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terça-feira, 2 de julho de 2019

WINDOWS 10 versão 1903 — DE VOLTA AO UPDATE DE MAIO (CONTINUAÇÃO)


OS FILÓSOFOS VOAM COMO AS ÁGUIAS E NÃO COMO PÁSSAROS PRETOS. AS ÁGUIAS, POR SEREM RARAS, OFERECEM POUCA CHANCE DE SER VISTAS E MUITO MENOS DE SER OUVIDAS; OS PÁSSAROS PRETOS, QUE VOAM EM BANDO, PARAM EM TODOS OS CANTOS, ENCHENDO O CÉU DE GRITOS E RUMORES E TIRANDO O SOSSEGO DO MUNDO.

Como vimos no post anterior, o build 1903 devolveu aos usuários do Windows 10 Home Edition a possibilidade de gerenciar updates. Agora, é possível adiar a instalação dos patches por até 5 semanas — tempo mais que suficiente para a Microsoft sanar eventuais bugs descobertos depois da liberação das atualizações. 

Relembro que em 2015, ao promover o Windows em “serviço”, a Microsoft passou a nos empurrar goela abaixo as atualizações, com a justificativa de que os usuários não se preocupam em manter seus sistemas up-to-date, embora qualquer software esteja sujeito a erros de programação, e, devido ao agigantamento dos sistemas e programas atuais, bugs e brechas de segurança sejam tão inevitáveis quanto a morte e os impostos.

Desenvolvedores responsáveis testem exaustivamente seus produtos, mas é inevitável que alguns problemas sejam descobertos a posteriori, a exemplo do que aconteceu no October Update. Daí as atualizações e correções serem necessárias durante toda a vida útil dos programas. Mas, no caso do famigerado patch de outubro de 2018 (cujas falhas só foram sanadas em dezembro), o número de usuários afetados certamente seria menor se houvesse uma maneira amigável e intuitiva de sobrestar as atualizações. 

Ainda que não devamos fugir das atualizações devido a problemas pontuais, é difícil não perder a paciência quando as aporrinhações deixam de ser exceção e se tornam a regra geral. E todos os updates de conteúdo que a Microsoft criou para o Windows 10 (detalhes na postagem anterior) apresentaram uma ou outra falha, ainda que nenhum tenha causado tenta celeuma quando o malfadado update de outubro. Daí a empresa ter se resignado a devolver aos usuários do Win 10 Home Edition a possibilidade de gerenciar as atualizações. Mas esse não foi o único aprimoramento trazido pelo build 1903, conforme eu já adiantei em outras postagens. Vamos a mais alguns exemplos:       

No menu Configurações, o subitem Solução de Problemas permite que o Windows tente corrigir automaticamente eventuais problemas que comprometam a estabilidade e/ou o funcionamento do computador. Não é exatamente um remédio para todos os males, mas é melhor do que nada. 

O atalho de teclado Win+. (Win” é a tecla com o logo do Windows, “.” é ponto e o “+”, que você não deve pressionar, indica que as teclas <Win> e <.> devem ser pressionadas simultaneamente) abre uma janelinha recheada de emojis (😊, 👍, , 🌹 etc.), que você pode usar para os mais diversos fins.

Na Área de Notificação do sistema — que antigamente era chamada de “bandeja do sistema” —, dê um clique direito sobre o ícone da pequena nuvem (que remete ao OneDrive), clique em Mais e em Configurações para ter acesso a algumas opções interessantes, dentre as quais o backup automático das pastas Documentos, Imagens e Área de Trabalho. Na guia Salvamento Automático, selecione Atualizar pastas e especifique quais pastas devem ser sincronizadas automaticamente. E não deixe de explorar o conteúdo exibido por cada uma das abas, nem de obter mais informações sobre o OneDrive no site da Microsoft.

Um inconvenientes da Área de Transferência do Windows era a incapacidade de reter os itens recortados ou copiados quando outro elemento qualquer era recortado ou copiado em seguida. Essa deficiência foi resolvida em parte pela atualização de conteúdo anterior (edição 1809), que implementou um recurso acessível via atalho Win+V (ou seja, pressionando-se simultaneamente as teclas com o logo do Windows e com a letra “v”). A questão é que o conteúdo armazenado não é preservado quando o computador é reiniciado, a menos que tomemos o cuidado de pinar os itens que desejamos manter. 

Por essas e outras, eu uso e recomendo o CopyQ (detalhes nesta postagem), mas não deixe de clicar em Iniciar > Configurações > Sistema > Área de transferência e ativar a opção Histórico da área de transferência. E se quiser ou precisar acessar arquivos a partir de outro computador, ative também a opção Sincronizar nos dispositivos.

