A
CRUELDADE MÁXIMA DA VIDA É NOS DEIXAR PROVAR DA VITALIDADE DA JUVENTUDE E,
DEPOIS, NOS FAZER TESTEMUNHAR NOSSA PRÓPRIA DECADÊNCIA.
Quando o volume de água despejado por um temporal ultrapassa a capacidade de absorção do solo (que a impermeabilização dos logradouros torna cada vez menor) e de drenagem das galerias pluviais (quase sempre obstruídas por dejetos de toda espécie, já que o povo descarta o lixo de maneira inadequada), os alagamentos são inevitáveis. E carros de passeio não são veículos anfíbios
A menos que você tenha um Jet Ski ou um submarino, evite trafegar por locais que alagam ao menor sinal de temporal. Mas se cair um dilúvio justamente quando você estiver na "Baixada do Deus-me-livre", suba a primeira ladeira que encontrar, entre com o carro num posto de combustíveis ou no estacionamento (coberto) de um supermercado ou shopping center, por exemplo, e fique lá até o temporal passar e o nível da água baixar. Há situações, porém, em que é preciso enfrentar o alagamento. Nesses casos, siga as dicas da postagem anterior e “fé em Deus e pé na tábua”, como dizia meu finado pai.
Observação: “Pé na tábua” é força de expressão, pois
deve-se atravessar o alagamento em
primeira marcha e com velocidade reduzida. Mas convém manter a rotação do
motor por volta de 2.000 RPM, de modo a evitar que ele morra durante a
travessia. Se o câmbio for manual,
pressionar parcialmente o pedal da embreagem enquanto acelera mantém o giro
elevado e a velocidade sob controle. Nos automáticos
e automatizados, coloque a
alavanca seletora na posição 1, de modo que a transmissão permaneça na primeira
marcha, e dose a aceleração, pois nesse caso não há pedal de embreagem e você
não terá como elevar o giro do motor sem que as rodas motrizes respondam na
mesma medida.
Inicie a travessia somente depois que o carro da frente tiver terminado de passar, mas evite fazê-lo se outro veículo vier no sentido contrário, pois as ondas que ele certamente irá produzir potencializarão o risco de o motor do seu carro morrer — ou mesmo de ser danificado pelo famigerado “calço hidráulico” (detalhes mais adiante).
Inicie a travessia somente depois que o carro da frente tiver terminado de passar, mas evite fazê-lo se outro veículo vier no sentido contrário, pois as ondas que ele certamente irá produzir potencializarão o risco de o motor do seu carro morrer — ou mesmo de ser danificado pelo famigerado “calço hidráulico” (detalhes mais adiante).
Vale relembrar que um motor de ciclo Otto gera torque e
potência a partir da compressão e subsequente combustão de uma mistura de ar e
combustível. Para entender isso melhor, reveja
este resumo. Tenha em mente que o ar captado da atmosfera
passa por um filtro que bloqueia partículas de poeira, insetos e outros
detritos, mas não impede a passagem de água. Além disso, é difícil
avaliar visualmente a profundidade do alagamento (sobretudo com água barrenta),
sem falar no risco de você se deparar com obstáculos submersos (buracos,
pedras, galhos de árvores, bueiros sem tampa etc.).
Em tese, seguir pelo meio da pista é mais seguro do que
trafegar próximo ao meio fio, mas, de novo, não dê início à travessia se houver
outro veículo à frente, ao lado, ou vindo no sentido contrário, pois isso
potencializa o risco de o motor “morrer” no meio do caminho e ser danificado
pelo famigerado calço hidráulico —
fenômeno que decorre da entrada de água na câmara de combustão.
Quando o motor aspira água juntamente com o ar, essa água
não só impede a queima da mistura como submete os pistões a um esforço para o
qual eles não foram dimensionados (ao contrário dos gases, os líquidos não são
compressíveis), resultando no entortamento das bielas (hastes metálicas que
ligam os êmbolos ao virabrequim) e consequente travamento do motor.
Observação: Para
ter uma ideia da resistência da água à compressão, encha uma garrafa até o
gargalo e tente fechá-la com uma rolha. Por mais que você force, a rolha não
vai entrar; se você aumentar muito a pressão (batendo na rolha com um martelo,
por exemplo), o vidro vai ceder e a garrafa, espatifar.
Se o veículo ficar submerso e o motor morrer, ou se estiver
estacionado e for apanhado pela inundação, existe o risco de calço hidráulico
por conta da água que entra pelo cano de descarga ou que é “sugada” pelo
sistema de admissão — de novo: com o motor girando a cerca de 2.000 RPM, a
expulsão dos gases impede a entrada de água pelo escapamento, mas não evita que
ela entre pelo sistema de admissão se o alagamento for muito profundo. É por
isso que jipes, picapes e outros veículos projetados para uso off-road severo,
além de ter o cano de descarga posicionado verticalmente, têm o sistema de
captação de ar elevado, próximo ao teto (o chamado snorkel), o que lhe permite atravessar córregos, riachos e trechos
alagados sem maiores problemas (dentro de certos limites, naturalmente).
Assim, se o motor “apagar” no meio da travessia, não tente
religá-lo, seja virando a chave, seja tentando fazê-lo pagar “no tranco”.
Coloque a transmissão em ponto morto (ou na posição N, nos automáticos e automatizados) e empurre o veículo para fora
da água. Se você tiver um mínimo de habilidade manual — e dispuser das
ferramentas necessárias —, retire as velas de ignição e dê a partida — sem as
velas, não haverá compressão, mas o movimento dos pistões expulsará a água do
interior dos cilindros.
Supondo que os componentes do sistema eletrônico de injeção não tenham sido afetados, basta você reinstalar as velas, reconectar os cabos e dar a partida para o motor voltar a funcionar. Mas o mais recomendável é chamar um guincho para rebocar o carro até uma oficina confiável, onde o mecânico fará um exame detalhado.
Supondo que os componentes do sistema eletrônico de injeção não tenham sido afetados, basta você reinstalar as velas, reconectar os cabos e dar a partida para o motor voltar a funcionar. Mas o mais recomendável é chamar um guincho para rebocar o carro até uma oficina confiável, onde o mecânico fará um exame detalhado.
Boa sorte.