Bolsonaro está tentando destruir seu próprio governo,
alerta Merval Pereira. Ao postar o vídeo de uma mulher pedindo o
exército nas ruas, o presidente mostra que quer forçar uma confrontação. O STF
já o proibiu de fazer propaganda que fuja à orientação da OMS e do Ministério
de Saúde, mas ele não se emenda.
"Professora em comovente depoimento para o Presidente da República. PEÇO COMPARTILHAR", escreveu Bolsonaro nas redes sociais, alfinetando mais uma vez as medidas de restrições adotadas pelos governadores, embora a OMS e o próprio ministério da Saúde defendam a adoção do isolamento horizontal. Como todo fato tem três versões (a minha, a sua e a verdadeira), houve quem classificasse esse episódio como “o desabafo de uma professora clamando pela retomada da atividade econômica”, que sensibilizou ministros e o presidente Jair Bolsonaro, embora a mulher teça duras críticas à imprensa e peça uma ação dos militares (“uma fala dita no calor do momento”, interpretaram alguns integrantes do governo oriundos das Forças Armadas, que negam a possibilidade de qualquer ação intervencionista).
"Professora em comovente depoimento para o Presidente da República. PEÇO COMPARTILHAR", escreveu Bolsonaro nas redes sociais, alfinetando mais uma vez as medidas de restrições adotadas pelos governadores, embora a OMS e o próprio ministério da Saúde defendam a adoção do isolamento horizontal. Como todo fato tem três versões (a minha, a sua e a verdadeira), houve quem classificasse esse episódio como “o desabafo de uma professora clamando pela retomada da atividade econômica”, que sensibilizou ministros e o presidente Jair Bolsonaro, embora a mulher teça duras críticas à imprensa e peça uma ação dos militares (“uma fala dita no calor do momento”, interpretaram alguns integrantes do governo oriundos das Forças Armadas, que negam a possibilidade de qualquer ação intervencionista).
Como diz um aforismo lá da “terrinhas”, em casa onde falta o pão, todos gritam e ninguém tem razão. Talvez mais tarde ou amanhã o presidente torne a mudar de ideia e volte a defender enfaticamente o afastamento social, para, em seguida, advogar contra sua própria causa, e então mudar de ideia outra vez. Mas, convenhamos: o comportamento do presidente tem tudo para ser um caso clínico. Não há outra explicação. Diante de 23 assessores próximos e ministros infectados, é impossível que ele não se convença da gravidade da situação e continue insuflando seus seguidores contra seu próprio governo.
Mudando de assunto: Ronaldo Fenômeno, rebatendo críticas sobre os gastos
faraônicos para sediar o campeonato mundial de futebol em 2014, afirmou que “não
se faz Copa do Mundo com hospitais”. O criminoso Lula não só foi na
mesma linha, declarando que “ser contra a Copa por causa dos hospitais seria
um retrocesso danado”, como se empenhou pela construção
superfaturada da Arena Corinthians, popularmente conhecida como Itaquerão.
Aliás, Lula só deixou a cadeia depois de cumprir míseros 580 dias
de sua pena porque alguns ministros supremos não têm vergonha, o que nos leva a
ter vergonha de nossa mais alta Corte de (In)Justiça, se não de sermos brasileiros
(eu, particularmente, já passei da vergonha para o asco, o repúdio, o nojo).
Para além da vexaminosa derrota por 7 a 1 para a
Alemanha, a Copa de 2014 deixou de herança inúmeros elefantes
brancos superfaturados, que geraram diversos processos criminais por corrupção.
Como dizia o Conselheiro Acácio, personagem
do romance “O PRIMO BASÍLIO”, de Eça de Queiroz, o problema com as
consequências é que elas vêm depois.
Merval relembra que também deixamos de construir
hospitais enquanto nos vangloriávamos de vencer a concorrência para realizar os
Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro. Sabe-se agora que houve
fraude na disputa pela indicação, tanto na Copa quanto nas Olimpíadas,
e que o Brasil ganhou ambas com a ação de atravessadores e lobistas, comprando
os votos de delegados.
Ao abrir a Copa de 2014, a então presidanta Dilma
foi apupada com um formidável coro de vaias, num patético reprise do vexame
ocorrido na abertura da Copa das Confederações. As manifestações contra a
gerentona de araque, que levaram milhões de brasileiros às ruas em 2013, e os recorrentes
panelaços que ecoavam cada vez que a mandatária de festim abria a boca em rede
nacional, somados à exposição que a Lava-Jato daria início, mais adiante,
das entranhas putrefatas das petistas, culminaram, em agosto de 2016, com o
impeachment da calamidade em forma de gente.
Hoje, encontram-se espalhados pelo Brasil afora estádios (ou
arenas, como passaram a ser chamados) que se transformaram em problemas para
governadores de 12 Estados. A maioria não só foi superfaturada como não tem
utilidade nem público que lote suas arquibancadas em jogos dos campeonatos
locais. Ironicamente, a pandemia transformou várias dessas arenas em hospitais
de campanha para atender pacientes infectados pelo coronavírus. É o caso do Pacaembu,
em São Paulo, do Presidente Vargas, em Fortaleza, do Mané
Garrincha, em Brasília, do Nilton Santos, no Rio, da Arena
da Baixada, no Paraná, e da Ilha do Retiro, em Pernambuco.
Como se não bastasse a trágica necessidade de transformar
arenas esportivas em hospitais — fenômeno que de resto acontece em diversos
países pela gravidade da pandemia da Covid-19 — o presidente da vez
continua fazendo bolsonarices, revivendo o FEBEAPÁ — Festival
de Besteiras que Assola o País (do inesquecível Stanislaw Ponte
Preta), durante a ditadura militar que Bolsonaro insiste em dizer que nunca
existiu. E após ter feito um discurso equilibrado e ponderado na terça-feira, o
capitão voltou a seu normal ao divulgar um vídeo fake sobre uma suposta
falta de mercadorias na Ceasa de Belo Horizonte, para forçar uma mudança na
política de isolamento horizontal.
Uma vez que o esclarecidíssmo eleitorado tupiniquim jamais dedicou
um minuto sequer ao estudo da história — e quem não se atém ao passado está
fadado a repetir os mesmos erros no futuro —, à parcela pensante da população resta
sempre escolher de dois males o menos pior. No caso em tela, trocamos a corrupção
financeira institucionalizada e roubalheira em larga escala pela falta de envergadura
e excesso de teimosia e ignorância que levam à corrupção dos hábitos e costumes
nacionais. E quem sempre sai perdendo é o povo e a democracia.