Bibo pai e Bobi filho são boquirrotos e falastrões quando lhes convém. Sobre os encontros secretos com empresários da Aeroportos Brasil Viracopos — que fechou um acordo com o governo depois de contratar os serviços de consultoria jurídica de Frederick Wassef —, a dupla de dois guarda um silêncio sepulcral.
Segundo reportagem da revista eletrônica Crusoé, o mafioso de comédia e então advogado da Famiglia Bolsonaro valeu-se de sua proximidade com Planalto para fechar um contrato de R$ 5 milhões com a Viracopos, em novembro do ano passado, quando a empresa era alvo de um processo que a levaria à falência. Um dia depois de ter sido contratado pela concessionária, Fred promoveu um encontro entre representantes da empresa e Flávio Bolsonaro, o impoluto (passagens aéreas emitidas pelo Senado comprovam que o primogênito do presidente desembarcou na capital paulista na manhã da reunião e retornou à Brasília na manhã seguinte). Procurado pela reportagem, Bobi filho não se manifestou.
Em 2017, a Viracopos havia proposto um acordo que a Anac rejeitou. Três meses depois de contratar Fred e se encontrar com Zero Um, o mesmíssimo acordo prosperou maravilhosamente: ficou acertado que a empresa desistiria da ação judicial, devolveria a concessão para uma nova licitação e negociaria uma indenização na corte de arbitragem.
O decreto autorizando a relicitação foi publicado em julho pelo presidente da República, dois meses depois de uma reunião com o presidente do conselho de administração de Viracopos, João Villar Garcia — o Nico —, no Palácio do Planalto. A agenda oficial mostra que Wassef teve uma conversa de 15 minutos a sós com o "mito", uma hora antes desse encontro.
Ainda segundo a reportagem, o causídico promoveu um segundo encontro entre Nico e o presidente, desta vez no Palácio da Alvorada, à noite e fora da agenda (qualquer semelhança com Joesley Batista e o vampiro do Jaburu ou é mera coincidência ou plágio descarado). Perguntado sobre o assunto, Bibo pai, a exemplo de Bobi filho, preferiu não se manifestar, e as visitas que recebe na residência oficial da Presidência são mantidas sob sigilo.
Em nota, Wassef negou os “encontros secretos”, disse que continua “trabalhando para a concessionária de Viracopos” e que o fato de advogar para o clã presidencial (na época em que os fatos ocorreram, já que ele deixou de prestar serviços advocatícios à primeria Famiglia depois da prisão de Queiroz) não o impede de ter vida normal e continuar exercendo a profissão com seus demais clientes. A julgar pelas narrativas mirabolantes que o insigne jurisconsulto urdiu para tentar explicar por que Queiroz estava mocosado em sua casa em Atibaia, havia cerca de um ano, quando foi localizado e capturado, e que de escritório de advocacia a tal casa só tinha uma placa no portão, nem mesmo a Velhinha de Taubaté... bem, pra bom entendedor...
Em junho, quando O Antagonista trouxe à luz a história do contrato da Viracopos com Wassef, um advogado solicitou a abertura de uma investigação para apurar se ele e os Bolsonaro cometeram crimes de advocacia administrativa, tráfico de influência e corrupção.
A PGR instaurou um procedimento preliminar para decidir se há indícios suficientes para a abertura de um inquérito, mas, considerando como vem procedendo sua excelência o procurador-geral, de olho numa suprema toga — que acabará vendo pelo binóculo, pois a vaga do decano será ocupada pelo desembargador Cassio Nunes, do TRF da 1ª Região, supondo que o Senado aprove a indicação.
Mas isso fica para o post de amanhã.