Diante do que foi dito no post anterior, o leitor pode até
argumentar que a situação não melhorou. E com razão, pois as coisas não vão
bem. Afinal, o atual presidente é Michel
Temer, e seu governo não passa de um
melancólico terceiro tempo das gestões lulopetistas. Mas é inegável que o
cenário mudou. Quando por mais não seja, 2016 valeu pelo funeral político
dos que mandaram diretamente no Brasil durante mais de uma década, embora muita
gente ― a começar pelas forças que deixaram o governo ― tente vender a ideia de
que nada mudou, buscando levar os brasileiros a acreditar numa coleção cada vez
maior de impossibilidades materiais.
Faz parte desse múltiplo conto do vigário,
por exemplo, a noção de que as pessoas sejam capazes de ficar, ao mesmo tempo,
contra Renan e a favor de Lula. Ou de indignar-se
com Sérgio Cabral e não levar em conta que ele foi um herói
tanto para Lula quanto para Dilma ― homem de
admirável coração, segundo um, ou o melhor governador do país, segundo a outra.
Dentro da mesma sequência de fábulas, espera-se que levem a sério a informação
de que o molusco eneadáctilo continua pobre, mesmo tendo embolsado dezenas de
milhões de reais a título de remuneração por palestras a que ninguém assistiu.
Enquanto se mantém por aí, a contrafação das realidades não
parece destinada a produzir efeito prático algum. O barulho vai continuar, é
claro, até porque é comum as pessoas gritarem mais alto quando percebem que têm
cada vez menos fatos a seu favor. Veja o esforço que fazem os advogados
de Lula para destemperar o juiz Sérgio Moro nas
audiências, usando de linguagem agressiva e sem cabimento, dada a ausência de
argumentos realmente sérios para responder às denúncias feitas contra seu
cliente (até porque é difícil defender o indefensável). Só que negar a verdade
não altera os fatos.
Lula e o PT vivem uma situação
surreal. A despeito de ser hepta-réu (e contando...) e de ter sido sentenciado a
9 anos e meio de prisão, o pulha vermelho continua insistindo na balela de que
é a alma viva mais honesta do Brasil e que tudo que existe contra ele é
fruto de uma descabida perseguição do juiz Sergio Moro. Seus
seguidores, divorciados da realidade e estimulados pelas pesquisas de opinião
pública, ignoram solenemente o fato de que, se houver justiça nesta Banânia, as
condenações que serão impostas a seu amado líder torná-lo-ão inelegível não só
em 2018, mas também nos pleitos subsequentes.
O STF já se posicionou (numa votação
apertada e ainda não concluída) no sentido de que réus em ação penal não podem
ocupar cargos na linha sucessória presidencial (mais detalhes nesta
postagem). Supondo que Lula
chegue mesmo a disputar a concorrer em 2018 e, por absurdo, consiga se eleger ―
com um eleitorado “esclarecido” como o nosso, nada é impossível ―, mais absurdo
ainda seria ele ser empossado, uma vez que, além de colecionar processos, já
foi sentenciado em um deles, e o TRF-4
deve confirmar a sentença de Moro no
primeiro semestre de 2018 ― antes, portanto, das próximas eleições.
Até as pedras portuguesas da Praça dos Três Poderes sabiam
que Lula estava envolvido até o
último fio de barba no mensalão. No
entanto, na época em que o escândalo veio à tona, ventos benfazejos soprados
pelos mercados internacionais enfunavam as velas desta Nau dos Insensatos e
inflavam a popularidade de seu comandante populista, movido a projetos
assistencialistas que, mais adiante, cobrariam seu tributo. Por conta disso, o chefe
da quadrilha foi poupado, embora seus cupinchas ― Dirceu, Genoino, Delúbio, Vaccari e outros mensaleiros petistas do primeiro escalão ― tenham
sido processados, julgados, condenados e encarcerados.
Em 2010, ainda com a popularidade nas alturas, o Redentor dos Miseráveis
escolheu a Estocadora de Vento para
manter aquecida a poltrona presidencial até que ele pudesse voltar a ocupá-la. Para
concorrer a um terceiro mandato consecutivo, seria preciso aprovar uma proposta
de emenda constitucional a toque de caixa, de modo do que sua insolência
preferiu comandar o espetáculo dos bastidores até poder voltar ao picadeiro e lá
se aboletar por pelo menos mais 8 anos. Mas o imprevisto costuma ter voto
decisivo na assembleia dos acontecimentos: a mulher sapiens pegou gosto pelo poder e, mediante o mais escandaloso estelionato eleitoral da nossa
história, conquistou seu segundo mandato ― do qual foi afastada em maio de 2016
e expelida em definitivo 3 meses depois, quando então o vice decorativo passou
de presidente interino a titular, e o resto é história recente (conforme vimos
em detalhes na postagem anterior).
Nesse entretempo, o “o
grande general do petrolão” (na definição do procurador da Lava-Jato Deltan Dallagnol) começou a colecionar
processos. São sete até agora, cujo andamento o Picareta dos Picaretas tenta procrastinar através das recorrentes
chicanas da sua defesa ― capitaneada por Roberto
Teixeira, seu compadre e também réu na Lava-Jato, e Cristiano Zanin ― que vem travando uma verdadeira cruzada (inglória)
nos quase 2 anos de recursos espalhados por todas as instâncias da Justiça. Foram
nada menos de 10 pedidos de suspeição criminal e exceção de incompetência
criminal para afastar o juiz Sérgio Moro
ou tirar os processos da 13ª Vara
Federal de Curitiba (detalhes nesta
matéria).
Continua no próximo capítulo.
Visite minhas comunidades na Rede
.Link: