segunda-feira, 11 de maio de 2020

TESTAR, TESTAR E TESTAR

Chamada de Diagnosticar para Cuidar, uma nova estratégia do Ministério da Saúde, há quase um mês sob uma nova direção que não empolga nem os mais otimistas — se é que ainda há otimistas por aí —, visa realizar 46 milhões de testes, o que representa 22% da população Brasileira. “Conhecendo melhor a doença, é possível adotar medidas mais eficazes de proteção da sociedade”, afirma o secretário Nacional de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira — ilha de lucidez sobrevivente da equipe anterior, mas que não deve durar muito tempo no cargo: com o noivado do presidente com o Centrão, deverá substituí-lo em breve um indicado do consagrado mensaleiro Valdemar Costa Neto.

Falando em nova direção, Nelson Teich trocou pelo terno e gravata o colete do SUS que seu antecessor usava nas entrevistas coletivas (o SUS é um dos maiores sistemas universais e gratuitos de saúde, inspirado no National Health Service, dos britânicos). Mas o novo ministro sumiu com o colete e depois sumiu ele próprio (volto a esse assunto oportunamente). As entrevistas à imprensa tornaram-se raras. Só de vez em quando Teich aparece e anuncia que toma pé, estuda, planeja e promete testagem com milhões de testes que, por alguma razão incerta e não sabida, recusam-se a pôr os pés no Brasil.

Observação: Já os testes a que Bolsonaro constantemente submete a República não têm apresentado bons resultados para ele. O presidente tem bombado numa prova atrás da outra, com notas baixíssimas em relações institucionais, respeitabilidade, credibilidade, confiabilidade, civilidade e nos demais quesitos que atinge com suas afrontas, resultando em danos irreparáveis definidores de seu destino. Para usar expressão da circunstância atual, o capitão testou negativo para o exercício da Presidência da República. Mas isso é outra conversa.

Antes do sumiço de Teich e do colete do SUS, havia sumido o próprio Ministério da Saúde, engolido pelo Palácio do Planalto, onde passaram a se realizar as agora esporádicas entrevistas. Na segunda-feira 4, dispuseram-se a concedê-la dois dos generais da cozinha palaciana, Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos. Teich estava em viagem, mas se não estivesse outra desculpa haveria, e ele continuaria ausente. Um jornalista perguntou se uma aglomeração como a do domingo 3 não facilitava a propagação do vírus. Braga Netto respondeu que essa pergunta deveria ser feita ao ministro da Saúde (que não estava lá), mas arriscou que “as pessoas têm a liberdade de fazer o que… desde que não haja ameaça à saúde do outro”. Como se prestar a um papel desses, general?

Resta que contra o país das trevas existe o da luz. A Covid-19 levou Aldir Blanc, inspirado intérprete do Brasil, mas fica seu legado dos boias-frias que sonham com goiabada cascão na sobremesa, da glória inglória do almirante negro, dos dois pra lá e dois pra cá com um torturante band-aid  no calcanhar, da solidão da crooner de tomara que caia, do bêbado e, sobretudo, da esperança equilibrista.

Por último, mas não menos importante: como estamos falando em competência (ou incompetência, dependendo do lado do balcão em que se está), algumas pessoas deveria se espelhar no que outras fizeram com sucesso, em vez de simplesmente mirabolar soluções não levam nada a lugar nenhum. Como eu costumo dizer, "melhor acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão".

O prefeito Edmar Dias transformou Camanducaia numa prova de que é possível reativar a economia sem interromper o combate ao coronavírus. Para tanto, ele aplicou simultaneamente duas fórmulas consideradas incompatíveis por devotos da quarentena radical: enquanto o distrito turístico Monte Verde continuava em isolamento social, na sede do município começou a reabertura gradual de estabelecimentos comerciais.

Como todos os prefeitos mineiros, Dias foi liberado pelo governador Romeu Zema para escolher os caminhos a seguir. "Quem conhece o município é o prefeito", resume o chefe do Executivo Estadual. "Muito mais que qualquer governador". Os resultados são alentadores. Neste último dia 6, duas semanas depois do início da volta à normalidade, Camanducaia registrava 7 casos confirmados de coronavírus. Mortes? Nenhuma.

Para neutralizar a disseminação do vírus chinês, bastaram a conscientização da população e a adoção de cautelas sanitárias elementares. Além da sensatez do prefeito, salvaram Camanducaia os caprichos da geografia. Localizada no extremo sul de Minas, o município fica a 35 quilômetros da divisa com São Paulo. Se estivesse em território paulista, o prefeito seria proibido pelo governo estadual de fazer a coisa certa. 

Com Roberto Pompeu de Toledo e Augusto Nunes