terça-feira, 17 de abril de 2018

POBRE DO PAÍS QUE PRECISA DE HERÓIS. SERÁ?



Pobre do país que precisa de heróis, disse Brecht. Eu discordo. O papel de heróis, reais ou mitológicos, é fundamental para forjar uma nação livre e próspera, para servir como um norte, uma liderança que motiva os cidadãos comuns. Penso que o verdadeiro problema não é ter heróis, mas escolher os heróis errados. Se o herói for Macunaíma, aquele sem caráter, ou um ditador como Vargas, ou um bandido como Lula, aí, sim, a sociedade estará em perigo.

Se Lula foi o herói de muitos por algum tempo, hoje só lhe restou o apoio de uma militância desesperada com o risco de perder suas boquinhas, ou daqueles muito alienados, que encaram o PT como uma seita religiosa.

O verdadeiro herói brasileiro, hoje, é o juiz Sergio Moro, como deixa claro a recepção que ele tem por onde passa. Pude testemunhar isso bem de perto no Fórum da Liberdade, em Porto Alegre.

Moro foi ovacionado de pé por uma multidão, tratado ― merecidamente ― como um ídolo de rock. É fato que, como lembrou o juiz italiano que liderou a Operação Mãos-Limpas, feliz é o país que não precisa aplaudir tanto um magistrado que “simplesmente” cumpre sua função. Nesse sentido, a frase de Brecht pode até se aplicar: o ideal seria não precisarmos desses heróis. Mas no mundo real, o buraco é mais embaixo, pois “cumprir sua função”, no caso, significa declarar guerra a uma quadrilha poderosa e perigosa, envolve riscos pessoais, demanda mudanças radicais no estilo de vida ― como andar cercado de seguranças e temer pela segurança dos filhos.

Agir com retidão e firmeza apesar de tantos obstáculos e ameaças requer coragem e patriotismo ― algo de que poucos são capazes, e que não pode ser diminuído por filmes que tentam retratar tudo como pura vaidade pessoal. É fácil falar quando é o dos outros que está na reta. Todos que conhecem o modus operandi dessas máfias, em especial do PT, sabem perfeitamente que comprar essa briga não é para fracos ou covardes.

Claro que todo herói real, de carne e osso, tem suas falhas. Por isso é mais seguro ter os míticos, como um Batman. Os do mundo real, humanos que são, sempre podem escorregar. Mas até agora Moro tem demonstrado humildade e mantido um saudável distanciamento de qualquer pretensão política, o que só lhe agrega valor. 

Seu reconhecimento pelo público é justo. O Brasil estava mesmo precisando de um herói decente…

Texto de Rodrigo Constantinopublicado originalmente em IstoÉ

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