sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

A RÚSSIA E A INTERNET

O QUE SABEMOS, SABER QUE O SABEMOS. AQUILO QUE NÃO SABEMOS, SABER QUE NÃO O SABEMOS: EIS O VERDADEIRO SABER.

Vimos no post anterior que Vladimir Putin continua usando o jurássico Windows XP, a despeito de a Microsoft ter suspendido as vendas dessa edição em outubro de 2010 e deixado de lhe oferecer suporte em abril de 2014.

Brasil e Rússia têm em comum o fato de participarem do BRICS e serem governados por presidentes que, ao que parece, mantêm ocas suas digníssimas cabeças a poder de Manitol ou outro poderoso laxante que tal. Felizmente, as semelhanças param por aí: Putin foi eleito em 2018 para seu 4º mandato consecutivo, ao passo que no Brasil a reeleição do Presidente da Republica só é possível uma vez, embora o dito-cujo possa disputar novamente o cargo depois de quatro anos contados a partir do final do mandato para o qual foi reeleito.

Um dos méritos da Constituição Cidadã, promulgada em 1988, foi elidir a reeleição para chefes do Executivo municipal, estadual e federal. Lamentavelmente, a Carta foi alterada na gestão de FHC, que entrou para a história como o presidente eleito pelo voto direto após a redemocratização a se beneficiar dessa emeda — que, aliás, ele próprio promulgou, abrindo as portas para o ímprobo demiurgo de Garanhuns e sua incompetente sucessora seguirem o mesmo caminho.

Além das promessas de dar carta branca ao ministro Sérgio Moro e de combater implacavelmente a corrupção e punir os corruptos, Jair Bolsonaro largou no pé da rampa do Palácio outras importantes bandeiras de campanha, dentre as quais o fim da reeleição, e antes mesmo de completar um ano no cargo declarou-se candidatíssimo a um segundo mandato, tendo afirmado mais de uma vez que foi eleito para "cumprir uma missão divina". A meu ver, isso é caso de internação, mas o médico mandou não contrariar, de modo que vamos deixar por menos.

Ter um doidivanas no Palácio do Planalto é um problema, mas a coisa poderia ser pior.  Na Rússia, o parlamento aprovou uma lei que proíbe a venda de equipamentos eletrônicos, incluindo smartphones, computadores e Smart TVs que não tenham software russo pré-instalado, sob pena de multa de até 200 mil Rublos (cerca de R$ 13 mil) e banimento do fabricante em caso de reincidência. Regime mais democrático que esse, só mesmo na Venezuela de Maduro e na cabeça oca da ex-senadora e presidente nacional do PT — codinome “Coxa” e “Amante” —, que foi devidamente rebaixada, nas últimas eleições, a deputada federal.

"O projeto fornece às empresas russas mecanismos legais para promover seus programas e serviços no campo da tecnologia da informação para usuários russos", afirmou a câmara baixa da Assembleia Federal da Rússia. "Além disso, a medida protegerá os interesses das empresas russas de internet, o que reduzirá o número de abusos cometidos por grandes empresas estrangeiras que trabalham no campo da tecnologia da informação".

A lei ainda deve ser submetida ao Conselho da Federação, que equivale ao nosso Senado, e sancionada pelo presidente Vladimir Putin, que, no afã de controlar o acesso à internet dentro das fronteiras russas e após reclamar que a Wikipedia não é confiável, determinou a construção de um novo site para a "Grande Enciclopédia Russa".

O governo russo tem uma relação conflituosa com a Wikipedia há algum tempo. Em 2015, o site inteiro foi bloqueado por causa de um artigo que continha informações sobre a maconha. Para tal atitude, foi levada em consideração uma lei russa que bane sites com material relacionado às drogas. O projeto visa oferecer “informação confiável”, e deverá ser constantemente atualizado com base em fontes de conhecimento científico do país. O desenvolvimento do portal terá um custo de R$ 130 milhões.

Quer mais? Então vamos lá: o governo russo criou uma lei que permite desconectar a Rússia da rede mundial de computadores. A norma depende apenas da sanção presidencial para entrar em vigor, e a desconexão teria como finalidade evitar ataques cibernéticos vindos dos EUA e de seus aliados capitalistas.

Em alguns países, a conexão com a Rede Mundial de Computadores é provida por um único cabo de comunicação, e bastaria rompê-lo para suprimir a conectividade do país inteiro. Não é o caso da Rússia, cuja extensão territorial exige muito mais que um cabo ligando-a à Web, o que dificulta a desconexão tanto por um ataque terrorista quanto pelo próprio governo russo. Existem registros de países que tiveram a internet completamente cortada como forma de censura a movimentos de protesto — prática recorrente durante o período que ficou conhecido como “Primavera Árabe”, quando a Síria e o Egito viram grandes manifestações políticas e seus governantes chegaram a desativar a internet para tentar desmobilizar a população. No entanto, esses países possuem infraestrutura precária e controlada de internet, o que simplifica o desligamento do resto do globo. O Brasil chegou a discutir o isolamento da World Wide Web em 2013, durante o primeiro mandato da anta sacripanta, na época do escândalo de espionagem revelado por Edward Snowden, mas a ideia, estapafúrdia como tudo que se refere a Dilma Vana Rousseff, não seguiu adiante.

Talvez a China seja o melhor exemplo de internet controlada pelo governo, mas nem ela foi tão longe quanto a Rússia em sua proposta de se isolar completamente da rede global. A vantagem da China, nesse caso, é que o controle governamental foi implementado no país desde o princípio da internet, o que permitiu criar mecanismos de restrição mais eficientes. Na Rússia, bloqueio tende a ser mais caro e trabalhoso, mas Putin não dá detalhes sobre como ele seria realizado. Ao que tudo indica, boa parte do plano ainda está no ar, o que explica a necessidade de experimentos para determinar o que será preciso para colocar a ideia em prática se e quando for “para valer”. 

Sabe-se que as ordens são direcionadas às operadoras, que devem passar a bloquear IPs externos, impedindo a conclusão de qualquer requisição. Na prática, um cidadão russo não poderia acessar o Facebook, por exemplo, porque o site é hospedado fora do país, da mesma forma que alguém de fora seria incapaz de acessar os serviços hospedados na Rússia. Uma parte do projeto do governo russo é direcionar para gateways controlados pelo próprio governo todo o tráfego digital que entra e sai do país, aumentando a centralização da internet e facilitando o desligamento em caso de ataque. Não à toa, as operadoras locais esperam ser ressarcidas pelo Estado para a implementação dessa infraestrutura.

Sabe-se também que a Rússia estabeleceu seu próprio servidor DNS, torando-se independente de organizações externas. Para quem não se lembra, o servidor DNS é responsável por converter o URL digitado na barra de endereços do navegador (por exemplo: www.fernandomelis.blogspot.com) em um número de IP que permite a comunicação entre o computador e o servidor. Se a Rússia se desligasse da internet mundial sem seu próprio servidor de DNS de backup, a conversão deixaria de ser automática, exigindo que os internautas russos digitassem os números de IP na barra de endereços.

Com informações do site Olhar Digital