Há poucos dias, a bola da vez no
estapafúrdio cenário político tupiniquim era o tão aguardado julgamento da
chapa Dilma-Temer pelo TSE. Agora,
depois que a suspensão do sigilo da Delação
do Fim do Mundo abalou Bangu, digo, abalou Brasília, os holofotes vêm
focando nos depoimentos dos delatores, que, ouvidos da boca dos ditos-cujos,
com direito e episódios de inequívoco escárnio, tornam-se ainda mais
revoltantes. Mas tudo isso já foi coberto em outras postagens, além de estar na
mídia 25 horas por dia, 8 dias por semana, de modo que vamos deixar esse
assunto de lado por alguns minutos e voltar ao processo de cassação da infausta
chapa ― mais um caso típico de “parto da
montanha”, ou, em bom português, de muito
peido e pouca bosta.
A tão aguardada audiência terminou
minutos depois que começou, porque os ministros acharam que seria preciso dar
ainda mais uns dias para os advogados de Dilma
apresentarem sua defesa, e, para garantir que nada aconteça, resolveram que as
partes podem também convocar novas testemunhas ― que sabe Adão e Eva e a Serpente. Enfim, adiaram tudo novamente e o caso,
que ninguém já levava a sério, descambou de vez para a palhaçada.
A assinatura oficial dessa obra de
autoria coletiva que soma esforços de juristas, políticos e partidos ― e que o
jornalista J.R. GUZZO definiu como uma das peças mais notáveis do acervo em
exibição no Museu de Horrores do Estado
brasileiro, com seu Tribunal Superior Eleitoral, os 27 tribunais regionais
e mais de 20.000 funcionários e funções desconhecidas em qualquer democracia
bem sucedida do mundo, onde jamais se julgou necessário criar uma “justiça
eleitoral” para fazer eleições ― é da Justiça Eleitoral, que está examinando
o caso desde o final de 2014.
O “delito” sub judice é um
fenômeno, na medida em que poderia tornar “inelegível” uma chapa que foi eleita
há mais de dois anos, deporia de novo do cargo uma presidanta que já foi
deposta e mandaria para a rua o presidente atual, cujo mandato termina já no
ano que vem. E como se isso não bastasse, o relator da patranha julgou
necessário escrever um relatório de 1032 páginas (!) ― mais que isso, só a
Bíblia.
Mais uma vez, como vem acontecendo
nos últimos 500 anos, “prevaleceu o bom-senso”, como observou um dos marechais
de campo da tropa política de Brasília. E quando a gente ouve uma figura
pública dizer que prevaleceu o bom-senso, podemos ter certeza de que nos estão
batendo a carteira.
O que prevaleceu, mesmo, foi o
interesse de cada um. Ninguém gosta do presidente, ou diz que não gosta, mas
todos querem que ele fique. O PT
finge que está em guerra contra o governo; nas ruas, a militância grita “Fora, Temer”, mas nas conversas para
valer, os chefes do partido dizem “Fica,
Temer”. O PSDB, que começou a ação para anular a chapa Dilma-Temer, reduziu sua cobrança pela metade: como Dilma já foi,
quer que Temer fique. O senador Renan Calheiros, o cangaceiro das
Alagoas, se transformou de vinho em água e todo dia requisita os jornalistas
para dizer-lhes que agora é um homem de oposição, aliado de coração do
ex-presidente Lula e inimigo figadal
de Michel Temer.
Ninguém, enfim, quer o que diz ― nem
o TSE quer julgar coisa alguma. Estão todos pensando, apenas, em como tirar proveito do que pode acontecer em 2018, e em permanecer fora da cadeia até lá. É o Circo Marambaia. E se você não
percebeu quem os políticos, ministros de tribunais, gênios dos partidos etc.
escolheram para fazer o papel de palhaço nesse picadeiro, olhe-se no espelho.
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