quinta-feira, 12 de março de 2020

DÊ À POSTAGEM TÍTULO QUE VOCÊ QUISER — A DESGRACEIRA É TANTA QUE ISSO JÁ NÃO FAZ A MENOR DIFERENÇA.


Todo fato tem pelo menos três versões — a sua, a minha e a verdadeira. Isso sem mencionar que quem conta um conto aumenta um ponto. Por essas e outras, não acredite em nada do que você ouve houve e só na metade do que você vê.

A OMS demorou, mas finalmente descobriu que a merda fede: na tarde de ontem, promoveu o coronavírus a pandemia. Até um burro como este que voz escreve já sabia disso (confira nesta postagem), ainda que não soubesse o porquê da demora em reconhecer algo que salta aos olhos e grita nos ouvidos. Se a ideia era não causar pânico, está visto que não funcionou.  

Segundo o diretor-geral Tedros Adhanom, a declaração não muda o que a própria organização e os países devem fazer para “detectar, proteger, tratar e reduzir a transmissão” do Sars-Cov-2. Já o ministro Luiz Henrique Mandetta ponderou que a declaração de pandemia já era esperada, que não muda nada para o Brasil, mas que o órgão demorou demais para usar essa definição (pelo menos eu não sou o único com o passo errado nesse batalhão).

Soma-se a tudo isso a queda de braço entre a Rússia filha de Putin e a OPEP da Arábia Maldita, que derrubou drasticamente o preço do barril do petróleo. Um dia após ensaiar recuperação, com expectativas para redução das tensões, a cotação do óleo voltou a cair com a previsão de redução no crescimento da demanda global de 990 mil bpd (barris por dia para) 920 mil bpd. Em meio a esse furacão de proporções épicas, a Bovespa, que ontem recuperara parte da perda amargada no dia anterior, tornou a despencar, chegando a cair mais de 12% após o segundo circuit breaker da semana, e o dólar voltou a disparar, subindo mais de 2%. No momento em que escrevo estas linhas (são pontualmente 18h00), o Ibovespa havia amenizado a queda (a 7,64%) e o dólar, “baixado” para R$ 4,72 (depois que Donald Trump disse que usará todo o poder do governo contra o coronavírus).

Nas últimas duas semanas o número de casos de COVID-19 fora da China aumentou 13 vezes (já são mais de 118 mil), o número de países afetados triplicou e 4.291 mortes já foram confirmadas. Agora, segundo Mandetta, passarão a ser investigadas como possíveis casos suspeitos pessoas que voltarem de qualquer viagem ao exterior e apresentarem febre e mais um sintoma (dificuldade respiratória, dor no corpo e/ou tosse).

Os diretores da OMS ressaltaram que  é possível diminuir os impactos da doença, que 81 países não têm casos registrados e que devem fazer o máximo para evitar qualquer caso importado. Outros 57 países têm até 10 casos, e 90% das infecções do mundo vêm da China, da Itália, do Irã e da Coreia do Sul

O diretor-executivo do programa de emergências da OMS, Michael Ryan lembrou que países como ChinaSingapura e Coreia do Sul são bons exemplos de lugares que conseguiram frear a disseminação do vírus e alertou para o risco a ser evitado com o uso da palavra pandemia, que não deve servir de desculpa para desistir do combate e de tentativas de conter a circulação do vírus. 

Perguntado pelos jornalistas se há recomendação para fechar escolas e fronteiras, Ryan avaliou que essas decisões têm sido tomadas com base na avaliação de risco dos países, e que países com número menor de casos não alcançarão grande impacto com medidas de isolamento social.

Agora a cereja do bolo: Segundo o impagável Josias de Souza, outros presidentes que o Brasil amargou em desde a redemocratização (tomo a liberdade de considerar uma exceção aquela senhora que não sabia juntar cré com lé) tentavam ao menos construir uma imagem positiva do país. Mas não o capitão. Quem o ouve falar sobre a nação que preside fica com a sensação de que ela já acabou e as pessoas não se deram conta. 

No Brasil de Bolsonaro, a Justiça Eleitoral é uma ramificação do Judiciário incompetente o bastante para engolir fraudes que tentaram tungar seu próprio mandato, e o Congresso, embora já tenha aprovado a reforma trabalhista sob Michel Temer e a reforma previdenciária na atual administração, é um antro de conspiradores contra o interesse nacional. Só uma coisa se salva: o próprio Bolsonaro, que melhorou muito desde a campanha. Antes, ele dizia não entender nada de economia (e encostou sua ignorância no Posto Ipiranga); agora, tornou-se um especialista tão bom que consegue decifrar em uma palavra a crise que quebra a cabeça de economistas do mundo inteiro.

No Brasil de Bolsonaro, o presidente negocia o orçamento impositivo com os parlamentares e depois atiça as ruas contra o Parlamento; chama de fraudulentas as urnas que o elegeram, mas não exibe as provas que diz possuir, e faz tudo isso em meio a uma crise que ele assegura fantasiosa. Um presidente assim parece capaz de tudo, menos de produzir a tranquilidade que estimularia investidores estrangeiros a colocarem dinheiro no Brasil.