Todo fato tem pelo menos três versões — a sua, a minha e a
verdadeira. Isso sem mencionar que quem
conta um conto aumenta um ponto. Por essas e outras, não acredite em
nada do que você ouve houve e só na metade do que você vê.
A OMS demorou,
mas finalmente descobriu que a merda fede: na tarde de ontem, promoveu o coronavírus a pandemia. Até um burro como este
que voz escreve já sabia disso (confira nesta
postagem), ainda que não soubesse o porquê da demora em reconhecer algo que salta aos olhos e grita nos ouvidos. Se a ideia era não
causar pânico, está visto que não funcionou.
Segundo o diretor-geral Tedros Adhanom, a declaração não muda o que a própria organização e os países devem
fazer para “detectar, proteger, tratar e
reduzir a transmissão” do Sars-Cov-2. Já o ministro Luiz
Henrique Mandetta ponderou que a declaração
de pandemia já era esperada, que não muda nada para o Brasil, mas que o órgão demorou demais para usar essa definição (pelo menos eu não sou o único com o passo errado nesse batalhão).
Soma-se a tudo isso a queda de braço entre a
Rússia filha de Putin e a OPEP da Arábia Maldita, que derrubou drasticamente o preço do barril do
petróleo. Um dia após ensaiar recuperação, com expectativas para redução das
tensões, a cotação do óleo voltou a cair com a previsão de redução no
crescimento da demanda global de 990 mil
bpd (barris por dia para) 920 mil
bpd. Em meio a esse furacão de proporções épicas, a Bovespa,
que ontem recuperara parte da perda amargada no dia anterior, tornou a despencar,
chegando a cair mais de 12% após o segundo circuit breaker da
semana, e o dólar voltou a disparar, subindo mais de 2%. No momento em que escrevo estas linhas (são pontualmente 18h00),
o Ibovespa havia amenizado a queda (a
7,64%) e o dólar, “baixado” para R$ 4,72 (depois que Donald Trump disse que usará todo o poder do governo contra o
coronavírus).
Nas últimas duas semanas o número de casos de COVID-19 fora da China aumentou 13 vezes (já são mais de 118 mil), o número de países
afetados triplicou e 4.291 mortes já foram confirmadas. Agora, segundo Mandetta, passarão a ser investigadas como
possíveis casos suspeitos pessoas que
voltarem de qualquer viagem ao exterior e apresentarem febre e mais um sintoma (dificuldade
respiratória, dor no corpo e/ou tosse).
Os diretores da OMS
ressaltaram que é possível
diminuir os impactos da doença, que 81 países não têm casos registrados e
que devem fazer o máximo para evitar qualquer caso importado. Outros 57 países têm até 10 casos, e 90% das infecções do mundo vêm da China, da Itália, do Irã e da Coreia do Sul.
O diretor-executivo do programa de emergências da OMS, Michael Ryan
lembrou que países como China, Singapura e
Coreia do Sul são bons exemplos de
lugares que conseguiram frear a disseminação do vírus e alertou para o risco a
ser evitado com o uso da palavra pandemia,
que não deve servir de desculpa para desistir do combate e de tentativas de
conter a circulação do vírus.
Perguntado
pelos jornalistas se há recomendação para fechar escolas e fronteiras, Ryan avaliou que essas decisões têm sido tomadas com base na avaliação de risco dos
países, e que países com número menor de casos não alcançarão grande impacto
com medidas de isolamento social.
Agora a cereja do
bolo: Segundo o impagável Josias de Souza, outros presidentes que o Brasil amargou em desde
a redemocratização (tomo a liberdade de considerar uma exceção aquela senhora que não sabia juntar cré com lé) tentavam
ao menos construir uma imagem positiva do país. Mas não o capitão. Quem o ouve
falar sobre a nação que preside fica com a sensação de que ela já acabou e
as pessoas não se deram conta.
No Brasil de Bolsonaro,
a Justiça Eleitoral é uma
ramificação do Judiciário
incompetente o bastante para engolir fraudes que tentaram tungar seu próprio
mandato, e o Congresso, embora já
tenha aprovado a reforma trabalhista sob Michel
Temer e a reforma previdenciária na atual administração, é um antro de
conspiradores contra o interesse nacional. Só uma coisa se salva: o próprio Bolsonaro, que melhorou muito
desde a campanha. Antes, ele dizia não entender nada de economia (e encostou
sua ignorância no Posto Ipiranga); agora, tornou-se um especialista tão bom que
consegue decifrar em uma palavra a crise que quebra a cabeça de economistas do
mundo inteiro.
No Brasil de Bolsonaro, o presidente
negocia o orçamento impositivo com os parlamentares e depois atiça as ruas
contra o Parlamento; chama de fraudulentas as urnas que o elegeram, mas não
exibe as provas que diz possuir, e faz tudo isso em meio a uma crise que ele
assegura fantasiosa. Um presidente assim parece capaz de tudo, menos de
produzir a tranquilidade que estimularia investidores estrangeiros a colocarem
dinheiro no Brasil.