Continua na próxima postagem.

sexta-feira, 28 de junho de 2019

SMARTPHONE NÃO É BOMBRIL, MAS TEM 1001 UTILIDADES


QUE ÉPOCA TERRÍVEL ESTA EM QUE VIVEMOS, ONDE CEGOS DIRIGEM IDIOTAS.

Inicialmente caros, volumosos e desajeitados, os celulares logo se tornaram aparelhos de dimensões reduzidas e prenhes de funções. Mas o pulo do gato se deu mesmo com o lançamento do iPhone, que agregou aos já populares telefones móveis a capacidade de acessar a Internet. A partir daí, os dispositivos foram rebatizados como smartphones (smart = esperto) e se tornaram verdadeiros microcomputadores de bolso, que, graças a uma miríade de aplicativos, passaram a fazer praticamente tudo que os PCs convencionais faziam.

Muitos usuários subutilizam os recursos dos diligentes telefoninhos — que chegam a custar mais do que desktops, laptops ou all-in-ones de boa estirpe e configuração parruda. Com exceção dos modelos mais em conta, os smartphones atuais dispõem de duas câmeras, e basta aos usuários do iPhone instalarem o aplicativo Mobiola para usar uma delas como webcam no seu computador. Mas note que, para funcionar, o app precisa ser instalado tanto no telefone quanto no computador, e que a versão mobile desse app só roda no iOS. Para usuários de aparelhos baseados Android (sistema móvel do Google que está presente em 75% dos smartphones e tablets), existem programinhas equivalentes, como o DroidCam — para mais opções, faça uma busca no Google Play.

Outro recurso ignorado por boa parte dos usuários é a capacidade dos smartphones de digitalizar documentos. As multifuncionais — que substituíram as jurássicas impressoras domésticas — também oferecem esse recurso, mas nem sempre temos um aparelho desses à mão quando precisamos digitalizar um documento, ao passo que o celular está sempre conosco. Demais disso, alguns aplicativos que agregam essa função aos smartphones permitem copiar e colar textos para outros programas, ou mesmo fazer algum tipo de edição. A título de sugestão, cito o TurboScan para iOS e o Droid Scan Lite para Android, mas há outras opções interessantes na App Store ou no Google Play.

domingo, 10 de fevereiro de 2019

AINDA SOBRE LULA LÁ — E QUE FIQUE POR LÁ



Para concluir esta abordagem sobre nosso “caro” presidiário-estrela — cuja hospedagem na PF nos custa R$ 10 mil por dia —, preparei um breve apanhado sobre seus demais processos, cujas penas máximas, se aplicadas, acresceriam 110 anos aos 25 a que ele já foi condenado (pelas penas mínimas, o acréscimo seria de 31 anos, o que já teria potencial para tirar o sono de qualquer um).

Claro que ninguém fica preso por um século no Brasil, e tampouco se espera que um septuagenário tenha um século de vida pela frente. Mas o fato é que neste arremedo de Banânia — que ora atende por “Pátria amada, Brasil”, após ter ostentado orgulhosamente os epítetos “Um país de todos” no governo de Lula, “Pátria educadora” no de Dilma e “Ordem e progresso” no de Temer — é público e notório que o crime compensa, que a polícia prende e a Justiça solta, e que não raro o criminoso deixa a delegacia pela porta da frente antes mesmo de a vítima conseguir registrar a ocorrência. E a coisa é ainda pior nos andares de cima do Judiciário.

Há no Supremo gabinete distribuindo senha para soltar corrupto, sem qualquer forma de direito e numa espécie de ação entre amigos, afirmou o ministro Luís Roberto Barroso, sem dar nomes aos bois, mas numa referência clara a Gilmar Mendes, a quem ele já havia classificado publicamente comouma pessoa horrível, uma mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia“ e acusara de “desmoralizar o Tribunal”.

Falando nisso, o ministro-deus subiu nas tamancas quando Veja revelou que a Receita Federal abriu um procedimento para identificar supostos "focos de corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio ou tráfico de influência", tanto dele quanto de sua mulher, Guiomar Mendes. Além de entrar com uma petição na PGR e na própria Receita, o laxante de toga exigiu do presidente do STF “providências urgentes” para apurar a iniciativa dos auditores fiscais (volto a esse assunto oportunamente).

