Se tem consistência pastosa, cor amarronzada, mau cheiro e se parece com aquelas obras caninas que a gente xinga quando pisa inadvertidamente
ao andar pelas calçadas (porque os donos mal-educados dos bichos não têm um
pingo de civilidade), provavelmente não é uma barra de chocolate. Em outras
palavras. periga dar merda o embate que começou (ou teve sequência) na tarde de
ontem, quando os governares repudiaram em coro mais um pronunciamento
estapafúrdio de Bolsonaro, que parece não ver — ou não querer ver — o
tamanho da crise sanitária que assola o país e o mundo, talvez porque foca somente as implicações das medidas profiláticas na economia e, consequentemente, no seu
projeto de reeleição.
No mesmo dia em que bateu boca com o governador de São Paulo, Bolsonaro perdeu o apoio de mais um aliado de primeira hora. Ronaldo Caiado, governador de Goiás, anunciou o rompimento em entrevista coletiva nesta quarta-feira, durante a qual não só chamou de irresponsável e desrespeitoso o pronunciamento do chefe do Executivo, como disse que ele não tem postura de governante.
Observação: As atitudes
asininas e o
pronunciamento estapafúrdio feito em rede nacional por um presidente incapaz
de liderar o que quer que não seja sua claque de apoiadores ressuscitou os
panelaços, que foram recorrentes durante a gestão da gerentona de araque, mas entraram em hibernação após a deposição da dita-cuja (e não despertaram nem mesmo
quando Lauro Jardim divulgou as conversas nada republicanas
entre Joesley Batista e vampiro do Jaburu). No mínimo, isso é um mau sinal para o presidente. Para o povo, a esta altura dos acontecimentos, é difícil dizer o que é pior.
A postura e as palavras de Bolsonaro, relativizando
a gravidade da pandemia e acusando os governadores e a imprensa de espalharem
pânico na sociedade e provocarem prejuízos à economia (só faltou ele dizer
que se trata de um complô para evitar sua reeleição) foram alvo de críticas
por todo o país no meio político. No Congresso, o presidente do
Senado, Davi Alcolumbre, e o vice-presidente
da Casa, Antonio Anastasia, disseram não ser o momento de atacar
a imprensa e outros gestores públicos, que o País precisa de uma
liderança séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da sua população,
e que a posição do presidente da República vai na contramão das ações adotadas
em outros países e sugeridas pela própria OMS.
Os governadores dos 26 estados e do Distrito Federal fizeram
uma videoconferência na tarde de ontem para discutir a elaboração de
uma nota conjunta em repúdio às declarações do presidente, que, contestou a necessidade de isolamento social sem apresentar nada que se parecesse com uma, digamos, evidência científica, simplesmente escorando-se num achismo incompatível com a proliferação do coronavírus no Brasil e com as mortes que a pandemia vem causando em escala planetária.
Observação: Durante a reunião, o governador petista do Piauí, Wellington Dias, brincou com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. “Bem-vindo ao Clube”, disse Dias a Caiado, que anunciou o rompimento político com o presidente da República nesta quarta. Chefe do Maranhão e antigo alvo de Bolsonaro, Flávio Dino pegou carona na fala de Dias: “Quero saber que clube é esse, que eu quero participar”, disse. João Doria foi no embalo: “Todos nós.”
Observação: Durante a reunião, o governador petista do Piauí, Wellington Dias, brincou com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. “Bem-vindo ao Clube”, disse Dias a Caiado, que anunciou o rompimento político com o presidente da República nesta quarta. Chefe do Maranhão e antigo alvo de Bolsonaro, Flávio Dino pegou carona na fala de Dias: “Quero saber que clube é esse, que eu quero participar”, disse. João Doria foi no embalo: “Todos nós.”
Segundo Josias de Souza, há vários tipos de coragem, mas o modelo adotado por Bolsonaro beira a patologia.
Antes do coronavírus, sua bravura era apenas um impulso autodestrutivo; depois,
passou a ser uma moléstia que favorece o extermínio, levando o instinto
homicida às fronteiras do paroxismo, assassinando o bom senso e colocando em
risco a vida de pessoas que, eventualmente, decidam dar ouvidos à insensatez
daquele que se nega a exibir comportamento digno da autoridade máxima da
República.
"Devemos voltar à normalidade", declarou o presidente.
Faltou definir normalidade. O ministro da Saúde já
esclareceu que, no caso brasileiro, a anormalidade ainda nem começou. "Em
final de abril, nosso sistema de saúde entra em colapso", disse o
doutor, antes de definir colapso: "É quando você pode ter o dinheiro, o
plano de saúde, a ordem judicial, mas simplesmente não há o sistema para você
entrar."
Bolsonaro acusou a imprensa de espalhar a sensação de
pavor. Horas antes de comandar uma reunião virtual com governadores do Sudeste,
distribuiu caneladas: "Autoridades estaduais e municipais devem
abandonar o conceito de terra arrasada, como proibição de transporte,
fechamento de comércio e confinamento em massa." Guiando-se por uma lógica
alobrógica, partiu de uma constatação técnica — "...O grupo de risco é
o das pessoas acima dos 60 anos" — e chegou a uma indagação estúpida
— "Então, por que fechar escolas?". Parece que seu cérebro, ocupado em azeitar a reeleição, é incapaz de processar a
informação de que a criançada, embora morra menos, infecta-se com facilidade e
pode ser utilizada pelo vírus como usina da transmissão.
Em mais um ato bufo, o “mito” emula a
fábula do rei nu. Mas, ao invés de se exibir como veio ao mundo, o presidente
vai se desnudando aos poucos, como uma stripper. Ainda não se sabe
qual peça da indumentaria real cairá por último, se a máscara ou a coroa — portanto,
façam suas apostas.
Eu, por medida de cautela, deixo meu prognóstico para depois que o jogo terminar, mas publicarei um aditamento nesta manhã, caso haja
alguma novidade relevante. Do contrário, é vida que segue.
Boa sorte a todos
e que Deus nos ajude.