A Câmara Municipal de São Paulo aprovou nesta segunda-feira (18) a lei que
permite a antecipação dos feriados de Corpus Christi, que passa para hoje (20/5), e o de Consciência Negra, que passa para amanha
(21/5). A sexta-feira (22) será ponto facultativo. A ideia é, obviamente, aumentar os índices de isolamento
social, ou por outra, tentar conter o avanço do coronavírus e evitar (ou retardar tanto quanto possível) o
colapso no sistema de saúde.
Antes dessa medida, o prefeito tentou reduzir o número de pessoas nas ruas bloqueando parte da malha viária da cidade e implementando um “mega rodízio”. Obviamente, o resultado esperado por nosso diligente alcaide não foi obtido. Mas o bloqueio de avenidas resultou em congestionamentos, e o rodízio extremado, ao aumento exponencial da demanda pelo transporte público — o que eram favas contadas. E me parece óbvio que o risco de o cidadão ser infectado dentro do próprio carro é inúmeras vezes menor do que num ônibus ou vagão de metrô lotado.
Antes dessa medida, o prefeito tentou reduzir o número de pessoas nas ruas bloqueando parte da malha viária da cidade e implementando um “mega rodízio”. Obviamente, o resultado esperado por nosso diligente alcaide não foi obtido. Mas o bloqueio de avenidas resultou em congestionamentos, e o rodízio extremado, ao aumento exponencial da demanda pelo transporte público — o que eram favas contadas. E me parece óbvio que o risco de o cidadão ser infectado dentro do próprio carro é inúmeras vezes menor do que num ônibus ou vagão de metrô lotado.
Em que pese minha admiração por Bruno Covas — fosse outro, trataria de cuidar da própria saúde em vez de se mudar de mala e cuia para a prefeitura — e pelo governador João Dória — a despeito do viés eleitoreiro de sua obsessão pelo lockdown —, fico imaginando com base em que "ciência" essas decisões são tomadas. Seria a do achismo?
Quanto à antecipação dos feriados, há quem defenda e quem critique (como em tudo, hoje em dia, também nisso não há consenso nem bom senso). De minha parte, acho melhor cantar o placar depois que o juiz apitar e tirar a bola de campo. Mas imagino que a medida vá confundir ainda mais quem está confinado há dois meses (é público e notório que esse distanciamento social está testando nossa sanidade mental). Eu, particularmente, preciso recorrer ao calendário para saber que dia é. E nos próximos dias nem o calendário ajudará, visto que ontem foi 19 de maio, hoje é 11 de junho (feriado de Corpus Christi) e amanhã será 20 de novembro (consciência negra), quando estaremos mais próximos do Natal que das Festas Juninas.
Torço, e muito, para que essa novela acabe logo. A população já está assistindo a esse lamentável folhetim há dois meses. Mas decretar um lockdown num estado com seiscentos e tantos municípios e quarenta e tantos milhões de habitantes é flertar com o caos.
As pessoas que se conscientizaram do tamanho da encrenca estão (e continuarão) evitando sair de casa, exceto para ir ao mercado, à padaria, à farmácia etc. Mas aquela minoria que parece viver em outro mundo não vai mudar seu comportamento.
Isso sem mencionar que muita gente precisa realmente sair de casa, porque só consegue comprar o jantar se vender o almoço. Restringir-lhes ainda mais o direito constitucional de ir é obrigá-los a escolher entre desobedecer o decreto e se arriscar a morrer de Covid-19 e não fazê-lo e não ter o que comer. Sem falar nos indigentes, nas pessoas em situação de rua, no povo da cracolândia e afins.
A situação é complicada e a solução, extremamente difícil. Mas tomar medidas fadadas ao fracasso é atirar a esmo e se arriscar a acertar o próprio pé. Enfim, fé em Deus e pé na tábua.
Donald Trump disse nesta segunda-feira (18) que vem tomando preventivamente uma mistura de hidroxicloroquina e zinco, que está "se sentindo bem" e que não apresenta sintomas da Covid-19. Vale lembrar que esse luminar de peruca laranja sugeriu em coletiva de imprensa que a injeção de desinfetante ajudaria no tratamento contra a Covid-19 — o que provocou um aumento no número de casos de intoxicação por desinfetante de Nova York.
Como se vê, aqui há bolsomínions, e lá, donaldomínions. Por falar em “aqui”, o coquetel que Trump disse estar tomando preventivamente dá pistas do motivo da obsessão de seu clone tupiniquim pela cloroquina. Ou não?
Falando no atual inquilino do Palácio do Planalto, o
ministro Celso de Mello assistiu ontem ao vídeo da célebre reunião
ministerial do dia 22 de abril, e ficou de decidir até o final da semana se
suspenderá total ou parcialmente o sigilo sobre seu conteúdo. Como se não
bastasse o empresário e suplente de senador Paulo
Marinho, ex-apoiador do presidente, fez
revelações à jornalista da Folha Monica Bergamo que, se confirmadas, botarão
mais lenha na fogueira sob o caldeirão onde o capitão das trevas periga ser cozido.
Para mais detalhes, clique aqui e aqui.
