Quis o destino que Michel
Temer fosse o vice-presidente da Banânia quando o Congresso, num dos raros
serviços úteis que prestou à nação nas últimas décadas, defenestrou a anta
petista do Palácio do Planalto. E assim, junto com a promoção, o peemedebista
herdou um monumental abacaxi, que seus antecessores plantaram em solo arado pelas
máquinas do proselitismo, regaram com as águas da mentira e fertilizaram com o esterco
da corrupção. Descascá-lo seria uma tarefa hercúlea para qualquer político, mas demanda ainda mais esforço de um chefe de governo que carece de
apoio popular, está cercado de amigos e assessores suspeitos ou indiciados no
âmbito da Lava-Jato e vê seu
“ministério de notáveis” ruir como um castelo de cartas e o apoio parlamentar
se esvair mais a cada dia.
Observação: Segundo recente
pesquisa de opinião pública
do CNI/Ibope, a um mês de completar
um ano no governo, Temer amarga uma
rejeição recorde (superior a 70%) e sua administração é considerada ruim ou péssima por por mais
da metade dos entrevistados. Terá de se dar por feliz se conseguir realizar seu
sonho de entrar para a história como “o cara que recolocou o país na trilha do
crescimento”, e olhe lá. Nem mesmo os tímidos ― mas inequívocos ― sinais de
melhora da economia conseguiram mudar essa tendência: inflação recuou, os juros
caíram e o mercado de trabalho começou a se recuperar, mas a popularidade do
presidente continua rolando ladeira abaixo.
Pela patuleia em geral ― e pelos petralhas em particular ―, Temer é tido como “ilegítimo” e tachado de “golpista”,
mas isso é uma asneira monumental. Vamos esquecer por alguns minutos que a
chapa Dilma-Temer está em via de ser
cassada (ainda que, pelo andar da carruagem, a decisão ficará para as calendas
gregas). Se considerarmos legítimos
os resultados do pleito de 2014, tanto a anta vermelha quanto seu vice foram
eleitos democraticamente pelo voto popular ― até porque nossa legislação não permite votar no candidato a presidente
de uma chapa e no vice de outra coligação. Já no que concerne ao suposto
“golpe”, só mesmo uma aberração como Dilma
para insistir nessa versão bastarda do impeachment que lhe cassou o mandato ― o
que ela não perde uma única oportunidade de fazer, no Brasil em dilmês castiço;
no exterior, num portunhol estropiado ou num francês de galinheiro de bordel
oitocentista de segunda classe.
Para os brasileiros de bem e minimamente esclarecidos, depõe
contra Temer o fato de ele ter
presidido o PMDB ― principal partido
da base aliada que deu suporte aos governos petistas, e que se revelou tão corrupto quanto o próprio PT ―,
compactuado por anos a fio com os desmandos da gerentona de araque e se
beneficiado do monumental estelionato eleitoral que lhes garantiu a ambos a
reeleição que, em última análise, quebrou o país. Temer sabe que as chances de reverter esse quadro nos 20 meses que
lhe restam (isso se conseguir chegar ao final do mandato) são as mesmas de o
proverbial camelo bíblico passar pelo buraco da agulha. Por outro lado, isso lhe
permite levar adiante as reformas impopulares sem ter de se preocupar demais em
“jogar para a torcida”.
Mas o tempo urge e a coisa fica mais difícil a cada dia: assombrados
pelo fantasma da Delação do Fim do Mundo,
parlamentares de todos os partidos buscam limitar a ação da Lava-Jato, impor o
voto em lista fechada, anistiar o caixa dois eleitoral e manter sua
prerrogativa para adiar ad kalendas græcas o inevitável acerto de contas com a Justiça Penal ― e isso
significa se reeleger no ano que vem, quando o eleitorado terá
a oportunidade de penabundar os 513 deputados federais e 2/3 dos 81 senadores (mas,
como não tem consciência do poder que o voto lhe garante, boa parte dessa sele
confraria certamente deixará passar in
albis mais essa chance pôr ordem no galinheiro). Assim, é natural
que a aproximação das eleições torne mais arredios os rufiões da pátria e
proxenetas do parlamento. E como se não bastasse a oposição atávica e
irresponsável dos incorrigíveis defensores dos petralhas, Temer vem sendo alvo do “fogo amigo” do próprio PMDB.
Do alto de sua imprestabilidade, colegas de partido do
presidente preferem abandonar o governo a votar as reformas impopulares, a
pretexto de não serem vocacionados a cometer “suicídio político”. A título de
ilustração, um levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo dá conta de que 60% dos 251 deputados
contrários à proposta da reforma da Previdência integram a base aliada do
presidente (os partidos da oposição compõem cerca de 40% dos votos contrários).
No PMDB, partido de Temer, 16 dos 64 deputados afirmaram
que votarão “não” ao projeto. Dentre os tucanos, 18 de 47 se manifestaram
contra. A intenção de melar as reformas com objetivos eminentemente
eleitoreiros se sobrepõe, mais uma vez, aos interesses do país. Até porque, do
jeito que a coisa está, mais alguns anos e a Previdência não terá recursos para
pagar as aposentadorias, pouco importando se os beneficiários já são inativos
ou se tornarão nesse entretempo, seja aos 65, 70 ou 90 anos idade, após 25, 35
ou 100 anos de contribuição. E o mesmo se aplica às igualmente necessárias
reformas da Legislação Trabalhista, Eleitoral, e assim por diante.
Então, meus caros, antes de crucificar o governo e sair às
ruas berrando “Fora Temer”,
informem-se melhor sobre os fatos, sob pena de engrossar as fileiras dos
imbecis, digo, dos inocentes úteis manipulados pela “esquerda baba-ovo” do Comandante Máximo da ORCRIM e outros de
sua laia.
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