sábado, 1 de agosto de 2020

A CLOROQUINA E O MOFO NO PULMÃO

Em viagem ao Rio Grande do Sul, o dublê de sumo mandatário tupiniquim e garoto-propaganda da Cloroquina desembarcou em Bagé usando uma máscara preta onde lia-se “eu amo Bagé”, e, recebido aos gritos de “mito” pela população local, tirou a caixa do medicamento do bolso e a ergueu em meio à aglomeração, indiferente ao fato de não haver comprovação científica da eficácia da droga no tratamento contra a doença.

Ao anunciar que testou positivo para o Sars-CoV-2 em uma rede social no início do mês, o capitão cloroquina afirmou ter experimentado sensível redução dos sintomas após tomar o medicamento. Dias depois, no entanto, evitou repetir a apologia — supõe-se que alguém o tenha avisado da possibilidade de ele vir a ser alvo de ações judiciais movidas por pessoas que tiveram problemas de saúde ao usar a cloroquina (em outras palavras, o curandeiro de festim poderia ser processado por charlatanismo).

Deputados do PT pediram na quarta-feira, 29, a abertura da “CPI da Cloroquina/Hidroxicloroquina”. O objetivo é investigar suposta “superprodução”, custos da fabricação e critérios de distribuição desses medicamentos pelo governo federal (de superfaturamento essa caterva entende bem). Segundo os signatários do pedido, já foram produzidos cerca de 3 milhões de comprimidos pelo Exército, por R$ 1,5 milhão, embora o remédio não tenha eficácia comprovada contra a covid-19.

É estranho, para dizer pouco, que o governo federal não enfrente de maneira responsável a mais grave pandemia da nossa história e prefira se valer de charlatanismo, propagandeando medicamento de eficácia duvidosa”, escreveu no Twitter o deputado Rogério Correa, um dos autores do pedido de abertura da CPI.

Durante o tratamento com o remédio, Bolsonaro foi submetido a exames cardíacos três vezes ao dia, devido ao risco de arritmia. Depois de o quarto teste dar negativo para o vírus, disse o capitão numa live: “Acabei de fazer um exame de sangue, estava com fraqueza ontem, estava com um pouco de infecção também. Estou agora [tomando antibióticos]. Depois de vinte dias dentro de casa, a gente pega outros problemas, peguei mofo no pulmão”. Talvez ele devesse procurar mofo (ou outra substância possivelmente amarronzada e malcheirosa) no oco de sua caixa craniana.

Se nos próximos dois anos não aparecer um candidato centrado, com uma proposta convincente e carisma suficiente para mitigar a maldita polarização político-ideológica dos extremistas de plantão, é bem possível que venhamos a amargar mais 4 anos dessa absurda tragicomédia. Outra solução seria o esclarecidíssmo eleitorado tupiniquim aprender a votar, mas aí já seria querer demais.