Muita gente que apoiou Bolsonaro
para evitar a volta do PT se
decepcionou com seu governo. Eu, inclusive. E não sem razão. Embora não
alimentasse esperanças de que um obscuro membro do baixo-clero da Câmara Federal
pudesse se tornar um estadista da noite para o dia, imaginei que sua postura
antipetista e a nomeação do ex-juiz federal Sérgio Moro para a pasta da Justiça e Segurança Pública produziriam efeitos detergentes na corrupção, da mesma que a escolha do Posto Ipiranga reconduziria a Economia
aos trilhos do crescimento.
Isso sem mencionar a promessa de acabar com a reeleição, que se tornou mais uma das muitas falácias de campanha que o candidato eleito largou no pé da rampa do Palácio do Planalto — para ficar no exemplo mais notório, cito a "carta-branca" prometida a Moro e o apoio incondicional a seu pacote de medidas anticrime e anticorrupção, que se tornaram letra morta depois que o "mito" abandonou o discurso original ("se for culpado, deve ser punido") para blindar seu primogênito no "Caso Queiroz".
Isso sem mencionar a promessa de acabar com a reeleição, que se tornou mais uma das muitas falácias de campanha que o candidato eleito largou no pé da rampa do Palácio do Planalto — para ficar no exemplo mais notório, cito a "carta-branca" prometida a Moro e o apoio incondicional a seu pacote de medidas anticrime e anticorrupção, que se tornaram letra morta depois que o "mito" abandonou o discurso original ("se for culpado, deve ser punido") para blindar seu primogênito no "Caso Queiroz".
Em 11 meses de governo, o indômito Capitão Caverna se indispôs
com Deus e o mundo, vituperou ofensas gratuitas a torto e a direito e demitiu assessores
que havia escolhido entre amigos de longa data, conquanto mantivesse no cargo Damares Alves, Abraham Weintraub, o laranjista pesselista Marcelo Álvaro Antônio e outras
aberrações indicadas pelo ex-astrólogo e guru palaciano Olavo de Carvalho. Em vez de governar para todos e, na medida do
possível, contribuir para baixar a fervura da dicotomia que o câncer vermelho fomentou
com seu "nós contra eles", limita-se o presidente a jogar para a plateia, para o nicho que o enxerga como a patuleia desvairada enxerga o
sumo pontífice da seita do inferno.
Às vésperas de completar um ano, este governo cravou com sua maior conquista a aprovação da PEC previdenciária, que só passou graças ao empenho do Legislativo: Bolsonaro não ajudou e ainda fez o que pode para atrapalhar sua tramitação, quiçá para tirar a castanha com a mão do gato, colhendo os frutos da emenda sem associar diretamente sua imagem a uma reforma repudiada pelos brasileiros menos afeitos a raciocinar, sempre abertos às aleivosias do presidiário mais ilustre do Brasil e da caterva de políticos filiados à organização criminosa que ele comenda.
Às vésperas de completar um ano, este governo cravou com sua maior conquista a aprovação da PEC previdenciária, que só passou graças ao empenho do Legislativo: Bolsonaro não ajudou e ainda fez o que pode para atrapalhar sua tramitação, quiçá para tirar a castanha com a mão do gato, colhendo os frutos da emenda sem associar diretamente sua imagem a uma reforma repudiada pelos brasileiros menos afeitos a raciocinar, sempre abertos às aleivosias do presidiário mais ilustre do Brasil e da caterva de políticos filiados à organização criminosa que ele comenda.
Observação: Bolsonaro se revelou uma profícua usina de crises. Sua beligerância inata,
combinada com uma inusitada vocação para ver conspirações e conspiradores em
toda parte e impulsionada tanto pelos primeiros filhos quanto por um ministério
eivado de apaniguados do retrocitado guru de araque lhe garantiu até mesmo uma
denúncia ao Tribunal Penal Internacional,
em Haia, por
incitação ao genocídio de indígenas brasileiros (claro que há muita falácia
por trás disso, mas o fato é que poderíamos dormir sem essa).