Deixemos de lado a encarnação de Deus na Terra e voltemos à autodeclarada “alma viva mais honesta da galáxia”, que coleciona processos com potencial para prolongar sua estada na cadeia por um bom tempo. A não ser, naturalmente, que alguma maracutaia o tire de lá pela porta dos fundos, o que não é nada difícil, como comprova a estapafúrdia liminar que o ministro Marco Aurélio publicou minutos depois do início do recesso do Judiciário, em dezembro, com o nítido propósito de favorecer Lula, mas que, por tabela, abria as portas da cadeia para quase 170 mil presos que estão cumprindo penas sem que a condenação tenha transitado em julgado.

Como vimos no post anterior, Lula foi condenado em duas ações criminais. Na do tríplex do Guarujá, que resultou em sua prisão depois que a decisão da primeira instância foi confirmada pelo TRF-4 e a pena aumentada de 9 anos e meio para 12 anos e um mês, a defesa apelou ao STJ, alegando que as decisões do Regional contrariaram diversos dispositivos de leis federais, como a impossibilidade de o processo ser julgado por um juiz que perdeu a isenção. O relator do REsp, ministro Felix Fischer, rejeitou monocraticamente o apelo, alegando que acolhê-lo exigiria o reexame das provas, e que é vetado pela Súmula 7 do STF. Aguarda-se agora a decisão da 5ª Turma do STJ, mas tudo indica que as chances de êxito do petralha são remotas.

No processo sobre o sítio em Atibaia, a juíza substituta Gabriela Hardt condenou Lula a 12 anos e 1 mês de prisão. Horas antes, a defesa havia pedido ao STF que ação deixasse a 13ª Vara Federal do Paraná e fosse enviada a Brasília. Cristiano Zanin e companhia argumentam que, ao determinar que os termos de delação premiada de executivos da Odebrecht fossem enviados a Brasília, a 2ª Turma do Supremo "reafirmou a incompetência" do Juízo de Curitiba para julgar ações relacionadas àquelas informações, e pedem que todas as decisões tomadas pela substituta de Moro sejam anuladas. O pedido foi apresentado dentro de uma reclamação discutida desde maio de 2018 no STF, que está sob a relatoria da ministra Cármen Lúcia. Em outubro, a PGR se manifestou contrariamente à pretensão da defesa, afirmando que os advogados de Lula tentam burlar o processo de Justiça.

Lula se tornou réu pela terceira nas asas da Operação Janus. Segundo a denúncia — aceita pelo juiz Vallisney Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília —, ele teria usado sua influência no BNDES e em outros órgãos para favorecer a Odebrecht em contratos e obras de engenharia em Angola. Em troca, a empreiteira teria pago propina de cerca de R$ 30 milhões.

A quarta vez foi em dezembro de 2016, no âmbito da Zelotes, por suspeitas de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A denúncia — segundo a qual o molusco teria interferido na compra de 36 caças suecos pelo governo brasileiro, além de ter atuado para prorrogar medida provisória que concedia incentivos fiscais a montadoras de veículos — também foi aceita pelo juiz federal Vallisney.

Em setembro de 2017, o juiz Vallisney aceitou mais denúncia do MPF contra Lula, esta por crime de corrupção resultante da participação do ex-presidente na "venda" da medida provisória 471, de 2009, que prorrogou os incentivos fiscais a montadoras instaladas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Nove meses antes, Lula havia se tornado réu pela quinta vez (a terceira na âmbito da Lava-Jato), depois que Moro aceitou a denúncia do MPF por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em contratos firmados entre a Petrobras e a Odebrecht. Segundo os procuradores, sua insolência teria recebido propina da empreiteira por intermédio do ex-ministro Antonio Palocci — que também réu na ação. Parte do dinheiro (R$ 12,4 milhões) teria sido usada na compra de um terreno no qual seria erguida a nova sede do Instituto Lula, e o restante, na compra da cobertura vizinha à de Lula em São Bernardo do Campo (SP). Os autos estão conclusos para sentença, mas o julgamento não deve ficar a cargo da juíza substituta Gabriela Hardt, e sim de Luiz Antônio Bonat — o juiz federal com maior tempo de carreira em toda a jurisdição do TRF-4 —, que assumirá a 13ª Vara Federal em Curitiba e ficará responsável por todos os inquéritos da Lava-Jato no Paraná.

Em 2017, o ministro Fachin enviou à Justiça Federal de Brasília — e o juiz Vallisney aceitou — a denúncia em que Rodrigo Janot acusa Lula e Dilma por formação de quadrilha no esquema que teria coletado propinas de R$ 1,48 bilhão entre 2002 e 2016 (e que ficou conhecido como "quadrilhão do PT"). No mês seguinte, Lula virou réu mais uma vez, desta feita acusado de receber R$ 1 milhão, disfarçado como doação para o Instituto Lula, em troca de favorecer o grupo ARG em negociações com o presidente da Guiné Equatorial. O processo tramita na 2ª Vara Federal de São Paulo, especializada em crimes financeiros e lavagem de dinheiro.

