para impedir que as
investigações avançassem no STF). E Lula, que jura inocência a despeito de responder a 7 ações criminais (por enquanto), ter sido condenado em uma delas (em duas instâncias do Judiciário) e está com um pé no Complexo
Médico-Penal de Pinhais, em Curitiba. Se alguma vez ― uma única vez ―, qualquer
figurão da nossa política, investigado, indiciado ou processado, assumir publicamente
sua culpa, vai chover merda no Ceará!
Luciano Huck nega ser candidato, mas vem se equilibrando nas pesquisas de opinião
pública ― depois de Lula (que, como dito, deverá ser impedido de
concorrer) e de Bolsonaro (cuja candidatura tende a se esvaziar sem Lula no páreo). O apresentador compartilha com outros pretendentes o honroso terceiro lugar, o que demonstra a
vantagem do “novo” sobre os representantes da velha política tupiniquim. Aliás, quanto mais a candidatura de Alckmin patina, mais cresce entre os políticos de
centro a vontade de lançar a candidatura de Huck, que já confirmou que desistiu de concorrer. Lembro que ele disse isso em novembro, mas pediu que seu nome não fosse retirado das pesquisas. Por essas e outras, podemos ter novidades até abril.
Joaquim Barbosa teria dado trabalho a Dilma e Aécio se tivesse concorrido
em 2014, quando sua popularidade ― advinda do julgamento do mensalão ― estava
nos píncaros, mas perdeu o bonde da história: mesmo empatado com Alckmin
e Huck, o ex-ministro enfrenta resistência até mesmo dentro do PSB,
onde velhas raposas como Aldo Rebelo e Beto Albuquerque também disputam
o posto de candidato. Claro que Barbosa pode se filiar a outro partido até o dia 7
de abril, e já conversou com vários. Só acho estranho que seu “ponto forte” seja a suposta intolerância com a corrupção e, mesmo assim, ele não descarta
uma aliança com o próprio PT, embora refute composições com PSDB,
MDB e DEM.
Rodrigo Maia
e Henrique Meirelles ora são e ora não são candidatos a candidato. Ambos
gostariam de disputar, naturalmente, mas eu gostaria que chovesse champanhe
francês, e até até hoje isso não aconteceu. Temer também sonha com a reeleição, mas isso é tão improvável que não merece sequer uma análise mais detalhada (até porque o medebista ocupa a "honrosa posição" de presidente mais impopular desde a redemocratização do Brasil).
Propostas excêntricas não faltam entre outros virtuais
candidatos: repleto de menções a Deus, o deputado evangélico Cabo Daciolo, que pretende concorrer
pelo Avante depois que foi expulso
do PSOL, vê na intervenção militar a
solução para o país. Ele já chegou a defender o fechamento do Congresso Nacional,
onde “só tem corruptos”, e a
anunciar que daria sete voltas no prédio da Câmara e do Senado para “expulsar o demônio da corrupção”. De napoleões de hospício, já nos basta Collor,
que se diz candidatíssimo (segundo as más-línguas, está de olho é no governo de Alagoas). Ou a ex-apresentadora Valéria Monteiro, que quer cativar o eleitorado prometendo ― dentre outras sandices ― licença-maternidade de três
anos e isenção de Imposto de Renda para quem ganha menos de R$ 3.700.
Nessa bando de doidos destaca-se também cirurgião plástico Roberto Miguel Ray Júnior, mais conhecido como Dr. Hollywood, famoso por recauchutar estrelas de cinema e exibir seus prodígios pela TV. Dentre outras asnices, ele defende a execução do
Hino Nacional todas as manhãs ― quando as pessoas deverão ficar em pé e colocar a
mão direita no lado esquerdo do peito, como se faz nos EUA ―, diz que não precisa
de coligações com outros partidos nem de tempo na TV, e que, se for eleito, reduzirá o número de ministérios a 15, dobrará o salário dos policiais e o efetivo da
polícia, e por aí vai. Segundo o médico, “em
2018, o Brasil vai ter uma escolha: a mesma merda de sempre ou o Dr. Rey”.
Outra figura bizarra é Guilherme Boulos, líder do MTST, que estuda concorrer
pelo PSOL. É certo que com Lula fora do páreo o chefe dos arruaceiros até
pode dividir votos da patuleia com a deputada estadual gaúcha Manuela D’ávila, do PCdoB. Ou com Marina Silva, a eterna candidata, mas acho que não dá para o cheiro.
Junta-se a esse séquito de desvairados o pseudo cearense Ciro Gomes, que concorreu e perdeu em 1998 e 2002; Cristovam
Buarque, que disputou em 2006; Eymael ― do jingle chiclete “Ey-Ey-Eymael, um democrata cristão” ― e Levy Fidelix ― do “aero trem”. Se fosse de internar todos esses napoleões de hospício, faltariam vagas nos manicômios como faltam celas nas penitenciárias para trancafiar todos os criminosos engravatados deste país
As eleições presidenciais de 2018 se assemelham às de 1989 na quantidade
estapafúrdia de candidatos, mas as similaridades não vão além disso, pois a conjuntura atual é muito diferente. No final dos anos 1980, havia esperança; hoje, o que existe é um pessimismo generalizado das pessoas com com o
sistema político. Isso foi comprovado pelo número de abstenções, votos nulos e em branco nas eleições de 2016, e tudo indica que em outubro a coisa será ainda pior (voltarei a esse assunto oportunamente).
Para Mauro Paulino,
diretor-geral do Datafolha, terá chances de se eleger quem conseguir transmitir soluções para as principais aflições da população
(segurança pública, saúde e estabilidade econômica) e que melhor fizer frente
ao ambiente de rejeição aos políticos em geral, cujo plano de fundo é a
corrupção.
Resta-nos votar com consciência e ver que bicho dá.
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