sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

TECNOLOGIA, GAMBIARRAS BIZARRAS ETC. — FINAL


A VERDADE PODE CONTRARIAR PRECEITOS PROFUNDAMENTE ENRAIZADOS E NÃO COADUNAR COM O QUE QUEREMOS DESESPERADAMENTE QUE SEJA VERDADE, ATÉ PORQUE NÃO SÃO NOSSAS PREFERÊNCIAS QUE DETERMINAM O QUE É OU NÃO VERDADE. 

Para fechar esta sequência, relembro que até não muito tempo atrás as chamadas geradas a partir de telefones celulares eram tarifadas conforme sua duração, e o preço do minuto de ligação era assustador. Então, para fidelizar a clientela, as operadoras resolveram praticar preços diferenciados para chamadas realizadas dentro de suas próprias redes, que, em alguns planos, chegavam a ter custo zero.

Somadas à redução no preço dos aparelhos, essas promoções levaram muita gente a andar com dois ou três telefones com chips de operadoras diferentes. Na hora de fazer uma ligação, usava-se a linha da mesma operadora a que pertencia o número que se pretendia chamar (para dar nomes aos bois, bastava consultar a Abr Telecom, a Qual Operadora? ou outra página da Web que fornecesse esse tipo de informação).

Mais adiante, aparelhos com slots para dois, três ou mesmo quatro SIM-Cards facilitaram a vida dos usuários, mas eles se tornaram desnecessários após o advento de planos com ligações ilimitadas, inclusive para terminais fixos e números de qualquer operadora. Por outro lado, alguns smartphones permitem usar os slots adicionais para expandir o espaço de armazenamento interno mediante a inserção de SD-Cards (cartões de memória flash).

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World Wide Web (daí a sigla “www”) surgiu nos anos 1960 como um projeto militar (batizado de ARPANET) que visava descentralizar o armazenamento de informações vitais para o Departamento de Defesa dos EUA, e, com o fim da guerra fria, passou a ser usada por órgãos governamentais, universidades e grandes corporações. Mas seu potencial para fins comerciais não demorou a ser vislumbrado e, em meados dos anos 1990, o número crescente de internautas domésticos fez com que a placa de fax-modem e o browser se tornassem indispensáveis em qualquer computador.

Os browsers (ou navegadores de Internet) surgiram em 1991, mas o Netscape Navigator, lançado em 1994, foi o primeiro a exibir textos e imagens postadas em websites. Depois de fazer um sucesso estrondoso, ele foi desbancado pelo Internet Explorer 4, que se tornou extremamente popular porque a Microsoft o transformou em componente nativo do Windows.

O IE reinou absoluto até meados de 2012, quando foi destronado não pelo arquirrival Firefox, da Fundação Mozilla, mas pelo Google Chrome, que desde então é preferido pelos internautas do mundo inteiro. A Microsoft vem tentando recuperar o espaço perdido com o Edge, lançado em conjunto com o Windows 10, mas até agora o browser conquistou míseros 2% dos usuários.

Até poucos anos atrás, a maioria dos internautas tupiniquins acessava a Web via conexão discada (rede dial-up), que era provida por um modem analógico, cuja velocidade máxima (teórica) era de 56,6 quilobits por segundo, mas na prática dificilmente ia além de 48 kbps. O acesso dependia diretamente da linha telefônica, que não podia ser usada concomitantemente em ligações convencionais, sem mencionar que a conexão caía a todo instante e às vezes dava canseira para ser refeita. Como a ligação do modem para o provedor era tarifada do mesmo jeito que as chamadas de voz (um pulso quando a ligação era completada e pulsos adicionais a cada 6 segundos), a conta do telefone podia causar infarto em quem tinha problemas de coração. Na sequência, surgiram os planos de banda larga — com velocidades (nominais) entre 128 e 256 kbps —, que deixavam a linha livre para chamadas por voz. O problema é que eles custavam caro e eram restritos a algumas regiões da cidade (isso nas capitais de estados e grandes metrópoles, no interiorzão, nem pensar).

Para gerenciar emails, atualizar o sistema ou garimpar novas versões dos aplicativos nos sites dos fabricantes — coisa que demandava tempo, sobretudo devido à baixa velocidade de conexão — os internautas varavam as madrugadas (depois da meia-noite, a tarifação era diferenciada) ou deixavam para fazer nos finais de semana (a partir das 14h00 do sábado e até as 6h00 da segunda-feira subsequente era cobrado um pulso por chamada, independentemente de sua duração). Como o trafego aumentava significativamente nesses dias e horários, amargava-se ainda mais lentidão, e as quedas eram constantes, mas sobrevivia-se sem grandes sobressaltos à apresentação da conta do telefone.

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Por último, mas não menos interessante, quando os primeiros roteadores Wi-Fi chegaram ao Brasil, internautas que se ressentiam do alcance limitado do sinal potencializavam-no envolvendo as antenas do dispositivo em papel laminado ou em latinhas de cerveja/refrigerante (deixava-se apenas um dos lados abertos, para direcionar o sinal da rede). Apesar de ser rudimentar, essa solução funcionava, pois o alumínio das latinhas reflete as ondas do roteador, concentrando o sinal em determinadas direções. Com a evolução dos dispositivos, no entanto, isso deixou de fazer sentido (até porque roteadores de última geração sequer tem antenas externas direcionáveis).