O desemprego atingiu a taxa recorde de 14,4%, enquanto o país carrega a lanterninha na corrida pela vacina contra a Covid — cujas taxas estão em alta na maioria dos estados. E o medo de se tornar um jacaré ou de receber um chip 5G dentro do corpo está provocando um considerável aumento do movimento antivacina no Brasil. “O paradoxo desse aumento é que, sem se vacinar, o grupo antivax tende a perder membros para a doença. O que seria até bom se não levassem com eles pessoas que querem mas não podem se vacinar”, declarou o epidemiologista Charlesdarvinson dos Santos.
Por outro lado, a inércia do Ministério da Saúde em relação
ao programa nacional de imunização está incomodando até quem é contra a vacina:
“Se não tem vacinação pública, como
vou ser contra a vacina? Esse país é uma bagunça”, declarou um cidadão
de bem do movimento antivacina. Para deixar a situação mais feia, Bolsonaro voltou das férias com um novo
corte de cabelo (confira na ilustração). Numa tentativa fracassada de franja Justin Bieber, terminou num estilo Joselino Barbacena com uma pitada de Jim Carrey em Débi&Loide. No mesmo dia, criticou a qualificação dos
trabalhadores brasileiros, dizendo que não sabem fazer “quase nada”. A inspiração certamente foi seu barbeiro.
Gozações à parte, na manhã desta segunda-feira o CoronaVac, foi
aprovado na Indonésia, onde a taxa de eficácia geral — que leva em
consideração todos os casos registrados durante a fase 3 de testes — ficou em
65,3%. Na semana passada, o governador João
Doria afirmou que a vacina apresentou 78% de eficácia contra
casos leves da doença e 100% contra os quadros graves e moderados (o
mínimo estabelecido pela Anvisa para
aprovação é de 50%).
O índice geral de eficácia, referente a toda a amostra de
voluntários, foi adiada por duas vezes e ainda não foi divulgado. De
acordo com o governo de São Paulo, a SinoVac
solicitou os dados do estudo para comparação com informações coletadas em
outros países, mas a ausência de informações básicas fez com que cientistas
externos critiquem a falta de transparência do Butantã.
Na coletiva de imprensa programada para hoje, o governador deve
apresentar os dados. Ele pretende iniciar a vacinação em massa no próximo dia
25 (com profissionais de saúde, indígenas e quilombolas, num total de 9 milhões
de pessoas). A administração das duas doses nesse público prioritário
terminaria em 28 de março, mas a compra de 100 milhões de doses da CoronaVac pelo governo federal pode acarretar
algum atraso no cronograma.
De acordo com o secretário executivo da Secretaria Estadual
da Saúde, Eduardo Ribeiro, as doses
partirão do Instituto Butantã para
uma central de logística do governo, de onde seguirão para os 200 municípios
mais populosos, com mais de 30 mil habitantes. Serão 2 milhões de doses por
semana, distribuídas por meio de caminhões refrigerados, que entregarão o
fármaco também a 25 centros de distribuição regionais, onde as outras 445
cidades paulistas poderão retirar o imunizante.
O secretário disse ainda que, além dos 5 mil postos de
vacinação existentes no Estado, a imunização poderá ser realizada em locais
como terminais de ônibus, estações de
trem e escolas, o que levaria a 10
mil os pontos de atendimento que
atenderão de segunda a sexta, das 8h às 22h, e aos fins de semana e feriados,
das 8h às 18h.
A CoronaVac teve o
pedido de uso emergencial submetido à Anvisa
na última sexta-feira, mas, no dia seguinte, após uma triagem dos documentos, a
agência informou que faltavam informações para avaliar a solicitação. Às 22h do sábado, o Butantã apresentou as informações, mas os técnicos da Anvisa verificaram que ainda faltam dados
necessários à avaliação da autorização de uso emergencial.
O secretário da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, disse no domingo que a documentação entregue à Anvisa estava completa. “Não entendemos o que realmente
aconteceu. Talvez localmente houvesse um atraso na remessa de um ou outro
documento, mas a informação que obtivemos com o presidente do Butantan, Dimas
Covas, é que o material estava completo. Por uma questão de respeito e
necessidade, esses dados foram reenviados para a análise ser feita da forma
mais rápida possível, sem perder qualquer nobreza científica “, disse o
secretário à CNN.
O pedido feito no mesmo dia pela Fiocruz, para uso emergencial da vacina de Oxford — a grande aposta do governo federal para dar início à
vacinação no país — foi aceito sem ressalvas. Segundo Doria, “chama a atenção” o fato de as
informações fornecidas pela Fiocruz,
entidade ligada ao Ministério da Saúde e ao governo federal, estarem completas
e o relatório de 12 mil páginas do Butantan
não.
O que se avalia nos bastidores é que, pressionado pela
urgência da vacinação, Bolsonaro
quer ter o ganho político de anunciar que a vacina apoiada pelo governo federal
foi a primeira a ser aplicada no Brasil. E, por isso, a Anvisa estaria empenhada em aprovar a vacina Oxford/Fiocruz primeiro. Em
meio a essa palhaçada, a pandemia em São
Paulo se agrava a cada dia. Na Grande São Paulo, o número de novos
casos cresceu 51,4% na última semana. E o número de mortes cresceu 56,4%. A
região também bateu recorde de internações em um único dia: no sábado foram
internadas 1.007 pessoas com covid-19. Número semelhante só ocorreu em 15 de
agosto do ano passado, quando 1.042 foram internadas com a doença.
“O Butantan
encaminhou um relatório de 10 mil páginas para a Anvisa. Qual a razão que uma
instituição consolidada e de projeção internacional não encaminharia
informações suficientes para a validação de uma vacina à Anvisa? O que difere a
Fiocruz do Butantan? Por que uma vacina está ok, os dados estão completos,
perfeitos, e a Anvisa ainda anuncia que pode antecipar a aprovação da vacina da
Fiocruz, que pertence ao governo federal, enquanto a vacina do Butantan, que
pertence ao governo de São Paulo, a relutância e o grau de exigência sobem?”,
questionou o governador, que, pelo Twitter, afirmou que os ritos da
ciência devem ser respeitados, mas é preciso
lembrar que o Brasil perde “cerca de mil vidas/dia para a Covid.
O acordo de exclusividade celebrado entre
o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan estabelece que todas
as doses produzidas pelo laboratório serão compradas pelo governo federal e
distribuídas pelo SUS em todo o
território nacional. Segundo o governo, o contrato envolve a aquisição de 46
milhões de unidades fabricadas pelo Butantan.
O assunto, contudo, não deve ser dado por encerrado. Isso porque Doria não está disposto a liberar as doses sem que o
ministro Pazuello divulgue detalhes
do plano nacional de imunização.
Com O Sensacionalista.