sexta-feira, 6 de março de 2020

CORONAVÍRUS, MERCADO EM PÂNICO E OUTRAS DESGRAÇAS



Minha intenção (com a devida vênia do ministro da Educação, que teria grafado a palavra com “ç”, mudando seu significado de “intuito” para “aumento de tensão”) era explorar melhor o assunto que mencionei de passagem no final do post anterior, notadamente sobre o que se espera da gestão do ministro Luiz Fux à frente do STF (ele deve suceder a Toffoli na presidência da Corte em 24 de setembro deste ano). Mas isso vai ter de ficar para outra oportunidade (quem sabe no final desta semana, se nenhuma outra catástrofe se sobrepuser em importância às que já estão em curso, no Brasil e pelo mundo afora).

Assim, vi-me obrigado a dedicar mais algumas linhas à COVID-19 (nome oficial da doença provocada pelo vírus SARS-CoV-2), que levou a Bovespa a despencar novamente: o índice B3 chegou a registrar queda de 6% e fechou aos 102.796 pontos (uma baixa ainda bastante significativa, de 4,13%), a despeito dos estímulos promovidos pelos bancos centrais das maiores economias do mundo.

O mercado está muito sensível às notícias porque os investidores não têm como precificar o alastramento da doença. O índice VIX, conhecido como índice do medo, chegou a 30%, o que implica uma oscilação de 2% ao dia nos principais índices acionários globais. No Brasil, as ações da Vale caíram 4% e as da Petrobras, mais de 6%. Os ativos de frigoríficos como JBS e BRF também amargaram baixa entre 5% e 10%.

Praticamente nenhuma ação do índice registrou ganhos, mas as das empresas ligadas ao setor de turismo registram forte queda: Gol teve baixa de quase 19%, Azul caiu 14% e CVC, 10%. A Associação Internacional de Transportes Aéreos estima perdas entre US$ 63 bilhões e US$ 113 bilhões.

dólar futuro para abril subiu 1,45%, a R$ 4,658, e o dólar comercial avançou 1,16%, a R$ 4,6328 na compra e R$ 4,6337 na venda. O real continuou a “cair” apesar do leilão de 20 mil contratos de swap promovido pelo BC pela manhã, às 09h30, e outro no início da tarde, também de 20 mil contratos, que tampouco conseguiu conter a trajetória ascendente da cotação da moeda norte-americana. A Califórnia declarou estado de emergência após a primeira morte pelo coronavírus ser reportada, e a OMS informou que o número de pessoas contaminadas se aproxima de 100 mil

pânico que a disseminação da COVID-19 vem provocando no Brasil ultrapassa os limites do razoável. Mesmo que o número de casos tenha dobrado de quarta para quinta feira (foram oito casos confirmados até agora, nenhum resultou em óbito. Aliás, a taxa de letalidade da doença é de aproximadamente 3%, pouco maior que a do sarampo (que é de 2,2%), ao passo que a do Ebola é de 51%).

Enquanto a população se digladia por uma bisnaga de álcool em gel ou uma caixinha de máscaras cirúrgicas, o ano de 2019 terminou com uma média alarmante de 206 casos de dengue por hora no Brasil — entre 1º de janeiro e 4 de novembro, foram registrados 1.520.424 casos prováveis (confirmados e suspeitos) da doença. No mesmo período, apenas no estado de São Paulo foram confirmados 12,7 mil casos de sarampo — mais do que o total registrado no surto em todo o país em 2018.

Em março, o Brasil, onde o vírus do sarampo era tido e havido como erradicado, perdeu o certificado de país livre da circulação da doença. Detalhe: Além de matar, o Measles Morbillivirus (nome oficial do vírus que causa o sarampo) também enfraquece o sistema imunológico contra outras doenças.

Uma análise recém-concluída dá conta de que o H1N1, (mais conhecido como vírus da gripe suína) é muito mais letal no Brasil do que o novo coronavírus demonstrou ser na China até agora. Só no ano passado, 796 pessoas morreram de gripe suína. Segundo o autor da avaliação, o professor Roberto Medronho, chefe da Divisão de Pesquisa do Hospital Universitário Clementino Fraga da UFRJ, o coronavírus da COVID-19 deve ser temido e combatido, mas salienta que há um temor exagerado e, muitas vezes, irracional. 

Medronho afirma que "a gripe continua a ser um inimigo da saúde pública para o qual muita gente não dá a devida atenção" e que "não faz sentido um pânico coletivo contra uma doença e negligência pessoal contra outra, que mata mais e para a qual há vacina". "Aliás", frisa o professor, que é especialista também em epidemiologia, "a gripe mata tanto justamente porque as pessoas não se vacinam".