Se realmente o casamento terminar — o próprio Bolsonaro comparou o entrevero a uma "briga de marido e mulher", mas seu comentário fez com que essa divergência doméstica fosse ouvida por toda a vizinhança —, é possível que parte dos parlamentares pesselistas sigam o capitão e migrem para o Patriota — partido do qual nossa usina de crises já foi “pré-filiada” no passado.
Antes da campanha de 2018, o "mito" chegou a ser
apresentado como candidato à Presidência pelo então PEN — Partido Ecológico
Nacional —, que mais adiante trocaria o nome para Patriota. Mas a única ligação entre o então deputado e a sigla foi
uma ficha “pré-datada”, com a filiação marcada para o dia 10 de março de 2018,
assinada por hoje presidente desta banânia, que reconheceu o "noivado"
e a "possibilidade de haver casamento". O romance azedou
porque o capitão queria que Gustavo Bebianno assumisse o comando da campanha e que o
partido desistisse da ação que abrira no STF
contra o entendimento da Corte de permitir prisões de pessoas condenadas em
segunda instância, chegando mesmo a dizer que não queria ficar conhecido por
pertencer a uma partido que “acabou com a Lava-Jato”.
“Fiz das tripas coração para tê-lo com a gente, mudei o nome
do partido, mexi no nosso estatuto, dei mais de 20 diretórios para o grupo
dele. Mas você não pode ser convidado para entrar em uma casa e depois querer tomar
ela inteira para você, expulsando seus moradores originais”, afirmou Adilson
Barroso, dirigente do Patriota. Em
dezembro de 2017, Bolsonaro passou a
negociar com o PSL, e agora, ao que
parece, chegou à fase do "foi bom enquanto durou".
Depois de 11 anos no exército — e de ter sido preso por 15
dias em 1986, após ter escrito um artigo publicado na revista Veja sob o título “O salário está baixo” —, o então capitão passou para reserva e
ingressou na vida pública como vereador (na hipótese de não se eleger, pensou
em trabalhar como limpador de casco de navio, aproveitando o curso de mergulho
que fizera anos antes). Ficou dois anos na Câmara Municipal antes de vencer a
primeira das 7 eleições para deputado federal que disputou. Em seus quase trinta
anos como deputado do baixo clero, passou por 8 partidos (PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP, PSC e PSL), respondeu a
7 processos por quebra do decoro parlamentar, apresentou 172 projetos e foi
relator em 73 deles, mas conseguiu aprovar apenas dois. Foi escolhido
presidente por 57.797.847 dos votos dos 147.305.155 brasileiros aptos a votar (47.040.906
escolheram o bonifrate do presidiário de Curitiba, demonstrando que, além de
ser majoritariamente analfabeto, o eleitorado tupiniquim decididamente não
cultiva o saudável hábito de pensar) graças a sua postura antipetista e à
promessa de travar uma cruzada contra a corrupção na política.
O problema é que desde o ano passado a pecha de político corrupto
pende como a espada de Dâmocles sobre o cocuruto de Flávio Bolsonaro, que até hoje não explicou diversas movimentações
suspeitas em sua conta corrente e em cujo gabinete na Alerj abundam indícios de "rachadinha" (retenção, em
benefício do parlamentar, de parte dos salários dos assessores e funcionários
do gabinete) e de contratação de funcionários-fantasma, tudo sob a regência do
Maestro-Gasparzinho Fabrício Queiroz, cujo paradeiro só a
revista Veja descobriu e, segundo o
presidente, está com a mãe de alguém, só não se sabe de quem.
A exemplo do encantador de jegues preso em Curitiba, Bolsonaro é um populista e, como tal, fascina uma significativa parcela da população — os Bolsomínions, que podem ser definidos como petistas atávicos com sinal trocado —, que parece não ver (ou não se importar) que seu "Messias" tem pés de barro. Afinal, ninguém sobrevive a 27 anos na Câmara Federal se for o baluarte da retidão, o exterminador da corrupção, o inimigo figadal a velha política. O capitão vendeu essa imagem, mas ela começou a derreter quando o MP-RJ começou a apertar o cerco em torno de zero um, e assim foi-se a carta-branca de Moro, suas medidas anticrime e anticorrupção e coisa e tal. Parafraseando o
desembargador Abel Gomes, do TRF-2, em seu voto pela prisão do
ex-presidente Michel Temer, "quem tem rabo de jacaré, couro de jacaré e
boca de jacaré não pode ser um coelho branco".
Como disse Diogo
Mainardi, o presidente está dividido entre o entre o acordão com o STF (e a necessidade de negociar com o
sistema podre) e o impeachment dos ministros do STF (conflito aberto). Depois de devastar sua base eleitoral,
traindo os antigos aliados, Bolsonaro
deve se
acertar com o inimigo, cobrindo-o de regalias. Ao mesmo
tempo, ele reconhece que o eleitorado bolsonarista repudia esse acordão,
sobretudo quando ele é usado para esmagar a Lava-Jato. Para qual lado o mito vai pender? A resposta deve ser
dada em 10 de novembro. A ala do bolsonarismo que defende o conflito aberto contra
o sistema podre vai às ruas. Se até lá o STF já tiver inocentado Lula (anulando o processo do triplex) e
soltado seus comparsas (abolindo o encarceramento em segundo grau), o capitão
poderá tentar recuperar uma parte de seu eleitorado alimentando os protestos.
No Peru, as manobras para abafar a roubalheira da Odebrecht abriram o caminho para o
fechamento do Congresso e o bloqueio do Supremo. Ainda há tempo para evitar que
o mesmo ocorra no Brasil.
Sobrando tempo e havendo interesse, assista ao clipe a seguir, que explica a novela (mais uma) do não ingresso do Brasil na OCDE:
Sobrando tempo e havendo interesse, assista ao clipe a seguir, que explica a novela (mais uma) do não ingresso do Brasil na OCDE: