terça-feira, 10 de março de 2020

O IMPACTO DA QUEDA DO PREÇO DO PETRÓLEO NA BOVESPA E NA ECONOMIA MUNDIAL


Estou de saco cheio de ouvir falar em coronavírus, alta do dólar, queda da bolsa, estultices bolsonarianas, dicotomia político-partidária, corrupção na política, imprestabilidade de alguns togados supremos e o diabo os carregue a todos. E mais ainda de escrever sobre tudo isso.

Já pensei em deixar de postar sobre política e voltar a focar o Blog somente na velha e boa tecnologia (boa quando funciona, naturalmente), ou manter dois vieses, mas mudando o segundo para a gastronomia (saudades das minhas postagens em “Acepipes, Guloseimas e Companhia” — comunidade foi para o espaço juntamente com extinta Rede .Link, onde eu a hospedava, que um belo dia saiu do ar para nunca mais voltar). Mas parece que quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece: no momento em que escrevia estas linhas, fui surpreendido por mais uma carrada de notícias avassaladoras.

Como se não bastassem os efeitos nefastos da epidemia da COVID-19 (nome oficial da doença provocada pelo vírus SARS-CoV-2) na economia mundial, a cotação barril de petróleo no mercado internacional despencou nesta segunda-feira, depois que o dramático colapso das negociações entre a OPEP e a Rússia , líder informal da OPEP+, levou a Arábia Saudita a iniciar uma guerra de preços.

O petróleo tipo Brent chegou a cair quase 30% — para US$ 31 o barril, com perspectivas de chegar aos US$ 20. Mas não espere uma redução expressiva no preço da gasolina nos postos. Em meio à derrocada dessa commodity, as ações da Petrobras despencaram de US$ 18 para US$ 11 o ADR (ou de R$ 38 para R$ 23,50 a ação preferencial). A petrolífera afirmou que está monitorando o assunto e que é prematuro projetar os impactos da queda do petróleo em suas operações, mas não indicou nada sobre mudança de preços dos combustíveis.

Se a redução perdurar e a estatal mantiver sua política de repassar os preços internacionais, o valor cobrado pelo litro da gasolina na bomba pode baixar, mas não imediatamente, e se realmente acontecer, será de forma gradual. E mais: dependendo do câmbio, o impacto será pequeno em termos numéricos, pois a desvalorização do real tende perante o dólar tende a compensar parte da queda no preço da commodity.

Para bancos centrais, a perspectiva de desestabilização dos preços é outra complicação, pois já estão tendo muito trabalho para tentar atenuar o impacto da epidemia do coronavírus na economia. Espelhando o cenário internacional, com as bolas de valores mundiais operando no negativo, o Ibovespa registrou forte queda logo pela manhã (a B3 chegou a ter o circuit breaker acionado, o que não acontecia desde maio de 2017, quando uma conversa de alcova entre o então presidente Michel Temer e o moedor de carne bilionário Joesley Batista, gravada à sorrelfa pelo dono da JBS nos “porões do Jaburu”, foi publicada por Lauro Jardim em O Globo).

Ontem, as ações da Petrobras desabaram 23%, enquanto as da Vale caíram 8% e a dos Bancos, 9% em média. Até mesmo as Aéreas, que poderiam se beneficiar da situação — já que o querosene usado como combustível das aeronaves é derivado do petróleo e respondeu por 32,6% dos custos operacionais das aéreas em 2019 —, amargaram forte queda em meio à aversão ao risco do mercado. Empresas como Gol e Azul registraram perdas expressivas, sobretudo pelo temor de queda do turismo global com a alta do dólar e a epidemia (ou pandemia?) do coronavírus.

Ao final do dia, o Ibovespa registrou queda de 12,17%, aos 86.067 pontos, revertendo toda a alta de 2019 e voltando ao patamar de 27 de dezembro de 2018, quando fechou cotado a 85.460 pontos.  Foi o pior pregão desde 10 de setembro de 1998, quando o índice recuou 15,82%. Nem mesmo na pior sessão da crise de 2008 o benchmark havia caído tanto. No dia 15 de outubro daquele ano, o Ibovespa recuou 11,39%.

Segundo economistas, analistas e outros "istas", o jeito é esperar para ver como Arábia e Rússia vão se comportar nesta semana, pois a regulação do mercado é ordem prioritária para que as bolsas de todo mundo não tenham uma queda ainda mais expressiva.