Dizia eu no post do último domingo que os malabarismos jurídicos de Jair e Flávio Bolsonaro para escapar do tsunami provocado por seu ex-factótum, Fabrício Queiroz, ombreiam com as chicanas dos criminalistas estrelados pagos pelo criminoso Lula para tentar restabelecer-lhe o direito de disputar pessoalmente o pleito presidencial de 2018, mesmo sendo ficha-suja e hóspede compulsório da Superintendência da PF no Paraná.
No que depender do presidente da Câmara, os mais de 50 pedidos de impeachment contra o capitão cloroquina ficarão para as calendas. Botafogo está mais preocupado com a própria reeleição, mas “oficialmente” atribui à demora ao fato de a prioridade, agora, ser o coronavírus, e que os pedidos devem ser analisados com cuidado, para evitar uma nova crise institucional.
No que depender de Augusto Aras, que aspira a uma vaga no STF e se desmancha em salamaleques para aquele que pode assinar (ou não) sua nomeação, o capitão cloroquina será canonizado em vida. Se o passador de pano geral não mandar para o arquivo o inquérito que investiga a “suposta” ingerência de Bolsonaro na PF, será para cravar mais um prego no caixão de Sergio Moro e, por tabela, no da Lava-Jato em Curitiba (mais exatamente no de seu coordenador, o procurador Deltan Dallagnol).
Contando, ninguém acredita, mas no país do samba do crioulo doido, onde é o poste que mija no cachorro, o xerife periga ser preso por fazer seu trabalho, enquanto criminosos condenados (como Lula, Dirceu, Maluf, Queiroz e tantos outros) morrem de rir dos trouxas que acreditam na Justiça. É surreal.
Três procedimentos envolvendo Dallagnol estavam pautados para a sessão de ontem do chamado "Conselhão", entre os quais um pedido de remoção por interesse público. Dois são ações disciplinares movidas pelos senadores Renan Calheiros e Kátia Abreu — que envolvem publicação nas redes sociais e supostas atitudes de promoção pessoal — e o outro remete ao célebre (e tosco) powerpoint que o procurador usou para explicar a denúncia apresentada contra Lula em 2016. Como dizia o saudoso João Gilberto, “vaia de bêbado não vale”, mas no tal país onde é o rabo que abana o cachorro vale tudo para prejudicar o combate à corrupção, até denúncia do cangaceiro das Alagoas — réu no STF e alvo de não sei quantos inquéritos.
Na semana passada, a força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba saiu em defesa de Deltan. Em nota, o grupo argumentou que as representações em julgamento não foram provadas, incluem episódios arquivados pela Corregedoria e foram trazidas à tona em um "movimento de reação aos avanços contra a corrupção visando a impedir ou macular investigações". Na véspera do julgamento no CNMP, procuradores em todo o País lançaram manifesto em que defendem "importância das garantias constitucionais da inamovibilidade e da independência funcional para o regular cumprimento das suas relevantes funções em defesa da sociedade". Até a tarde do último domingo, 16, o documento contava com mais de 2 250 assinaturas (as adesões foram contabilizadas em cerca de 24 horas, sendo que a coleta das assinaturas foi aberta na tarde deste sábado, 15).
Segundo o abaixo-assinado, "um Ministério Público forte e respeitado em suas garantias constitucionais é do interesse de toda a sociedade, que terá a certeza, assim, de poder contar, sempre, com um fiscal imparcial e um agente ativo no enfrentamento da criminalidade organizada e da corrupção, na defesa dos direitos humanos, do meio ambiente e dos consumidores, bem como na vigilância permanente das liberdades, dos valores democráticos e da igualdade para todos".
O ministro Celso de Mello acatou o pedido para retirar da pauta do conselho dois dos três procedimentos até ulterior decisão do Supremo. Horas antes dessa decisão, o ministro do Luiz Fux já havia concedido uma liminar para impedir que o conselho usasse como agravante uma pena de advertência aplicada no ano passado porque, em entrevista à Rádio CBN, o procurador disse que alguns ministros passam a mensagem de leniência a favor da corrupção em algumas de suas decisões. Também na segunda-feira, Deltan destacou que jamais defendeu "pautas partidárias, ideológicas, candidatos ou partidos", e que está em jogo não é apenas seu futuro ou o da Lava-Jato, mas se os membros do MP poderão trabalhar de forma combativa sem medo de sofrer retaliações de criminosos ricos e poderosos.
Inobstante as decisões dos ministros Fux e Mello, resta a possibilidade de abertura processo disciplinar por conta do folclórico powerpoint. Sobre esse caso, em entrevista à CNN Brasil em entrevista à CNN Brasil, o procurador disse o seguinte: "A forma de apresentação eu faria diferente para evitar a polêmica e as críticas que geraram. A questão é que não rendeu bons frutos, rendeu discussão desnecessária".
A ver que bicho dá.