Lula também é investigado por ter sido nomeado por Dilma ministro-chefe da Casa Civil, em março 2016, com o propósito de obter prerrogativa de foro e evitar sua prisão (um mês antes ele fora conduzido coercitivamente para depor à PF na Sala da Presidência do Pavilhão das Autoridades do Aeroporto de Congonhas, na capital paulista). Para fechar a lista, em abril do ano passado Lula foi denunciado pela PGR (juntamente com Antônio PalocciGleisi Hoffmann e o maridão Paulo Bernardo) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Com uma capivara dessas, só acredita que esse pulha é a alma viva mais honesta do Brasil quem, a exemplo dos camarões e dos sectários da seita do inferno, têm os intestinos na cabeça. E viva o PT.  

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

MODO DE LEITURA NO FIREFOX


A INJUSTIÇA QUE SE FAZ A UM É UMA AMEAÇA QUE SE FAZ A TODOS.

O Google Chrome é o navegador mais popular entre os internautas do mundo inteiro, mas o Mozilla Firefox também é muito legal. Aliás, a escolha do navegador, de uns tempos para cá, tem mais a ver com as preferências pessoais do usuário do que a diferenças entre os recursos dos principais programas.

O browser da raposinha é recheado de recursos e funções que a gente não usa por simples desconhecimento. Um deles é o modo de leitura, que remove elementos desnecessários das webpages — tais como botões, anúncios e imagens de fundo — e altera o tamanho, o contraste e a apresentação do texto para aprimorar a legibilidade.

Se uma pagina estiver disponível no modo de leitura, o ícone respectivo aparecerá na barra de endereços (oriente-se pela figura 01 que ilustra esta postagem). Clique nesse ícone, e ele ficará azul, indicando que o recurso está ativo, e repare que uma barra vertical com quatro botões será exibida no canto esquerdo da página (figura 02). O primeiro botão serve para encerrar o modo leitura, o segundo permite ajustar as fontes, e o terceiro — que eu considero a “cereja do bolo” — dá acesso ao modo narração (figura 03).

Clique no ícone do modo narração para abrir os respectivos controles, que são bastante intuitivos: o botão play faz com que o Firefox leia em voz alta o conteúdo da página, os botões avançar e voltar alternam entre os parágrafos e o botão deslizante ajusta a velocidade da leitura e dá acesso a algumas (poucas) opções de voz.

Para que esse recurso funcione, você precisa ativá-lo. Com o navegador aberto na página desejada, clique no menu Exibir (se a barra de menus estiver oculta, pressione a tecla ALT para que ela apareça) e acesse a opção Entrar no leitor (alternativamente, pressione a tecla F9, que produz o mesmo resultado). Se essa opção não for exibida, é porque a página visitada não está disponível para acesso no modo leitura. Enfim, nada é perfeito.

Observação: Claro que você pode contornar esse problema adicionando a (excelente) extensão Read Aloud — abra esta postagem no Firefox e clique aqui para incluir o plugin no seu navegador.

Era isso, pessoal. Espero ter ajudado.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

SOBRE LULA, HADDAD, DILMA, PALOCCI E O COMITÊ DA ONU



Na tarde de ontem, Haddad foi finalmente ungido candidato à presidência. Resta saber quantos dos otários que supostamente votariam em Lula votarão nele, que, segundo levantamento feito pela consultoria Eurasia, tem 60% de chances de passar para o segundo turno e 25% de ganhar a eleição. 

Estrategistas do ora candidato admitem que um dos principais problemas de sua campanha será defender a gestão de Dilma e ao mesmo tempo tentar convencer o mercado de que o PT não adotará a mesma política econômica da gerentona de araque. Mas não é só.

O PT (leia-se Lula) optou (sem trocadilho) por adiar ao máximo a substituição de seu cabeça de chapa e com isso dificultou a vida de Haddad. Em 2010, Lula foi bem-sucedido em transferir votos para Dilma, mas a candidatura foi preparada com dois anos de antecedência e numa época em que o petralha estava solto e gozava de altíssima popularidade. Embora a transferência de votos de uma liderança para seu apadrinhado seja um fenômeno comum na política, resta saber se haverá tempo para isso, pois estamos a menos de 1 mês do primeiro turno e Lula não poderá gravar vídeos abraçando seu poste nem rodar o país com ele a tiracolo. 

