Em março do ano passado, diante da ainda incipiente marcha de insensatez bolsonariana, a deputada afirmou à BBC News Brasil que o presidente estava cercado de pessoas que alimentavam visões conspiratórias e que "precisava parar de focar na xaropada”. No final do ano, criticou sua conduta ríspida e ofensiva no relacionamento com a imprensa (quando foi questionado sobre as investigações do MP-RJ envolvendo zero um). Em fevereiro, postou no Twitter que nunca foi bolsonarista e que só apoiou o capitão por ele ser a única opção para vencer o PT (neste ponto nós empatamos, doutora). Em 16 de março, defendeu a renúncia do presidente, afirmando que sua participação nos protestos que ele próprio convocou foi um crime contra a saúde pública.
Em recente
entrevista à revista Veja, Janaína declarou que “gostaria
muito de defender o sucesso dele [Bolsonaro], mas é impossível seguir
apoiando alguém que se mostra irresponsável e egocêntrico.” Disse ainda
que “enquanto o presidente permitir que os ministros trabalhem, é possível
seguir. Se transformar o discurso equivocado em ações, precisará ser retirado
rapidamente. Por enquanto, não foi além do mau exemplo. Entendo que para o país
seria melhor que ele saísse logo.”
O presidente da Câmara atribuiu as
postagens nas redes sociais contra o Congresso e o STF a
assessores de Bolsonaro que se comportam como “marginais”. Na edição do
programa Canal Livre veiculada pela Band na madrugada da última segunda-feira, Maia disse o governo deveria agir para “salvar vidas e empregos”
em vez de “criar conflitos e insegurança”, que os ataques são
financiados por empresários e orientados pelo ex-astrólogo e guru palaciano Olavo
de Carvalho, e que o posicionamento de Bolsonaro, favorável a uma retomada
imediata das atividades econômicas, atrapalha o país.
Pelo mesmo caminho seguiram o presidente
do Senado, Davi Alcolumbre, e o ex-ministro da saúde
José Serra. Até o líder de caminhoneiros Dedeco, que conquistou
espaço no Planalto em meio a negociações para evitar uma nova paralisação da
categoria e liderou o apoio a atos pró-governo, pôs
em dúvida a sanidade mental do chefe do Executivo: “Bolsonaro
está louco. Não tem outra explicação para o comportamento dele. Não se pode
salvar a economia empilhando corpos. Como assim ele diz que só idoso morre de
coronavírus? ‘Só’ idoso? A vida do idoso vale menos?”
O comportamento errático de Bolsonaro tem levado a um
debandar de aliados para a ala dos desafetos. Um dia depois de fazer um surpreendente
pronunciamento em tom conciliatório, o presidente voltou a atacar os governadores, tirou
do contexto (e distorceu) parte de um pronunciamento do ditador, digo, do diretor
etíope da OMS e postou no Twitter um vídeo falso que alertava
para um suposto desabastecimento da CEASA de BH. Teve postagens
retiradas tanto pelo Twitter quanto pelo Facebook e Instagram,
sob a alegação de disseminar desinformação. Foi criticado pelo grão tucano FHC (se não calar, ele estará preparando o fim, e é melhor que seja o
dele que de todo o povo). Seu maior aliado internacional, Donald Trump,
cogitou de proibir voos entre os Estados Unidos e o Brasil diante da posição do colega brasileiro de querer relaxar o confinamento. Até o criminoso Lula — que só deixou a cadeia porque
parte da nossa mais alta corte não tem vergonha na cara nem respeito pela
suprema toga — postou críticas a Bolsonaro (e o pior é que muito
do que ele disse é incontestável).
Na semana passada o governador João Doria e Lula puseram de lado suas diferenças: “Nossa obsessão agora tem que ser vencer o coronavírus. Chegamos ao ponto de o Doria ter que mandar a PM invadir fábrica pra pegar máscara. A gente tem que reconhecer que quem tá fazendo o trabalho mais sério nessa crise são os governadores e os prefeitos", tuitou o demiurgo de Garanhuns. O governador paulista respondeu: "Temos muitas diferenças. Mas agora não é hora de expor discordâncias. O vírus não escolhe ideologia nem partidos. O momento é de foco, serenidade e trabalho para ajudar a salvar o Brasil e os brasileiros."
Na semana passada o governador João Doria e Lula puseram de lado suas diferenças: “Nossa obsessão agora tem que ser vencer o coronavírus. Chegamos ao ponto de o Doria ter que mandar a PM invadir fábrica pra pegar máscara. A gente tem que reconhecer que quem tá fazendo o trabalho mais sério nessa crise são os governadores e os prefeitos", tuitou o demiurgo de Garanhuns. O governador paulista respondeu: "Temos muitas diferenças. Mas agora não é hora de expor discordâncias. O vírus não escolhe ideologia nem partidos. O momento é de foco, serenidade e trabalho para ajudar a salvar o Brasil e os brasileiros."
Bolsonaro está isolado, mas parece não se dar conta.
Se, como numa cena de desenho animado, estivesse agarrado a um mísero raminho para não cair num despenhadeiro, qualquer passante que deparasse coma a cena, noves fora seu triunvirato e os bolsomínions de
plantão, cortaria o raminho — ou, para não ferir a plantinha,
a mão do presidente.
Bolsonaro continua focado em sua absurda cruzada contra governadores — alguns dos quais ele vê como prováveis adversários em 2022 — e alfinetando não só o Legislativo, o Judiciário e a imprensa, como também seu próprio ministério. Na última segunda-feira, sem dar nomes aos bois, disse que “integrantes de seu governo viraram estrelas”, que
“não tem medo de usar a caneta” e que “a hora deles vai chegar”.
No final da tarde, quando já havia decidido demitir Luiz Henrique Mandetta
(devido a falta
de humildade do ministro da Saúde), foi chamado à razão pelos ministros
generais Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz
Eduardo Ramos (Governo), e assim o ministro ganhou uma sobrevida (cuja duração é incerta e não sabida)
Bolsonaro continua focado em sua absurda cruzada contra governadores — alguns dos quais ele vê como prováveis adversários em 2022 — e alfinetando não só o Legislativo, o Judiciário e a imprensa, como também seu próprio ministério.
Observação: Para Josias de Souza, há algo de sádico no comportamento de Bolsonaro. Podendo usufruir do sucesso do ministro que indicou para a pasta da Saúde, ele prefere agir como líder da oposição. Ao se contrapor à gestão do auxiliar, cria uma figura inédita na história republicana: o despresidente. Líderes genuínos aproveitam as guerras para unir a nação. Na guerra contra o vírus, Bolsonaro tornou-se símbolo da desunião. Numa noite, sugere o entendimento em rede nacional. Na manhã seguinte, se desentende com os governadores. Numa palavra: Em vez de presidir, Bolsonaro despreside o país. Quem não quiser fazer papel de bobo deve observar o seguinte: o cotidiano do capitão virou uma sucessão de poses. Ele faz pose do instante em que escova os dentes à hora em que se enfia sob os cobertores. Por trás do destemor com que diz manusear a caneta esconde-se um temor hediondo. O despresidente ameaça avançar sobre a jugular do ministro da Saúde com a gana de um vampiro de Düsseldorf, mas o modo como hesita em rubricar o ato de exoneração revela que há no Planalto o que Nelson Rodrigues chamaria de um reles bebedor de groselha. Nesse teatro do absurdo, o vírus não perde por esperar. Ganha.
Continua na próxima postagem...