domingo, 10 de junho de 2018

ISTO É BRASIL ― TEM JEITO NÃO



Na última quinta-feira, o STF deu início ao julgamento de duas ações — uma do PT e outra do Conselho Federal da OAB — contra a condução coercitiva de investigados para a realização de interrogatórios. Esse procedimento vinha sendo largamente utilizado em investigações da PF até o final do ano passado, quando o ministro Gilmar Mendes o proibiu através de uma liminar monocrática. Como toda ação produz uma ração, o número de prisões temporárias cresceu 31,75% nos primeiros quatro meses de 2018 (em relação ao mesmo período do ano anterior). 

Voltando à sessão de quinta feira: depois que o ministro-deus proferiu seu interminável voto contra as conduções coercitivas, a sessão foi suspensa — dado o “avançado da hora” e a compromissos que diversos ministros já tinham agendado para aquela noite, o julgamento será retomado na sessão plenária do próximo dia 13. Não foi a primeira vez (e certamente não será a última) que decisões importantes são adiadas devido ao horário e a outros compromissos dos ministros, que, nunca é demais lembrar, são regiamente pagos para exercer suas funções na nossa mais alta Corte. Um exemplo notório foi a inesquecível sessão em que se decidiu que a corte poderia decidir o pedido de habeas corpus preventivo do sevandija de Garanhuns, mas em seguida decidiu não decidir, achando pouco razoável trabalhar um dia até depois da meia-noite, mas completamente aceitável que time da toga aproveite a Páscoa para inventar de um feriadão de quase duas semanas. Isso é Brasil, minha gente!

Voltando a Gilmar Mendes, nunca é demais relembrar as definições (lapidares) de Luis Roberto Barroso, para quem o colega é uma mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia, ou de J.R. Guzzo, que define o ministro como uma fotografia ambulante do subdesenvolvimento brasileiro, mais um na multidão de altas autoridades que constroem todos os dias o fracasso do país. E não sem razão. Senão vejamos.

O mês de junho começou do mesmo jeito que maio terminou, isto é, com o laxante de toga soltando presos ligados de alguma forma à Lava-Jato. Na última segunda-feira, foram libertados quatro doleiros presos pela PF na operação Câmbio, desligo — desdobramento da Lava-Jato deflagrado em maio, que apura a atuação de doleiros na movimentação de 1,6 bilhão de dólares em 52 países. 
Para embasar a soltura, o superministro argumentou que “os crimes foram praticados sem violência ou grave ameaça, e que a prisão preventiva não pode ser justificada para tentar assegurar a recuperação dos desvios, já que eles poderiam ser movimentados mesmo com os suspeitos presos”.

Desde 15 de maio, o "soltador-geral da República" já libertou 19 investigados que haviam sido presos por determinação do juiz federal Marcelo Bretas ― que é o responsável pela Lava-Jato no Rio de Janeiro e, pasmem, admirador confesso do molusco abjeto (isso é Brasil, minha gente!). A recorrência dos episódios levou o magistrado a encaminhar ofício ao ministro, afirmando que “a corrupção não pode ser vista como um crime menor”.

A soltura de Orlando Diniz, ex-presidente da Fecomércio do Rio, revela duas críticas contumazes à ação de Gilmar Mendes. Uma delas é soltar presos com quem ele mantém alguma relação pessoal ou profissional — Diniz patrocinou o instituto de direito criado pelo ministro. No ano passado, ganhou destaque na mídia o episódio em que, sem o menor constrangimento, o catártico togado mandou evacuar, digo, soltar — e não uma, mas três vezes — o empresário fluminense Jacob Barata, de cuja filha o notável jurista foi padrinho de casamento. Também libertou presos em processos que não necessariamente seriam de sua competência, como Paulo Preto, ex-diretor da Dersa, e não apenas uma, mas duas vezes — eu já ouvi falar de criminoso reincidente, mas juiz reincidente? Isto é Brasil, minha gente! (A rima foi involuntária).

A atuação do ilustre magistrado vem suscitando críticas dentro e fora do STF. Só no ano passado, sua insolência foi alvo de seis pedidos de impeachment ― dois dos quais foram arquivados pelo senador Estrupício Oliveira antes mesmo de terem qualquer tramitação. O último, apresentado no dia 22 de dezembro, foi embasado num abaixo-assinado virtual com 1,7 milhão de apoios e fundamentado na conduta incompatível de Mendes com a honra, a dignidade e o decoro de suas funções. No mês passado, mais um pedido de impedimento entrou para sua coleção, desta feita por iniciativa do renomado jurista Modesto Carvalhosa.

Gilmar Mendes não se abala; antes pelo contrário: segue soltando gente da pior catadura, a exemplo do doleiro Antônio Cláudio Albernaz Cordeiro, libertado no último dia 5, a despeito de ter admitido à PF que funcionava como uma espécie de caixa de dinheiro vivo para propinas da Odebrecht no Rio Grande do Sul (depoimento no inquérito que investiga esquema de propinas envolvendo delatores e o ministro da Casa Civil, Eliseu Quadrilha, conhecido como Bicuíra pelo departamento de propina da empreiteira). A pergunta que não quer calar é: quem será o próximo?

Segundo O SENSACIONALISTA, Mendes é o padroeiro dos encarcerados, o desatador de nós daqueles que anseiam pela liberdade, o protetor dos falsos arrependidos. O ministro destronou todos os santos dos presidiários da Papuda; até as imagens de Jesus foram trocadas por suas fotos de toga, o que combina mais com pessoas religiosas e de bem. Afinal, a grande capa preta cobre mais do corpo que os minúsculos panos do Nazareno. O Pai-Nosso aos poucos também é substituído por orações a Gilmar, embora nem sempre se respeite o português correto. "Venha a nós o vosso habeas corpus, seja feita vossa vontade, assina os pedido e solta os réu".

Para concluir, mais uma patuscada da quadrilha vermelha: nesta sexta-feira, sob o comando da senadora-ré Gleisi Hoffmann, o PT lançou a candidatura do criminoso de Garanhuns ao som de um jingle enjoadinho. A “solenidade” se deu em Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do Brasil, onde, segundo as pesquisas de intenções de voto, Dilma e Aécio (!?) são os nomes mais cotados para o Senado (depois os políticos reclamam quando ouvem dizer que o Congresso se tornou um antro de criminosos). 

Ao divulgar a peça, o PT diz: “O povo brasileiro nunca sofreu tanto quanto agora e só há uma pessoa que pode acabar com a tristeza do povo: Luiz Inácio Lula da Silva”. O vídeo termina com fala bastante repetida pelo Exterminador do Plural em seus discursos: “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mais jamais vão conseguir deter a chegada da primavera”. Resta saber se Gleisi já decidiu se a nova sede do governo federal será o Palácio de Pinhais ou o Presídio do Planalto.

Cá entre nós, é uma palhaçada essa nossa “Justiça Eleitoral” ficar cozinhando o galo para exaltar o óbvio. Até porque não se trata de uma questão de alta indagação jurídica, mas de puro bom senso. Afinal, como conceber a possibilidade de um criminoso condenado e encarcerado (e com mais seis ações penais nas contas) concorrer à presidência da República? Só mesmo neste projeto mal-acabado de democracia mambembe ― que o PT só faltou rebatizar de BRASUELA! Vade retro, Satanás!

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