Outro complicador é a possível migração de eleitores de Lula para outros candidatos, como Marina e Ciro. Se o cenário apontado pelas sondagens continuar apontando Ciro como mais competitivo no segundo turno contra Bolsonaro, Haddad corre o risco de perder eleitores de esquerda para um possível “voto útil”. Mas tem mais: enquanto o sevandija de Garanhuns explora sua imagem de migrante nordestino e fala a “língua do povão”, seu poste tem trajetória acadêmica e cultiva o hábito de abrir os comícios dizendo para a militância ignara que sua campanha “representa a antítese do status quo”. Desde que entrou para a política, ele disputou duas eleições, ambas para prefeito de São Paulo. E se venceu a primeira, em 2012, graças ao apoio de Lula, não conseguiu se reeleger em 2016, quando o PT vivia o auge de seu desgaste com as denúncias de corrupção na Petrobras e o impeachment de Dilma.

Nenhum candidato entre os mais bem colocados nas pesquisas tem cara de povo (com a possível exceção de Marina, que não tem cara de nada). E enquanto tenta convencer os menos esclarecidos de que sua eleição é o passaporte para “o povo ser feliz de novo”, Haddad terá de driblar os ataques de adversários — vale lembrar que ele é investigado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa e réu num processo que apura fraude na construção de um dos trechos da ciclovia de São Paulo, uma das marcas de sua gestão. Talvez isso não faça grande diferença para o eleitorado de Lula, já que o molusco foi condenado e está preso, mas Lula é Lula e Haddad é Haddad.

Voltando ao demiurgo de Garanhuns: Fachin enviou ao plenário virtual o recurso de sua defesa contra a decisão de negar a suspensão de a condenação no caso do triplex no Guarujá. Isso significa que o agravo será julgado remotamente pelos ministros, que terão sete dias para proferir seus votos. Tramitam ainda no STF, sob a relatoria do decano da Corte, uma petição que busca suspender a decisão do TSE que barrou a candidatura do ex-presidente — o que daria ao PT mais uma semana de prazo para substituir a cabeça de chapa, coisa que, a esta altura, não faz mais sentido — e uma apelação que ataca diretamente o mérito da decisão do TSE. Um quarto recurso da defesa, que se insurge contra a não concessão de um habeas corpus a Lula, já encontra no plenário virtual e deve ter o julgamento concluído até amanhã.

Atualização: Celso de Mello negou o pedido da defesa para suspender a decisão do TSE que rejeitou o registro e barrou a candidatura de Lula à Presidência.

Na última segunda-feira, em novo depoimento ao Ministério Público, o ex-ministro Antonio Palocci reafirmou que “Lula cuidou ‘diretamente’ de pedidos de propina”, que “a descoberta do pré-sal causou um clima de ‘delírio político” no governo”, e que “Lula pediu vantagens indevidas diretamente”. Perguntado se foi a partir da descoberta do pré-sal que o ex-presidente passou a atuar, a testemunha esclareceu que “Lula sempre soube que tinha ilícito e sempre apoiou as iniciativas de financiamento ilícito de campanha, etc. Mas no caso, no pré-sal, ele começou a ter uma atuação pessoal”.

Ainda segundo Palocci, Lula também atuou na obra de Belo Monte e na negociação de compra de caças para as Forças Armadas, chegando a assinar um protocolo com o então presidente francês Nicolas Sarkozi, atropelando uma negociação que vinha sendo conduzida pela área da Defesa e gerando todo tipo de propina. O ex-ministro disse ainda que Dilma, quando chefiou a Casa Civil, agia como Lula: “Ela insistia, inclusive usava muito que era uma ordem do presidente Lula, e fazia reuniões com os fundos na Casa Civil, forçando a barra para que os fundos investissem”. 

Virando a página: na última segunda-feira o Comitê de Direitos Humanos da ONU reafirmou que o Brasil deve garantir a Lula o direito de disputar as eleições, em consonância com sua decisão liminar de 17 de agosto. Assinaram a manifestação Sarah Cleveland e Olivier de Frouville, que foram consultados pela defesa do petista para esclarecer a natureza das medidas provisórias emitidas pelo órgão. No documento, ambos afirmam que a decisão liminar está em vigor até que o mérito do pedido de Lula seja analisado ou o Comitê decida de outra maneira.