Ainda sobre o archote que nos ilumina desde Brasília:
A cada chute dado nos pilares de sustentação do regime em vigor e, por consequência, no governo que preside, Bolsonaro reforça a impressão de que entregou aos desígnios das divindades do imponderável a chance de reeleição. Diz o contrário (“vou sair daqui em janeiro de 2027”), como é de seu costume, mas age justamente na direção da toalha jogada ao chão. Abre todos os flancos imagináveis, anulando qualquer possibilidade de defesa. A dúvida é se o faz de propósito, já satisfeito de integrar o mais rápido possível o panteão dos ex-presidentes em posição de (desastroso) destaque mundial, ou se é burro mesmo e não se dá conta dos efeitos de seus gestos. A primeira hipótese revelaria alguma inteligência na execução de um plano; a segunda confirmaria uma forte suspeita.
A cada chute dado nos pilares de sustentação do regime em vigor e, por consequência, no governo que preside, Bolsonaro reforça a impressão de que entregou aos desígnios das divindades do imponderável a chance de reeleição. Diz o contrário (“vou sair daqui em janeiro de 2027”), como é de seu costume, mas age justamente na direção da toalha jogada ao chão. Abre todos os flancos imagináveis, anulando qualquer possibilidade de defesa. A dúvida é se o faz de propósito, já satisfeito de integrar o mais rápido possível o panteão dos ex-presidentes em posição de (desastroso) destaque mundial, ou se é burro mesmo e não se dá conta dos efeitos de seus gestos. A primeira hipótese revelaria alguma inteligência na execução de um plano; a segunda confirmaria uma forte suspeita.
A pessoa desprovida de cognições cerebrais mais ágeis tende
a ver seu baixo grau de compreensão como regra geral. Daí decorre a incapacidade
de perceber que determinadas atitudes quando aplicadas a situações diferentes
não alcançam os mesmos resultados obtidos anteriormente. O presidente exibe
tais características ao se comportar na chefia da nação como o candidato
(elevado ao cubo), acreditando que o que deu certo na campanha teria tudo para
dar certo no governo. Na visão dele ainda com mais razão, dado o acréscimo
substancioso de capital proporcionado pelos instrumentos de poder. As
limitações constitucionais inerentes ao cargo escapam-lhe do radar e, por isso,
imagina-se na posse de licença para exorbitar.
Gestos e palavras até aceitáveis em campanhas soam
inconcebíveis na Presidência e contraproducentes se a ideia do mandatário for
repetir a dose. Caso seja esse o caso é de perguntar com qual objetivo Bolsonaro
comete uma série de imprudências. Sem obediência à ordem de entrada em cena,
vamos aos exemplos.
Para que firmar aliança com infiéis de carteirinha,
representantes do pior que há no Parlamento depois de confrontar-se com a Casa
por ele vista como valhacouto da “velha política?”
Para que jogar ao mar dois dos ministros mais benquistos,
sem razões funcionais objetivas e com claras motivações subjetivas? Para que
afastar mais e mais antigos aliados no lugar de tentar reconquistá-los?
Qual a finalidade de implodir o próprio partido, segunda
maior legenda em número de deputados, quando poderia ampliar sua presença e
influência para almejar até a conquista da presidência da Câmara?
Para que se assumir debochado e mentiroso, afugentando gente
que o ajudou a se eleger? Para que regozijar-se em ser visto pelo mundo como o
presidente mais incauto, histriônico, inepto e nocivo à frente de um país
democrático?
Por que equiparar-se a ditadores se não conta, como eles,
com a rede de proteção proporcionada pelo tacão do arbítrio?
Com que finalidade convoca churrascos, passeia de moto
aquática, avaliza atos antidemocráticos, incentiva o descumprimento de
recomendações médicas, contraria as evidências, zomba dos precavidos em plena
pandemia de um vírus ainda desconhecido se, com isso, provoca deserções em seu
campo político de ação?
Por que expor ao ridículo com aquela marcha sobre o Supremo
os poucos que ainda o tratam com boa vontade como o presidente da Corte e
empresários reunidos em caravana a Brasília a fim de ouvir do presidente planos
e providências para as contingências da crise?
Para que hostilizar governadores e prefeitos, peças
essenciais na necessária administração da tragédia em curso e lá adiante atores
importantes em ambiente de eleição? Qual o propósito de provocá-los com um
decreto para permitir (inutilmente, pois esse tipo de decisão é local) o
funcionamento de academias de ginástica e salões de cabeleireiro?
Qual o motivo de esgarçar internamente as Forças Armadas
obrigando o Ministério da Defesa a emitir notas em prol da democracia, quando a
normalidade constitucional há muito se estabeleceu como ponto pacífico entre os
militares? Sujeitá-los à condição de suspeitos de semear ideias golpistas, para
quê?
Pois é, não há em nenhuma dessas ou em outras tantas
atitudes produzidas diariamente pela usina de exorbitâncias instalada no
Palácio do Planalto resquício sequer de racionalidade. Dizia-se que assim Bolsonaro
procurava fidelizar seu pelotão mais aguerrido, mas nem isso faz mais sentido
diante da fuga de boa parte daquele capital.
Sobra, ante a ausência de plano que denote astúcia, a
prevalência da estultícia.
Com Dora Kramer