quinta-feira, 1 de outubro de 2020

BLISS E VAZAMENTO DO CÓDIGO DO XP

 

NUNCA ENCONTREI UMA PESSOA TÃO IGNORANTE QUE NÃO PUDESSE TER APRENDIDO ALGO COM A PRÓPRIA IGNORÂNCIA.

Desenvolvido a partir do kernel do WinNT 5.1, o Windows EXPerience foi lançado em 25 de outubro de 2001 com pompa e circunstância dignas do nascimento de um príncipe. 

Livre das amarras impostas pelas encarnações 9X/ME, a nova versão implementou uma política de contas e senhas de acesso mais aprimorada — na tela de logon do WinME, por exemplo, bastava pressionar Esc para burlar a exigência de nome de usuário e senha. 

Ainda assim o XP foi alvo de críticas, devido a problemas de segurança que só foram corrigidos após a liberação de dois Service Packs (“pacotes” que englobavam todas as atualizações/correções disponibilizadas desde o lançamento de uma determinada edição do Windows ou do Service Pack anterior, conforme o ponto do ciclo de vida em que o software se encontrava naquela ocasião) dos três que a Microsoft lançou ao longo dos quase 13 anos de vida útil do programa, mais exatamente em 2002, 2004 e 2008.   

O XP conseguiu “aposentar” o festejado Win98 SE — missão que o WinME, lançado no final de 2000 a toque de caixa, para aproveitar o apelo mercadológico do novo milênio que se iniciava, não conseguiu cumprir. E se tornou a versão mais longeva da história do Windows, sendo até hoje utilizada em 0,82% dos PC em todo o mundo — contra 0,41% do Vista, que chegou ao mercado bem depois, em janeiro de 2007. Quanto às demais versões, a atual (Win10) abocanha 73,76% das máquinas, e o Win7 ainda opera 19.44% delas (bem mais que os 4,47% do Win8.1 e do 1,07% do Win8, que continuam sendo suportados pela Microsoft).

Seu inesquecível papel de parede (vide figura que ilustra esta postagem) sempre me pareceu ter sido inspirado no cenário do programa infantil Teletubbies, que foi produzido pela BBC e apresentado entre 1997 e 2002. Mas na verdade ela se chama Bliss (felicidade), e foi baseada numa foto tirada por Charles O’Rear em janeiro de 1996, na região de Napa Valley (ao norte de San Francisco, no estado americano da Califórnia).

O’Rear passava por aquele local todas as sextas-feiras, a caminho da casa da namorada, mas naquele dia em particular o contraste do verde do gramado com o azul do céu claro e quase sem nuvens lhe chamou a atenção. Ele conta que a Microsoft viu em sua foto a imagem de paz e tranquilidade que buscava para o plano de fundo padrão da nova versão do Windows, e que, depois de acertarem o preço, ele foi pessoalmente até Redmond, a expensas da empresa, levar a foto e formalizar a cessão dos direitos autorais.

O valor envolvido na transação jamais veio a público, mas estima-se que só perdeu para o da foto de Bill Clinton com Monica Lewinsky — a estagiária dos lábios de veludo que não soube manter a boca fechada e contou sobre o boquete, com riqueza de detalhes sórdidos, a uma amiga... e a amiga gravou a conversa...  e... bem, digamos que a história correu o mundo e quase custou a Bill Clinton o cargo e o casamento.

De acordo com o Olhar Digital, o vazamento do código-fonte do XP, no último dia 25, revelou um tema secreto que parece “pegar emprestada” parte da identidade visual dos Macintosh da época. Segundo o site The Verge, o tema, chamado de Candy (doce), teria sido utilizado somente nas etapas iniciais do desenvolvimento do XP, e está incompleto. No entanto,  tudo indica que alguns elementos foram, sim, inspirados no Mac OS — com destaque para os botões do sistema, que adotam o formato de pílula translúcida tridimensional da interface "Aqua", revelada pela Apple em 2000.

O fato de o código vazado dizer que o tema “era apenas para uso interno” sugere que a Microsoft utilizou os elementos inspirados no Mac OS apenas temporariamente, enquanto desenvolvia seu tema próprio para o XP, que mais adiante se tornou icônico, com uso acentuado de tons verdes e azuis, e ficou conhecido como "Luna".

O caso chama a atenção devido à rivalidade entre a Apple e a Microsoft na virada do século, que levou à campanha publicitária "Mac vs PC", na qual a marca da maçã buscava passar a imagem de alternativa jovem, moderna e segura, enquanto a do produto da rival encarnava o "atraso" (notadamente do Windows Vista, então a bola da vez, que foi um estrondoso fiasco de crítica e de público).