Em números absolutos de infectados pela Covid-19, o
Brasil só fica atrás dos EUA e da Índia. No último dia 25, ultrapassamos a
marca de 190 vítimas fatais. Isso de acordo com o ministério da Saúde; um levantamento da Vital
Strategies dá conta de que pode haver mais de 220 mil mortos.
Enquanto a imunização está a todo vapor em outros países,
inclusive na América Latina, o alienado que governa o Brasil (ou deveria
governar) circula sem máscara pela capital federal, cumprimentando puxa-sacos e
brindando seus muares amestrados com as inevitáveis asnices que o notabilizaram: perguntado se não se sente
pressionado pelo fato de outros países terem começado a vacinação, nos indômito capitão deixou
claro, mais uma vez, seu estapafúrdio menoscabo pela saúde pública: “Ninguém
me pressiona para nada, eu não dou bola para isso“.
Esse descaso vai custar a vida de muita gente, mas "E
daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Todo mundo vai morrer um
dia". Só faltou parafrasear o grande general Augusto Heleno e soltar
um sonoro "Foda-se!"
Mas o que esperar de um mandatário que não nasceu para ser presidente, nasceu para ser militar (e nem isso
conseguiu, pois foi excluído dos quadros da Escola de Oficiais por indisciplina e insubordinação)?
Que festeja como vitória pessoal a morte de um compatriota
que se voluntariou para testar um imunizante contra a Covid, e
chama de “maricas” os que se preocupam em continuar vivos?
Que, em menos de um mês, defenestrou dois médicos do comando
da Saúde (desde maio que não há
ninguém da área médica chefiando a Pasta) para nomear um dublê de interventor
militar e pau-mandado
e transformar o ministério em cabide de farda?
Que o Washington Post "elegeu" o pior líder global no combate à pandemia?
Que não criou (nem permitiu
que seu esbirro criasse) um plano de vacinação — ao contrário; sabotou o quanto
pode a “vacina chinesa do Doria” — achando, talvez, que uma pilha de 200
mil cadáveres fosse eleitoralmente irrelevante frente aos mais de 65 milhões de
desassistidos que receberam o coronavoucher?
Deixe estar, jacaré, que a lagoa há de secar. Ao contrário
da pandemia, o auxílio emergencial está com os dias contados. Sem outro
programa de assistencialismo populista (como os que tanto criticou nas
gestões anteriores), a popularidade do capitão-letargia não tarda a subir no telhado — uma
péssima notícia para quem tem a reeleição como projeto de governo e a blindagem
da suspeitíssima filharada como prioridade
#1.
Com os pés no palanque e os olhos postos em 2022, Bolsonaro não vê que o controle da pandemia passa pela vacinação em
massa, e que o reaquecimento da economia vem a reboque. Instigar a ospália de devotos
a descumprir o isolamento não é a melhor política, a menos que sua estratégia
seja alcançar a imunização mediante a contaminação da população, “na base do se
não morreu, é porque sobreviveu”.
Bolsonaro rifou a saúde pública em nome da disputa eleitoral. Agora, em mais uma canhestra tentativa de disfarçar o indisfarçável, diz que "a pressa pela vacina não se justifica" e que “não vai colocar em risco a saúde da população”. Por alguma razão incompreensível para quem não vive, como ele, no mundo da lua, as vacinas podem não ser seguras, mesmo submetidas e aprovadas em todos os testes realizados pela comunidade científica — talvez o capitão-cloroquina depositasse mais confiança nos imunizantes se eles tivessem sido revisados pela Universidade do WhatsApp.
A pressa é inimiga da perfeição, mas toda regra tem exceção. O tempo urge, e providências imediatas devem ser tomadas, tanto pelo ministério da Saúde, para imunizar a população o quanto antes, como pelos outros Poderes, aos quais compete determinar medidas urgentes para evitar que o mau militar e parlamentar medíocre que conspurca o Palácio do Planalto aprofunde ainda mais a crise com sua inação e irresponsabilidade e aparelhe instituições como a PGR e o Congresso, que, numa situação de normalidade democrática, tê-lo-iam defenestrado do cargo antes que esse estrago acontecesse.
O que indica que o
país tem duas doenças, mas uma das vacinas só estará disponível em outubro de
2022
Com Leonardo Sakamoto