De aliados que foram durante a campanha, Bolsonaro e Witzel passaram a desafetos (para não dizer inimigos figadais) quando o presidente farejou o interesse do governador em disputar o Palácio do Planalto em 2022. Política tem dessas coisas. O aliado de hoje é o adversário de amanhã e vice-versa. Ou, como dizia Magalhães Pinto, "política é como as nuvens no céu: você olha e elas estão de um jeito; olha de novo e vê que tudo mudou".
Às voltas com um inquérito por corrupção que envolve, inclusive, sua mulher, o inquilino do Palácio da Guanabara foi afastado
judicialmente do posto. A decisão foi monocrática, mas tudo indica que será mantida quando for submetida, na semana que vem, a um colegiado de 15 desembargadores. Assim, Witzel estará mais próximo do presídio que do Palácio
do Planalto. E se realmente acabar atrás das grades, não será o primeiro: dos
quatro que o antecederam no cargo, Garotinho, Rosinha
e Pezão passaram pela cadeia e Sergio Cabral continua em cana.
Witzel foi afastado por 180 dias. Nesse entretempo, o
vice Cláudio Castro, responderá interinamente pelo governo do Rio. Segundo
a PGR, o vice-governador e o presidente da Alerj, André
Ceciliano, também são alvo da operação Tris in Idem. No total, são 17 mandados
de prisão, sendo 6 preventivas e 11 temporárias, e 84 de busca e apreensão.
O vice-presidente Hamilton Mourão disse que a corrupção se enraizou no Rio de Janeiro (só lá???) e que lamenta pelo povo fluminense. Na opinião do general, o afastamento de Witzel sugere que o processo de impeachment deve avançar e que a possibilidade de o governador reassumir o cargo é remota.
Já Bolsonaro, fiel a seu estilo... enfim, digamos apenas que o capitão ironizou a
situação do desafeto e disse que a coisa no Rio “está pegando”. Alguém
deveria lembrá-lo de que não há mal que sempre dure nem bem que nunca
termine, e que não há nada como um dia após o outro (não que eu simpatize com Witzel e o esteja defendendo, longe disso, mas pouca gente
Falando no Messias que não miracula, vale lembrar que Botafogo se aboletou sobre uma pilha de pedidos de impeachment contra ele (pelas últimas contas são mais de 50). De acordo com o manual de instruções desta banânia, compete ao presidente da Câmara a decidir quando e se dá andamento a pedidos de impedimento do presidente da República, mas isso deve mudar se o projeto do senador Veneziano Vital do Rego for aprovado. O parlamentar quer modificar a Lei do impeachment, que é de 1950, para fixar em dez dias o prazo para o presidente da Câmara decidir se recebe ou indefere um pedido abertura de processo de impeachment contra o chefe do Executivo. E com possibilidade de recurso ao plenário em caso de arquivamento.
Bolsonaro está feliz como um pinto no lixo com o a
aprovação de seu governo pelos pobres
e paupérrimos dos estados das regiões Norte e Nordeste — tradicionais currais
eleitorais de Lula, Ciro e outros esquerdopatas. Mas não custa lembrar que, segundo a sabedoria popular, quando a necessidade entra pela porta o amor sai pela
janela. E o corona-vale, que é o responsável pelo aumento da popularidade do
trevoso, não vale para sempre. Ao que tudo indica, o auxílio será mantido somente até dezembro, e o valor das próximas parcelas será de R$ 300.
Voltando à situação do Rio, não há mais pecados originais
nesse estado capturado por uma organização criminosa. O que há são novas
erupções de velhos esquemas. Na última quarta-feira, um
intenso tiroteio no Centro do Rio, com direito a rajadas de
metralhadora e explosão de granadas, teria sido iniciado após a invasão de
favelas por grupos criminosos rivais. Ana Cristina Silva, de 25 anos,
foi atingida dentro do carro, mas a troca de tiros impediu que o resgate do Corpo
de Bombeiros a socorresse. Ela
foi sepultada nesta sexta-feira, 28.
Estabeleceu-se no RJ uma rotina de trem fantasma, na qual um
espanto se esvazia quando é substituído pelo assombro seguinte.