Volto a lembrar que tal comitê é formado por especialistas independentes, que monitoram a implementação, pelos Estados partes, dos principais tratados internacionais de direitos humanos adotados pela Assembleia Geral da ONU, mas atuando de forma independente da Organização. Sua decisões são consideradas meras recomendações, e outros governos estrangeiros já as ignoraram em diversas ocasiões — no início do ano, por exemplo, a Espanha não cumpriu decisões desse comitê em relação a políticos catalães que atuaram pela independência da região.

Observação: Mesmo não sendo fã de Jair Bolsonaro, é-me impossível não reconhecer que assiste razão ao candidato quando ele diz que, se for eleito, tirará o Brasil da ONU. Textualmente: “Se eu for presidente, eu saio da ONU. Não serve pra nada essa instituição (...) É um local de reunião de comunistas e gente que não tem qualquer compromisso com a América do Sul”.

É por essas e outras que nossa democracia está descendo pelo ralo. Como bem pontou J.R. Guzzo em mais um artigo lapidar, a democracia no Brasil, se quisermos dizer a verdade em voz alto e sem perder tempo com muito palavrório, está valendo cada vez menos hoje em dia. Sem dúvida, é um arranjo provisório que só fica de pé porque ninguém ainda se organizou para jogar tudo por terra.

Nossa democracia pode estar adulta, como dizem alguns, mas sua idade mental no momento é de 3 anos. Quanto tempo ela ainda resiste até ir para o espaço é difícil dizer. Pode demorar um tanto mais, um tanto menos. Para a maioria dos brasileiros, porém, tanto faz — estão pouco ligando para o assunto, e quando ligam é para torcer contra. Mas os que se dizem democratas ou ganham a vida nos cargos, funções e atividades que a democracia fornece, esses estão contribuindo ao máximo para que tudo vá o mais breve possível para o buraco.

O que põe a existência da nossa democracia cada vez mais em risco é a falta de lógica comum. Como é possível o país ter democracia se, ao mesmo tempo, tem o ministro Edson Fachin, um dos 11 monarcas que do STF? Ou se tem uma coisa ou a outra. Fachin é o que se poderia chamar de insegurança jurídica ambulante — ou seja, o oposto do que um regime democrático precisa. Onde está a lógica?

Dias atrás, num voto no tribunal eleitoral, o ministro passou duas horas inteiras torturando o português, a razão e a lei brasileira com um alarmante teorema em favor da insanidade. Sim, dizia ele, não há nenhuma dúvida legal que o ex-presidente Lula é inelegível. Mas uma força superior, ainda segundo o conspícuo magistrado nos disse, anula a lei nacional. Que força seria essa? Deus? Não: dois sujeitos que fazem parte de um comitê de dezoito consultores da ONU em direitos humanos. Eles não têm nenhum poder funcional — não são a Corte Internacional de Haia, a Agência de Energia Atômica de Viena ou a Assembleia Geral. Não têm existência jurídica. Não julgam nada, nem decidem nada; só dão pareceres, e acharam que Lula tem o direito de se candidatar à Presidência. Mas só dois, entre dezoito, resolveram isso? Só dois. Ouviram os dois lados — os advogados de Lula e o Ministério Público Brasileiro? Não. Só ouviram o lado de Lula. O que decidiram representa uma posição oficial? Não; isso eles só vão dar no ano que vem. Em suma: é uma insânia, e por isso mesmo o tribunal eleitoral negou por 6 a 1 o pedido de Lula.

O espantoso é que tenha havido esse 1 a favor — justamente o voto de Fachin. Nada do que ele disse fez o mais remoto sentido. E se os dois consultores tivessem decidido que o Brasil deveria invadir o Peru, por exemplo, ou restaurar a monarquia? Fachin acha que a gente seria obrigado a obedecer, sob pena de ficar na ilegalidade internacional. Se um ministro da nossa suprema corte defende um troço desses, não é possível ter a menor confiança em nada do que o homem venha a decidir.

Argumentou-se, é claro, que o ministro não é sempre assim; ao contrário, tem votado de maneira sensata. Mas aí é que está o problema: ele pode surtar a qualquer momento, sem avisar ninguém, e dar outro voto igual a esse — e não há absolutamente nada que se possa fazer a respeito. Insegurança jurídica é justamente isso. Fachin tem todo o direito a sua opinião pessoal, mas não desse jeito, da mesma maneira que você não pode dizer: “Na minha opinião a Terra é quadrada”. Isso não é opinião. Nem democracia.

Causa espécie, nessa e noutras histórias similares, a ligeireza com que se aceita o espetáculo do circo pegando fogo. Os ministros se acharam na obrigação de cumprimentar Fachin por seu “brilhante voto”; ele, por sua vez, achou “brilhantes” os votos dos seis colegas que massacraram cada palavra que disse. Todos acharam igualmente “brilhante” a chicana de terceira categoria, amarrada com barbante, que a defesa armou com essa comissão da ONU. Brilhante por que, se é um completo disparate? Tudo isso causa a pior impressão.

