sábado, 25 de julho de 2020

BIA "KISSES" — BEIJINHO BEIJINHO, PAU PAU!


A hipótese de Jair Bolsonaro ser expulso de campo antes do apito do juiz assinalar o final do segundo tempo é improvável, mas não impossível. E o mesmo raciocínio se aplica a sua ambicionada reeleição em 2020. 

Mas faltam mais de 2 anos para o pleito, e nesse entretempo é possível — e até provável — que surjam nomes menos ideológicas e mais “centrados”. A questão é que temos hoje 35 partidos políticos, trinta com representação no Congresso, e essa absurda pluralidade implica o risco de sermos obrigados (mais uma vez) a votar em quem não queremos para evitar a vitória de quem queremos menos ainda. Enfim, quem viver verá.

Voltando ao tempo presente, após seu amigo de fé, irmão e camarada Fabrício Queiroz ter sido localizado e preso na casa do mafioso-de-comédia que à época atuava como defensor de Zero Um (ex-chefe do factótum do clã Bolsonaro) no inquérito das rachadinhas, Zero Zero baixou o facho. A quarentena também contribuiu, senão para tornar o presidente mais comedido, ao menos para evitar que ele fale demais. 

Mas nem mesmo o confinamento compulsório impediu sua excelência de apoiar (ainda que à distância) as últimas manifestações em prol do fechamento do Congresso e do STF e outras bobagens. Como se costuma dizer, burros velhos não aprendem truques novos, e o lobo perde o pelo, mas não abandona o vício.  

Pragmático, Bolsonaro vem se esforçando para conter seus instintos mais primitivos. Mas ensina-nos a filosófica fábula do sapo e o escorpião que algumas criaturas são incapazes de agir contra a própria natureza. 

Muito a contragosto, o indômito capitão livrou a Educação de um ministro sem-educação e, entre outras proezas, apeou da vice-liderança do governo no Congresso a deputada Bia Kicis, que é — ou era até a última quarta-feira — uma de suas mais fiéis defensoras. Há quem atribua o ato ao fato de Bia integrar a renca de investigados no inquérito das fake news, e quem diga que o pé-na-bunda deveu-se ao voto contra a PEC do Fundeb na Câmara. Mas nada muda o fato de a deputada ter tomado conhecimento de sua destituição pela imprensa

Segundo a jornalista Taís Oyama, colunista da Folha/UOL, Bia disse não se sentir traída (you believe it or not), mas admitiu ter ficado "perplexa e surpresa" com a forma como teve seus serviços dispensados pelo presidente. E deixou escapar: "Ele poderia ter ao menos me telefonado".

O que me causa espécie é a deputada estranhar a atitude de seu amo e senhor. Antes dela, os também deputados aliados Otoni de Paula e Daniel Silveira foram expelidos para dar lugar a novos amigos do Centrão — que, acredita o capitão, blindarão seu mandato, ajudá-lo-ão a fazer o novo presidente da Câmara e pavimentarão seu caminho para a tão sonhada reeleição. De novo: quem viver verá.

A exemplo do criminoso Lula, com que fica mais parecido a cada dia, Bolsonaro não vê problema algum em abandonar aliados no campo de batalha se seus corpos lhe servirem de alguma maneira. Mas deveria lembrar-se de que, no âmbito da traição, enquanto ele com a farinha, o Centrão já vem voltando com o fubá.