De acordo com o Evangelho segundo os bolsomínions, o atual governo é a quintessência da lisura: “nos últimos 21 meses não houve uma denúncia sequer de corrupção”, dizem os miquinhos amestrados do capitão cloroquina. E o fazem com a mesma convicção dos devotos da seita do inferno à probidade da autodeclarada “alma viva mais honesta do Brasil”. A explicação está no nome de uma canção enjoadinha que fez um bruto sucesso em 1969. Enfim, o fato é que o fanatismo cega e a burrice mata.
Nem a Velhinha de Taubaté engoliria a falácia de que alguém sobrevivesse
puro e imaculado a 28 anos na Câmara Federal. Além disso, as célebres “movimentações
atípicas” identificadas pelo Coaf nas contas de Fabrício Queiroz
já cheiravam mal antes mesmo de o chefe do clã subir a rampa do Planalto. Prova
disso é o inquérito que investiga o vazamento de informações
sobre a deflagração da operação Furna da Onça, que levaram à
demissão de Queiroz do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro
e da filha do velho amigo e companheiro de pescaria (e sabe-se lá do que mais)
do gabinete de então deputado federal e hoje presidente desta república de almanaque.
Graças à morosidade da Justiça e à ajuda de amigos (ou
comparas) influentes, a investigação sobre o “suposto
esquema das rachadinhas” levou
mais de dois anos para ser concluída (falar em “suposto esquema” depois que
Queiroz
admitiu em depoimento ao MPF-RJ que deu satisfações a FB sobre o
caso das “rachadinhas” e de o próprio FB
reconhecer que o ex-assessor pagava suas contas é uma grande
hipocrisia, mas enfim...).
Tanto Zero Um quanto seu ex-factótum deverão ser denunciados
pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa — talvez
até já o tenham sido quando esta postagem for ao ar: O Globo chegou a publicar
que
a denúncia ocorrera nesta terça-feira, mas retificou a informação depois
de uma nota do MP-RJ ter afirmado que "até o momento" não havia denúncia
ajuizada contra o atual senador Flávio Bolsonaro nas investigações referentes a
movimentações financeiras em seu gabinete no período em que era deputado
estadual.
Observação: Segundo o Jornal, durante a
transmissão da denúncia para o Tribunal de Justiça o sistema eletrônico falhou, provavelmente pelo volume dos autos
apresentados (mais de 300 páginas).
A partir dos dados das quebras de sigilo bancário e fiscal,
os promotores vão apontar que o senador
usou, pelo menos, R$ 2,7 milhões em dinheiro vivo do esquema das
rachadinhas. Os valores somam os três métodos pelo qual o filho do presidente
"lavou" o dinheiro em espécie.
Mudando de pato para ganso, ou melhor, para gansa, o vídeo com a música “Micheque”, da banda de rock Detonautas, não parecia destinado a virar um campeão de audiência no YouTube quando ali foi postado no último dia 4.
De autoria
de Tico Santa Cruz, vocalista da banda, a letra da música foi inspirada
pela descoberta de que Queiroz depositou R$89 mil reais na conta de Michelle Bolsonaro. Mas aí, na quinta-feira dia 25, Michelle prestou queixa
na Delegacia de Crimes Eletrônicos do DEIC, em São Paulo. Quer que sejam
processados por calúnia, injúria e difamação todos os que passaram a chamá-la
de “Micheque” nas redes sociais, inclusive os roqueiros da banda.
Segundo Ricardo Noblat, a primeira-dama deu um tiro
no pé. Até a última quinta-feira, a sátira dos Detonautas somava quase
700 mil visualizações; na madrugada de segunda, 28, ultrapassou a marca de 1
milhão e 330 mil. A banda apenas surfou na onda e se deu bem. O que espanta é
que ninguém no governo, nem mesmo o presidente, tenha aconselhado a esposa a não fazer o que fez.
A primeira-dama nada teve a ver com o dinheiro depositado em sua conta. Ao que tudo indica, o dinheiro era um negócio particular entre Queiroz e seu marido. Mas o general da banda poderia tê-la poupado do constrangimento. Por que não se apressou em esclarecer o motivo pelo qual Queiroz depositou R$ 89 mil na conta dela? Que tipo de vantagem política imagina extrair da iniciativa que teve Michelle de procurar a polícia? Por que insiste em permanecer calado? Está com medo do quê?
Já Michelle parece desconhecer a diferença entre liberdade de expressão e crime, daí estar pedindo punição a uma banda de rock. Quer ainda, segundo O Globo, que uma de suas músicas seja proibida em ambientes públicos e privados! Públicos e privados? Nem a censura da ditadura ousou tanto. O regime militar proibiu músicas em penca, mas não se sabe, ao menos até onde a memória alcança, que alguma casa tenha sido invadida em busca de "Cálice", de Chico Buarque.