Nossos mais altos tribunais de Justiça parecem hoje montepios de ajuda mútua, onde a solidariedade entre os sócios se pratica através da puxação de saco automática e perene. Asinus asinum fricat (Google, pessoal!), poderiam dizer uns aos outros — não são eles que gostam tanto de socar latinório em tudo o que falam, para o público não entender nada? Pois então; eis aí um pouco de latim para verem se está a seu gosto.

O STF é o retrato vivo de uma democracia na UTI. Cada ministro, entre outros espantos, conta com a assistência individual de um “capinha” (salário de até R$ 12 mil por mês, mais horas extras) que lhe puxa a poltrona na hora de sentar à mesa. Pode uma coisa dessas? Nem a Rainha Elizabeth II tem um serviço assim — possivelmente, não existe nada parecido em nenhum outro lugar do mundo. Mas os ministros acham isso normal, como acham normal se autoconcederem um aumento de 16% nos salários diante de uma inflação anual de 4%, bem como seus privilégios materiais, seus dois meses de férias por ano, sua aposentadoria com vencimentos integrais e por aí afora. Isso é simplesmente desigualdade. E como acreditar numa democracia onde a maior corte de justiça vive abertamente com direitos individuais superiores aos dos cidadãos que julgam? Pior: se o Judiciário está assim, imagine-se o resto.

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terça-feira, 11 de setembro de 2018

HADDAD É LULA, LULA É HADDAD E EU SOU O COELHO DA PÁSCOA




A falácia esquerdista d’ “O Povo Feliz de Novo”, cantada em prosa e verso pelo coral de militontos que veem Lula como preso político e acreditam na alegoria da “alma viva mais honesta do Brasil” não torna menos difícil a missão da seita do inferno de convencer o segmento menos ideologizado de seus seguidores de que Andrade, ops, Haddad é uma edição revista e sem barba do Pai dos Pobres, Exterminador do Plural, Parteiro do Brasil Maravilha, Redentor dos Miseráveis e Picareta dos Picaretas.

Lula é Haddad e Haddad é Lula. Essa é a mensagem que o PT tenta passar no horário político obrigatório, não raro descumprindo a decisão do TSE, tanto assim que vários ministros já suspenderam as inserções em que Lula aparece como candidato. No último domingo, o vice-presidente da corte, ministro Luís Roberto Barroso, determinou que a coligação “O Povo Feliz de Novo” deixe de divulgar a candidatura de Lulaem qualquer meio ou peça de propaganda eleitoral, sob pena de suspensão da propaganda eleitoral do PT/PCdoB/Pros, além de proibir Haddad de se apresentar como vice do Lula, Lula-Haddad, estamos com Lula, vamos com Lula ou qualquer outro jogo de palavras publicitariamente voltados a alimentar a ideia de continuidade da candidatura.

Lula é Lula e Haddad é Haddad. O fato de o primeiro ser semianalfabeto e o segundo, bacharel em Direito, mestre em Economia e doutor em Filosofia é uma das inúmeras diferenças entre criador e criatura. Mas a maior de todas talvez seja o carisma: a despeito do mensalão, Lula se reelegeu e deixou o Planalto nos píncaros da popularidade. Haddad, depois de uma gestão medíocre, foi fragorosamente derrotado pelo novato João Doria logo no primeiro turno — algo inédito desde a redemocratização, quando as eleições majoritárias municipais passaram a ter dois turnos. Outra diferença digna de nota é capacidade de comunicação: Lula fala a língua do povão — tanto pela origem humilde quanto pela inescondível falta de instrução de que ele tanto se orgulha. Já Haddad abre comícios dizendo para a militância que sua campanha “representa a antítese do status quo”.

Não surpreende, portanto, que Haddad seja considerado pelo próprio PT como o mais tucano dos petistas, tanto por sua pouca afinidade com movimentos sociais quanto pela declarada admiração por FHC. Mas isso está mudando, diz uma matéria publicada recentemente em Veja.com. Desde que abraçou a ideia de substituir Lula na disputa presidencial, o ex-prefeito vem passando por uma metamorfose — o que também não chega a surpreender, na medida em que, se eleito, precisará do apoio da bancada petista para governar, e a mensagem do partido é clara: na condição de segunda opção de Lula (a primeira era Jaques Wagner, que sabiamente declinou da oferta), o “poste” precisa ter a humildade de se deixar instruir — em outras palavras, qualquer sinal de empenho em um projeto pessoal será visto como traição.

