UM NO PAPO, OUTRO NO SACO.
Para concluir a conversa que iniciamos duas postagens
atrás, resta dizer que a evolução dos sistemas operacionais está relacionada
com a evolução dos computadores. Sempre que surge uma nova arquitetura de
hardware — ou mesmo uma evolução em uma determinada arquitetura —, torna-se
necessário adequar o sistema, isto é, torná-lo capaz de controlar e gerenciar
os novos recursos de modo a permitir que as aplicações do usuário os explorem
adequadamente.
Embora os computadores eletrônicos tenham surgido nos
anos 1940, somente na década de ‘80 que o sistema DOS
(acrônimo de Disk Operating Disk)
começou a ser usado nos IBM-PC.
O PC-DOS foi
uma evolução do extinto CP/M (que
desapareceu do mercado com o lançamento dos microcomputadores de 16
bits), e sua versão mais popular foi o MS-DOS, criado pela então incipiente Microsoft para gerenciar os microcomputadores da IBM. Por curiosa, essa história merece
ser contada, ainda que resumida em poucas linhas. Acompanhe:
No início dos anos 1980, influenciada pelo sucesso dos Apple I e II, a IBM resolveu entrar no mercado de microcomputadores com seu IBM-PC. Como não dispunha de um sistema operacional para gerenciar seu hardware, a gigante dos computadores procurou Bill Gates, supondo (erroneamente) que ele detivesse os direitos autorais do Control Program for Microcomputer. Contrariando sua fama de oportunista, o co-fundador da Microsoft desfez o equívoco, mas Gary Kildall (desenvolvedor do CP/M) faltou à reunião agendada com a IBM, que voltou a procurar Gates, que desta feita não se fez de rogado. Mas em vez de criar um sistema operacional a partir do zero (coisa que sua empresa jamais tinha feito até então), Mr. Gates adquiriu os direitos autorais do QDOS (um sistema desenvolvido para CPU Intel) por US$ 50 mil, adequou-o ao hardware da IBM, rebatizou-o de MS-DOS e vendeu-o para a gigante por US$ 8 milhões, tendo o cuidado de manter a licença — com a qual viria a dominar o mercado dos "PCs compatíveis" e entrar para a lista de bilionários da Forbes.
A partir daí os sistemas operacionais evoluíram significativamente,
sobretudo com a utilização da interface
gráfica, que desobrigava o usuário de memorizar intrincados comandos
de prompt. Desde os anos 1970 que a XEROX vinha desenvolvendo essa tecnologia — que, mal sabia
ela, seria o futuro da informática. Todavia, como só tinha interesse em
equipamentos de grande porte, a empresa jamais implementou seu projeto em
microcomputadores, o que se revelaria mais adiante um erro avassalador: a
companhia cujo nome se tornou sinônimo de cópia reprográfica no Brasil vale, hoje, uma fração do que
valia nas décadas de 80/90, embora tenha desenvolvido e fabricado computadores
e impressoras a laser, além de criar a Ethernet, o peer-to-peer, o desktop,
o mouse e por aí afora.
Observação: Steve Jobs, pioneiro no uso da interface gráfica em seus microcomputadores, só desenvolveu sua
versão após "fazer uma visita" à Xerox, no coração do Vale
do Silício. Aliás, o visionário da Apple não foi o único a “copiar” uma tecnologia da Xerox com o intuito de lucrar;
outros o fizeram e ganharam bastante dinheiro. Mas isso é outra história e fica
para uma outra vez.
Diante do lançamento do IBM-PC “movido a” MS-DOS, a Apple contra-atacou com seu inovador Macintosh, que se destacou tanto pela excelência do hardware (uma característica que acompanha os produtos da Empresa da Maçã até os tempos atuais) quanto pela simplicidade na operação, dada a adoção da interface gráfica e do uso do mouse.
Ainda que o LINUX — sistema de código
aberto baseado no UNIX — fosse mais eficiente e
robusto que o então ainda incipiente Windows
— criado como uma interface gráfica e que só passou a ser um sistema
operacional autônomo a partir do lançamento do Win 95 — e que os computadores da Apple — de arquitetura fechada e sistema operacional exclusivo, desenvolvido
pela própria empresa — fossem mais sofisticados e avançados, a estrela de Bill Gates foi a que mais brilhou: a
maioria dos desenvolvedores de software passaram a criar quase que
exclusivamente aplicativos voltados ao Windows.
Isso decretou a morte comercial do OS/2 — usado pela IBM depois que a parceria com a Microsoft foi dissolvida, e considerado por muitos o melhor dos sistemas operacionais com
interface gráfica de então. O LINUX
ganhou força no âmbito corporativo e passou a ser largamente utilizado em
servidores devido a sua confiabilidade, que lhe garantia melhor desempenho e maior
segurança do que o Windows NT da Microsoft.
Amanhã a gente conclui.