Candidatíssimo à reeleição que prometeu extinguir e em pé de
guerra com o cancro vermelho, o intrépido capitão antecipa em dois anos a
campanha eleitoral de 2022, que, por mal dos nossos pecados, deve
se desenrolar sob a absurda polarização político-partidária que tanto mal tem
feito ao país. Na avaliação de Dora
Kramer, transitam pelo espaço eleitoral localizado entre o o presidente e o encantador de burros políticos identificados com correntes do centro à
direita civilizada, entre os quais destacam-se o apresentador global Luciano Huck e o governador João
Doria.
Em público, os artífices da construção daquilo que já esteve
em moda chamar de terceira via dizem que é cedo para falar em nomes e assumir
candidaturas, mas, nos bastidores, atuam com afinco e o fazem com base em um
cenário com os prováveis concorrentes: Bolsonaro,
Fernando Haddad — ou o bonifrate da
vez —, João Amoêdo, Luciano Huck, João Doria e Ciro Gomes.
Rodrigo Maia só entra na lista como
possibilidade para vice.
Os trabalhos do centro (chamemos assim, pois até os
nitidamente de direita recusam constrangidos o título, mesmo se tidos como
“civilizados”) se concentram em Doria
e Huck, o primeiro praticamente
assumido como candidato e o outro ainda encenando indecisão, embora já tenha
dado o o.k. aos adeptos e nos bastidores esteja em plena construção da
empreitada.
O governador e o apresentador estão sentados numa hipotética
gangorra, em que hoje Huck está em
alta e Doria em baixa. Isso se depreende das conversas em que são listados os
atributos de um e de outro. Sobre o governador só se ouvem pontos negativos:
impaciência, deslealdade, discurso radical beirando a intolerância, inabilidade
política. O único destaque positivo seria o fato de “ter” São Paulo. Nesse
aspecto há quem lembre: Geraldo Alckmin
e José Serra também “tinham” São Paulo e perderam duas presidenciais cada um.
A respeito do apresentador há ainda poucas certezas, várias
dúvidas, mas muita esperança, o que acaba por contar a favor dele no balanço da
gangorra. Entre seus ativos são citados obviamente a visibilidade proporcionada
pelo programa na Rede Globo, a
quantidade de seguidores em redes sociais na casa dos quase 50 milhões, o
empenho em ganhar conteúdo em viagens no Brasil e no exterior para conhecer
realidades, projetos e ações bem-sucedidas. Além disso, há o time composto de
dois pilares importantes, Armínio Fraga
na economia e Nizan Guanaes na
comunicação, mais um grupo de aconselhamento formado por políticos experientes
em cujo currículo está a arquitetura da candidatura Fernando Henrique Cardoso na qual o centro se expressou e depois,
no governo, predominou.
Pesquisas internas também fazem os humores pender em favor
de Huck. Doria aparece nelas com índices em torno de 5%, enquanto o
apresentador chega a 16%, com bom grau de aceitação entre os mais pobres e, em
âmbito regional, no Nordeste. Esses dois fatores o tornariam apto a entrar na
base do PT. Um bom capital, mas
ainda tido como insuficiente.
Há desafios a vencer, sendo o principal deles a capacidade
de apresentar uma agenda que fale ao bolso, ao coração e ao bem-estar do
eleitorado. Um discurso que se coadune com as demandas do mundo real, a fim de
que a via alternativa não seja mera representação de equidistância artificial
em relação aos extremos. Para isso, na avaliação dos operadores desse campo, é
preciso fugir da lógica de acerto de contas com o passado, propor o que fazer
daqui em diante entendendo que as pessoas querem emprego, renda e serviços
adequados. No mínimo.
O candidato necessariamente terá de mostrar qualificação
robusta, um dos motivos pelos quais ainda pairam dúvidas sobre a viabilidade
eleitoral de Luciano Huck. E, pelo
timing considerado mais adequado para martelos serem batidos em público, ele
não terá chance de dirimi-las tão cedo. A ideia é que fique distante da eleição
municipal de 2020 e estenda a definição oficial o máximo possível, a fim de não
perder o holofote gigantesco da Globo. Quando seria isso? A partir do segundo
semestre de 2021. Um tempo enorme, ainda mais se levado em conta nosso ritmo de
montanha-russa na política. O quadro, portanto, senhoras e senhores, é o de
hoje devendo ser visto (e talvez anotado) na perspectiva do ponto de partida.