terça-feira, 20 de outubro de 2020

AINDA SOBRE NOTEBOOKS, SUPERAQUECIMENTO ETC. (PARTE III)

EMPREENDEDOR É QUEM REALIZA COISAS NOVAS, NÃO NECESSARIAMENTE QUEM AS INVENTA.

Conforme eu mencionei no capítulo anterior, os notebooks — ou laptops, como eram chamados os portáteis mais volumosos e de configuração mais robusta, até essa denominação cair em desuso — já foram um “sonho de consumo” que a maioria de nós não podia bancar. Mas não há nada como o tempo para passar, nem como a evolução tecnológica para substituir produtos de ponta por outros ainda mais avançados em intervalos de tempo cada vez mais curtos.

O automóvel é um bom exemplo: ele só se tornou-se acessível aos mortais comuns depois que o visionário Henri Ford idealizou a linha de montagem. Outros exemplos remetem ao relógio a quartzo nos anos 1970 (ainda me lembro que raspei o fundo do tacho da minha poupança para comprar um Omega Pulsar); ao videocassete, nos anos ’80; ao PC e ao celular, nos anos ’90; às telas de cristal líquido, na virada do século; ao notebook, em meados da década passada... e por aí afora.

A cada lançamento, a versão imediatamente anterior cai de preço — e os consumidores que não podem ou não fazem questão de estar up to date fazem a festa. Paralelamente, o aumento do consumo estimula a produção em larga escala, que reduz os custos de fabricação e, por tabela, o preço cobrado do consumidor final. 

A título de ilustração, meu primeiro note — um Compaq Evo n1020v Intel Celeron 1,7GHz/20GB/128MB — custou R$ 4,4 mil no início de 2003. Atualizado pelo IGPM, esse valor corresponde a R$ 13.393,34; pelo salário-mínimo vigente até março daquele ano, a R$ 22.990; e pelo SM que entrou em vigor no mês seguinte, R$ 19.155.

Em 2007 eu registrei aqui no Blog que o preço dos portáteis vinha "descendo a ladeira" (redução de 50% nos últimos 18 meses), e que o momento era ideal para substituir o volumoso desktop por um portátil, que podia tanto ser levado facilmente a toda parte (e até ser usado em trânsito) quanto substituir com vantagens o ultrapassado computador de mesa. Além do ganho em espaço (portáteis não têm torre e integram seus próprios monitores, teclados e mouses), a troca eliminava a incomodativa macarronada de cabos e fios.   

Com R$ 1,8 mil, ressaltei na postagem, era possível levar para casa um note “bem basiquinho” (eufemismo para entry level, ou seja, versão de configuração pobre e preço mais acessível). Por outro lado, quem quisesse um notebook de responsa precisava preparar o bolso: modelos “top de linha” custavam mais de R$ 10 mil.

Por uma curiosa coincidência, os valores mencionados então retratam a realidade atual — ou retratariam: em 2017 a cotação do dólar variou de R$ 2.14 (em janeiro) a R$ 1,79 (em dezembro). Hoje, US$ 1 equivale a R$ 5,58, e isso no câmbio oficial. Faça as contas.

Por outra estranha coincidência, caminhava o ano de 2007 para seu segundo trimestre quando me deu na veneta revisitar o mundo encantado dos desktops. 

Depois de selecionar cuidadosamente os componentes e montar uma máquina para gamer nenhum botar defeito. Pus à venda Toshiba Sattelite que me havia custado R$ 6 mil no finalzinho de 2005 e só consegui apurar R$ 2 mil. Em cerca de um ano e meio, amarguei uma desvalorização (eufemismo para "prejuízo") de R$ 4 mil — quase o preço que paguei pelo Compaq em 2003.

Meu Frankenstein prestou bons serviços por anos a fio, mas aí veio o Windows 10 (em julho de 2015) e por alguma razão a versão OEM do Windows 7 SP1 que eu havia instalado não foi aprovada pelo Upgrade Advisor (ferramenta oficial da Microsoft que faz  as análises necessárias para verificar a compatibilidade e se o upgrade é possível).

Por sorte, minha irmã, que já era fã do iPhone, resolveu comprar um MacBook e me passou o Dell Vostro que comprara dois anos antes (cuja configuração eu próprio havia escolhido). Em dezembro passado, comprei um Dell Inspiron Intel Core i7/1TB/8GB para substituir o Vostro. 

Em mais uma curiosa coincidência, os preços do note, da garantia estendia e do combo de teclado e mouse wireless Microsoft que eu aproveitei o embalo para comprar somaram exatos R$ 4,4 mil, ou seja, noves fora a inflação dos últimos 17 anos, o mesmíssimo preço do Compaq que comprei em 2003.

Continua.