A melhor maneira de
não se decepcionar com as pessoas é não esperar demais delas. E esperar que Jair Bolsonaro fizesse um bom governo seria
querer demais.
Apenas para relembrar alguns episódios que lustram o reluzente currículo do presidente, o general-ditador Ernesto Geisel referiu-se ao então oficial da ativa como um “caso completamente fora do normal, inclusive mau militar“ (o capitão teve sua carreira no exército abortada por indisciplina e insubordinação), e os anais da Câmara Federal comprovam que o parlamentar medíocre em que se transformou o mau militar conseguiu o prodígio de aprovar dois míseros projetos ao longo de quase 28 anos como deputado do baixo clero.
Apenas para relembrar alguns episódios que lustram o reluzente currículo do presidente, o general-ditador Ernesto Geisel referiu-se ao então oficial da ativa como um “caso completamente fora do normal, inclusive mau militar“ (o capitão teve sua carreira no exército abortada por indisciplina e insubordinação), e os anais da Câmara Federal comprovam que o parlamentar medíocre em que se transformou o mau militar conseguiu o prodígio de aprovar dois míseros projetos ao longo de quase 28 anos como deputado do baixo clero.
Pode-se gostar ou
não do capitão da caverna das trevas — e fica mais difícil gostar dele a cada
dia —, mas não se pode acusá-lo de estelionato eleitoral, nem sua gestão
manifestamente inepta, incompetente, desnorteada, fisiologista, ideológica e
lunática, de não proporcionar fortes emoções.
Parte dos 57,7
milhões de votos que elegeram o candidato
Bolsonaro a presidente Bolsonaro
proveio não dos bolsomínions atávicos e outros bolsonaristas de raiz, mas de
eleitores que se viram sem alternativa para impedir a volta da quadrilha
petista ao Planalto com a eleição do patético bonifrate do então presidiário de
Curitiba, pois engrossar a ala dos 42 milhões de brasileiros que votaram em
branco, anularam o voto ou se abstiveram de votar só fortaleceria o aprendiz de
desempregado que deu certo.
Guardadas as devidas
proporções, fizemos em 2018 o que
Bolsonaro tem feito desde seus primeiros no Planalto: cavar ainda mais
fundo para tentar sair do buraco. Felizmente, noves fora a inexorabilidade da
morte, para tudo nesta vida há remédio, conquanto seja importante atentar para
a dosagem, pois é justamente a dose que diferencia o fármaco do veneno. Dizendo
de outra maneira, uma dose insuficiente da medicação não cura, mas uma overdose
pode matar o paciente.
Por mal de nossos pecados, não bastasse a tempestade perfeita
que desabou sobre o mundo na forma de uma crise sanitária de proporções
bíblicas, combinada com uma recessão econômica para ninguém botar defeito, temos
na ponte de comando desta nau de insensatos um oficial incapaz de encontrar o
próprio rabo usando as duas mãos e uma lanterna. Do jeito que a coisa vai, ou trocamos o comandante, ou o naufrágio será inevitável.
“Política é
como nuvem; você olha e ela está de um jeito, olha de novo e ela já
mudou...”, dizia Magalhães Pinto.
E com efeito. Ao observar o cenário político que se descortinou ao longo da
semana que termina amanhã — de acordo com a Organização
Internacional de Padronização (ISO), o primeiro dia da semana é a segunda-feira, a despeito de religiões como o islamismo, catolicismo e judaísmo, considerarem
o domingo aparece como sendo
o primeiro dia da semana —, chamou-me a atenção uma ironia do destino, da qual tratarei depois de uma breve contextualização.
Até não muito tempo antes das eleições passadas, as chances de
um certo deputado federal tosco e inexpressivo — mas polêmico e dono de uma
grosseria a toda prova — vencer a disputa presidencial, sobretudo sendo filiado a um partido
nanico e igualmente inexpressivo (o oitavo em seus 30 anos de vida pública), que
havia elegido 1 deputado em 2014 e não tinha dinheiro nem tempo de rádio e
televisão, eram as mesmas de o inferno congelar. Mas a onda a favor desse candidato inexpressivo e contra o PT emplacou não só o dito-cujo, mas também promoveu o partido até então
inexpressivo a dono da segunda maior bancada na Câmara (atrás apenas do PT).
