segunda-feira, 6 de abril de 2020

ENTRE A CRUZ E A CALDEIRINHA



ATUALIZAÇÃOO governo de São Paulo estendeu a quarentena em mais duas semanas, o que significa que comércio deve permanecer fechado até 22 de abril. O governador João Doria justificou a medida dizendo que está seguindo orientação de autoridades de saúde e que o distanciamento social é a única vacina contra o coronavírus. A decisão do tucano foi transmitida por volta do meio-dia de hoje. A íntegra do pronunciamento (longo) está disponível no YouTube está disponível no YouTube e em diversos sites

Segundo o médico Osmar Terra, ex-prefeito Santa Rosa, deputado federal e ministro de Estado e que foi secretário de Saúde do Rio Grande do Sul durante oito anos e coordenador do combate à epidemia de H1N1 em território gaúcho, a opção pela quarentena horizontal — todo mundo em casa — serve apenas para reduzir a velocidade do contágio e impedir que multidões de infectados recorram ao mesmo tempo a um sistema de saúde cuja indigência é escancarada pela escassez de leitos de UTI (aliás, nada muito diferente do que eu — que não sou médico, apenas um observador atento do cenário nacional — venho dizendo há semanas, com o perdão da imodéstia). 

"O isolamento radical não vai evitar que a Covid-19 complete a trajetória de toda epidemia desse tipo", avisa o deputado. "A curva se tornará descendente a partir da terceira semana de abril".  Os partidários da desertificação das cidades já têm na ponta da língua a resposta para a pergunta inevitável: deu certo?

Se o número de mortes ficar abaixo do previsto, governadores e prefeitos vão caprichar na pose de salvadores da humanidade. Se ficar acima, todos culparão os que não obedeceram às recomendações dos governantes. E os brasileiros comuns? Esses voltarão ao trabalho, tentando entender se valeu a pena começar o ano dois meses depois do Carnaval.

Seja como for, esta é uma experiência nova, frustrante e aflitiva. A presença da família e de amigos não é possível, e a rotina normal da vida fica subitamente suspensa. Mas volto a salientar que o distanciamento social não nos impede de ir ao supermercado, à padaria, à farmácia, ao banco (transações como saque em espécie, por exemplo, são impossíveis de fazer via netbanking), desde que mantenhamos distância (1,5 m) de outras pessoas no balcão ou na fila do caixa, por exemplo, evitemos entrar em ônibus e vagões de metrô lotados, e mesmo no elevador do condomínio onde moramos, caso haja outros passageiros na cabine.

Um passeio com o cachorro, uma caminhada ou uma corrida (já que as academias estão fechadas) ajudam a manter e — importantíssimo — a preservar a sanidade mental. Nem todo mundo (ou quase ninguém) controla bem a ansiedade depois de algum tempo confinado, sem convívio social.

Ficar isolado pode gerar sentimentos e sensações de tédio, solidão e até mesmo raiva — sofrimentos psíquicos que podem levar a transtornos de ansiedade, ataques de pânico e depressão. E daí para o suicídio pode ser um passo. Sobretudo em meio a tantas suposições e "fake news". Se perceber que a rede social está com aquele "feed" carregado de notícias ruins, com publicações descrevendo números catastróficos de óbitos e vídeos e imagens que podem deixar qualquer um transtornado, desconecte-se. É preciso estar informado, mas com cautela.

E se bater o desespero, der vontade de chutar o gato, de esganar o papagaio ou de atirar alguém (ou a si mesmo) pela janela, respire fundo, conte até dez, tome um copo d'água — ou uma vodka tônica. Não se preocupe com a hora; em algum lugar do mundo já terá passado das seis da tarde. Mas convém não enfiar o pé na jaca: em doses homeopáticas, o álcool relaxa, mas, em excesso, potencializa a depressão.