domingo, 3 de janeiro de 2021

TCHAU, BELLO!


Bolsonaro não é louco, nem irracional, nem inconsequente, embora pareça ser tudo isso e mais um pouco. Tivesse um mínimo de classe e poderia ser qualificado como estrategista. Ainda que um estrategista 100% irresponsável. Aliás, a esperteza, quando é muita, vira bicho e engole o dono. 

A irresponsabilidade é a marca registrada desse governo caótico, onde tudo vem sendo feito nas coxas, à base de improvisos, a começar pela escolha de um ministério patético. 

Em meio à maior pandemia sanitária dos últimos 100 anos, o ministro da Saúde é um general tido como expert em logística, mas que gerencia a pasta como se administrasse o Quartel dos Trapalhões

A ministra da Agricultura caiu no ridículo com a falácia do “boi bombeiro”, enquanto seu colega da Infraestrutura encarna Odorico Paraguaçu (prefeito de Sucupira no folhetim O Bem Amado) ao descerrar placas em inaugurações de bicas, canais sem água e obras concluídas em governos anteriores. 

Pelo andar da carruagem, o ministro da Tecnologia — o único astronauta brasileiro que foi ao espaço — não tarda a convocar uma coletiva de imprensa para comunicar oficialmente que a Terra é plana

Da pastora Damares e do general Heleno, então, é melhor nem falar.

Diante da enxurrada de protestos por deixar a CoronaVac — justamente a vacina mais acessível — de fora de seu mal ajambrado plano de vacinação, o obediente e subserviente general Pazuello concedeu que compraria o imunizante chinês “se houvesse demanda” (como se fosse possível não haver). 

Como se não bastasse, o logístico ilógico incluiu em seu plano sem lógica a vacina da Pfizer, que precisa ser armazenada a –75º C. Antes descartada de modo precipitado — o general não se informou se alguém teria os congeladores adequados (laboratórios particulares, que cobrem mais de 30% da população do país, têm), nem se o próprio laboratório ofereceria alguma saída (sim, oferece), nem se fabricantes brasileiros teriam condições de produzi-los — o imunizante foi incluído sem que se esclareça como se resolverá a refrigeração.

Élcio Franco, o imediato que desconhece o significado da palavra “meta”, disse que seria uma “irresponsabilidade” fixar datas. Mas não disse se foi irresponsabilidade não ter encomendado previamente seringas e agulhas

Forçado pelo STF, o bambambã da logística garantiu que vai começar a vacinar em até cinco dias após a aprovação pela Anvisa, mas não explicou como será a distribuição. 

Já o contra-almirante que dirige a agência, burocrata até a medula e unha e carne com Bolsonaro, prefere procurar erros de preenchimento que lhe permitam negar aprovação à CoronaVac a acelerar o processo de aprovação das vacinas e cumprir seu dever de defender a saúde.

Em conversa com apoiadores no último dia 28, Bolsonaro — “um parvo que, devido a uma conjuntura muito especial, alcançou a Presidência da República”, na irreprochável definição do professor e historiador Marco Antonio Villaescarneceu da tortura imposta pela ditadura à gerentona de araque (quando ela ainda era guerrilheira de festim): 

Dizem que a Dilma foi torturada e fraturaram a mandíbula dela. Traz o raio-X para a gente ver o calo ósseo. Olha que eu não sou médico, mas até hoje estou aguardando o raio-X, afirmou o presidente.

Não tenho procuração para defender a pior presidanta que já governou esta banânia, e se tivesse, eu a rasgaria, Mas acho inaceitável a atitude do capitão-sem-noção. 

Por outro lado, vindo de alguém que endeusa Donald Trump e o coronel Ustra, exigir de uma torturada a exibição de sequelas que comprovem a tortura não deveria causar estranheza. Ao contrário do fato de a mídia, Rodrigo Maia, Gilmar Mendes e outras vestais ofendidas fazerem tamanho carnaval por conta dessa bobagem. 

Não é preciso ser um sherlock para deduzir que essa falastrice não passa de uma estratégia usada pelo general da banda sempre que se vê numa posição adversa — como agora, diante da indisfarçável incompetência do incompetente que comanda a Saúde no combate à pandemia. 

Será que dois anos assistindo a esse teatrinho não foram suficientes para cair a ficha desses luminares, que parecem não se dar conta de que o capitão-conversa-mole cria factoides para tirar o foco de questões que o atingem negativamente ou a alguém da sua família? De que tenta mudar de assunto para fugir de perguntas sobre sua péssima gestão em meio à pandemia, sobre as reuniões realizadas no Palácio do Planalto para orientar a defesa do senador Flávio “Rachadinha” Bolsonaro, entre outros temas "sensíveis"?

Enquanto o capitão-mefistofélico desconversa, o Brasil observa com perplexidade barbaridades que saltam aos olhos. Mas uma hora a cortina de fumaça vai deixar de  funcionar. 

O povo quer saber o que será feito para acabar com a pandemia, por que a vacinação já começou em outros países (e não no Brasil) e até quando a primeira-família continuará sendo blindada

E, se calhar, quando seu presidente vai começar a governar, que não estamos exatamente num momento de calmaria política, econômica ou sanitária que permita empurrar com a barriga os graves problemas nacionais. 

Vivemos a pior crise sanitária dos últimos cem anos numa década que registrou o pior crescimento do PIB da história republicana, a maior taxa de desemprego já contabilizada e um isolamento diplomático que transformou o Brasil numa África do Sul da época do apartheid.

Estamos sendo “governados” por um lunático que é ridicularizado no mundo inteiro. Por sua causa, o Brasil se tornou um pária. Quando esse alienado assumiu o governo, éramos a oitava economia do mundo; hoje somos a décima segunda. Estamos chegando a 200 mil mortos — número dramático e que poderia ser maior não fosse à ação corajosa de prefeitos e governadores, que enfrentaram a conspiração urdida contra o Brasil e sua população. 

Até quando vamos suportar esse doidivanas na Presidência da República? Quantos crimes de responsabilidade ele adicionará à interminável lista dos que já cometeu enquanto Rodrigo Maia espera “o momento político adequado” para penabundá-lo do cargo? 

Bolsonaro banalizou a barbárie. Os brasileiros não podem se acostumar às ações antinacionais e antirrepublicanas. Já passou da hora de conclamar: fora Bolsonaro!