O ex-capitão do Exército
Jair Bolsonaro e o
ex-fuzileiro naval e juiz federal Wilson
Witzel defendiam bandeiras similares para áreas como segurança e costumes. Witzel surfou na onda do crescimento
do PSL e passou de ilustre
desconhecido a favorito entre os candidatos ao governo fluminense quando
desenvolveu agendas em conjunto com o então candidato a senador Flávio Bolsonaro (o tal deputado da
rachadinha). Mas vento soprou e as nuvens mudaram: Bolsonaro e Witzel
passaram de aliados políticos a desafetos depois que o já então governador
fluminense cometeu o “pecado mortal” de não atribuir sua vitória ao já então
presidente da República, e, pior, aventar em entrevista à GloboNews a possibilidade de disputar a presidência em 2022.
No último dia 10, Bolsonaro
comemorou a aprovação da abertura de processo de
impeachment de Witzel, por
suspeitas de superfaturamento na compra de respiradores e irregularidades na
construção de hospitais de campanha para o combate ao coronavírus. O governador
chegou a ser alvo de operação da
PF no Palácio das Laranjeiras.
Na segunda-feira passada, Bolsonaro festejou a publicação (no DOERJ) da abertura do processo de impeachment contra o desafeto, mas na quinta-feira
desta mesma conturbada semana, quando a Alerj
instalou a comissão especial que irá analisar o processo de impeachment contra Witzel,
não houve clima para o presidente comemorar: o ex-PM
Fabrício Queiroz, seu amigo de três
décadas e ex-chefe de gabinete do primeiro-filho (o da rachadinha) foi preso
logo pela manhã, numa casa em Atibaia (SP).
Segundo o caseiro, Fabrício
Queiroz estava mocosado ali havia mais de um ano. O dono do imóvel, Frederick Wassef, é advogado de Flávio Bolsonaro e se jacta de ser
íntimo do clã presidencial, verdadeiro arroz de festa nos Palácios do Planalto e da
Alvorada. Na última quarta-feira, ele compareceu à posse do novo ministro de
Comunicações, Fábio Faria. No dia
seguinte, depois que seu hóspede ilustre foi preso, o digníssimo anfitrião tornou-se
apenas “o advogado de Flávio”. Não
demora e os defensores lunáticos do general da banda começarão a dizer que os
dois sequer se conheciam. Frederick
o quê? Nunca ouvi falar.
Em nota, a advogada Karina
Kufa, que defende o presidente nas ações eleitorais que pedem a cassação da
chapa Bolsonaro/Mourão e cuida dos detalhes legais da criação do partido Aliança pelo Brasil, disse que Wassef representa apenas Flávio. “Todas as ações do senhor Jair Messias Bolsonaro, sejam elas cíveis,
criminais ou eleitorais, em curso no poder judiciário, exceto aquelas de
competência da AGU, estão sob a responsabilidade
deste escritório, cuja única sócia é sua fundadora, Karina Kufa”.
A gargalhada do diabo: de aliados, o presidente e o governador passaram a desafetos, e agora ambos pisam em brasas. Contra o primeiro já tramita um processo de impeachment; o segundo é investigado no STF por interferência na PF e pode ser arrastado para o olho do furação Queiroz/Flávio Bolsonaro.
Como se vê, as nuvens mudaram. Resta saber como se comportarão ao longo dos próximos dias. Mas isso a gente só vai saber nos próximos dias.
A gargalhada do diabo: de aliados, o presidente e o governador passaram a desafetos, e agora ambos pisam em brasas. Contra o primeiro já tramita um processo de impeachment; o segundo é investigado no STF por interferência na PF e pode ser arrastado para o olho do furação Queiroz/Flávio Bolsonaro.
Como se vê, as nuvens mudaram. Resta saber como se comportarão ao longo dos próximos dias. Mas isso a gente só vai saber nos próximos dias.