Observação: Por se ter referido a Michel Temer como “golpista” em seus discursos de campanha “a vice” — aliás, eu nunca entendi por que a Justiça Eleitoral permitiu essa estapafúrdia chapa tríplex —, o Haddad levou uma carraspana do presidente: “Quero recomendar a você, quando você e seus companheiros me chamam de golpista e de alguém que fez uma reforma trabalhista que recupera a modernidade do nosso país, eu quero que você leia a Constituição, Haddad. Primeiro, para verificar que na Constituição está escrito que quando um presidente é impedido, o vice constitucionalmente assume”. O emedebista também rebateu as críticas sobre a reforma política — Haddad disse que “Temer destrói o país, corta direitos e conquistas históricas do nosso povo, vende nossas riquezas e entrega nossa soberania” e o presidente, que “não adianta você [Haddad] dizer que nós tiramos direitos dos trabalhadores, porque está na lei maior, ele está na Constituição, ninguém pode tirar direitos dos trabalhadores, como não tirei ao fazer a reforma trabalhista”. Gostemos ou não de Temer, nesse ponto temos de concordar com ele.

Desde o mês passado que Haddad deixou a cargo do PT a elaboração do seu plano de governo, e assim engoliu calado a regulamentação da mídia e do sistema judiciário (com a revisão da lei anticorrupção e da delação premiada) e a revogação da reforma trabalhista aprovada por Temer. Outra mudança visível na postura do quase candidato é a dicção acadêmica, que está sumindo aos poucos. Frases que eram recorrentes no início da eleição começam a vir traduzidas — aquela em que prometia ser a “antítese” do “status quo” virou que ele é “contra o projeto de Temer, que ameaça o Bolsa Família e afeta os mais pobres”). No começo do mês, em visita à Garanhuns, Haddad vestiu chapéu de cangaceiro e andou a cavalo (ou de jegue, não tenho bem certeza); na semana passada, madrugou na porta de montadoras em São Bernardo do Campo, rememorando o roteiro da campanha salarial liderada por Lula em 1978, e de lá seguiu para Diadema (também no ABC paulista), onde discorreu sobre seus feitos como ministro da Educação no governo Lula.

Enquanto Haddad se dedica a esse processo de metamorfose, a defesa de Lula joga as últimas cartadas na tentativa de reverter a inelegibilidade do egun mal despachado. Até porque, antes de ser declarado inelegível, Lula aparecia nas pesquisas com quase 40% das intenções de voto, ao passo que Haddad mal chegava aos 4%. Na primeira pesquisa sem Lula, feita pelo Ibope nos três primeiros dias do horário eleitoral na TV, o “vice” mal chegou a 6%, sinalizando que falta muito para ele herdar o legado do molusco, embora não lhe falte disposição.

Haddad comemorou a fato de Alckmin não ter conseguido angariar votos do PT, mesmo dispondo de mais tempo na propaganda política obrigatória e de uma estratégia direcionada a desconstruir Bolsonaro, que é o maior antagonista do partido. Ainda que o tucano esteja em quarto lugar nas intenções de voto, os petralhas querem minar suas chances de crescimento, pois preferem enfrentar o PSL no segundo turno — Bolsonaro é campeão em rejeição, com 44% na pesquisa Ibope divulgada no último dia 5; em seguida vem Marina (26%), Haddad (23%), Alckmin (22%) e Ciro Gomes (20%).

O fato é que a resistência do PT ao ex-prefeito de São Paulo ainda é considerável. Prova disso é a defesa de Lula ter pedido ao STF que conceda para a troca do candidato e que analise a recomendação do comitê da ONU, dando sinais de que o presidiário quer ir até o final. 

Ontem, dizia-se que Lula havia escrito uma carta para ser lida a militantes petistas, na qual diz que não anunciaria, naquele momento, nenhuma decisão sobre a candidatura do PT ao Planalto. Isso depois de a ministra Rosa Weber ter negado o pedido de efeito suspensivo à decisão do TSE. Segundo O Globo, o núcleo da campanha do PT à Presidência não espera sucesso nos recursos, mesmo com uma nova recomendação do Comitê de Direitos Humanos da ONU dizendo que o Brasil tem o dever de garantir os direitos políticos do ex-presidente. Mas parece que o sevandija de Garanhuns pensou melhor e, a poucos minutos do apito final, acabou autorizando a oficialização da candidatura de Haddad. Mais detalhes amanhã — ou a qualquer momento, em edição extraordinária.

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