terça-feira, 26 de janeiro de 2021

O CACIQUE E O PAJÉ

 

Depois que a Anvisa condenou o tratamento precoce com fármacos sem eficácia comprovada contra a Covid, o capitão-cloroquina apagou todas as fotos em que aparecia com a caixinha do remédio na mão e um sorriso aparvalhado no rosto. Em nota, ele declarou que não é coveiro nem muito menos curandeiro, que quem queria distribuir mamadeiras de cloroquina em creches e escolas era o Lula, mas ele impediu. Numa live, acusou a bancada do PT na Índia de atrasar a remessa dos 2 milhões de doses da vacina de Oxford; no cercadinho, durante a habitual conversa de alcova com apoiadores descerebrados como ele, confidenciou que agora a prioridade do governo é consertar a relação com a China... que a Dilma destruiu.

A OMS embarcou na onda do tratamento precoce, mas, em vez de cloroquina e remédio para piolho, recomendou o impeachment de Bolsonaro. “Não tem comprovação científica nem que sim nem que não” — disse o diretor da organização, mas é o melhor remédio contra verme que conhecemos”, disse o diretor.

Enquanto conversas sobre impeachment ganham corpo, aumenta o número de brasileiros que se dizem dispostos a tomar a vacina. Afinal, o único efeito colateral da CoronaVac é fechar a tramela do capitão, ao passo que o impeachment acarreta a indesejável promoção do vice a presidente. 

Assessores palacianos que não quiseram se identificar disseram que quando o morubixaba ficou mudo por 24 horas, depois que a Anvisa aprovou a “vacina chinesa do Doria”, o governo viveu seu melhor momento em dois anos. Estão pensando até e fazer um abaixo-assinado pedindo à Anvisa que aprove uma vacina por semana até 2022, para deixar o capitão-falastrão mudo até o fim de seu indigesto mandato.

Depois que o ministro Lewandowski encaminhou a Augusto Aras a notícia-crime protocolada por parlamentares do PCdoB contra o presidente de fancaria e seu ministro de araque, por atos omissivos e comissivos no combate à Covid, o passador de pano geral da banânia despertou de sua habitual letargia, mas decidiu acusar o pajé e livrar o rabo do cacique. Como se o que obedece da dupla um manda, outro obedece tivesse vontade própria, não fosse apenas um cumpridor de ordens do que manda.

Em sua defesa, o militar expert em logística que não consegue encontrar o próprio rabo usando as duas mãos e uma lanterna afirmou que “não teve tempo para comprar vacinas, seringas e agulhas porque estava envolvido com a fuga de suas duas tartarugas de estimação. “O bicho é rápido demais, não consegui pegar”, disse ele.

O ministro que, diante do morticínio causada pela falta de oxigênio hospitalar, inundou a capital do Amazonas com kits-Covid à base de cloroquina, vai ficar em Manaus “o tempo que for necessário” (não se sabem bem para quê). Depois, ele irá pessoalmente à Índia buscar as vacinas. Mas só depois que aprender a amarrar os sapatos. O general prometeu também convocar uma coletiva para explicar sua expertise em logística assim que achar a saída de seu escritório, que só tem uma porta.

Enquanto isso, o mito mitômano dos acéfalos descerebrados voltou a atentar contra a saúde pública numa declaração criminosa em sua cavalgada contra a vida dos brasileiros e a favor de sua distorcida agenda eleitoral. Contra as vacinas e a favor do tratamento comprovadamente inútil com hidroxicloroquina, o garboso cruzado perguntou se não seria melhor investir na “cura” da Covid do que na imunização da população.

Um brasileiro que não aguenta mais sofrer na mão do amigo dos milicianos perguntou se não seria mais barato para a Saúde e Economia do país investir num processo de impeachment por crimes de responsabilidade do que esperar as eleições de 2022., embora com a ressalva de que “a impugnação da chapa seria até melhor”. A aposta do governo num remédio contra parasitas inspirou esse brasileiro sofredor a recomendar a saída às ruas para todos seus amigos como remédio contra os vermes que corroem a democracia brasileira.

Last, but not least: o presidente disse ontem que mostrará amanhã as provas de que ganhou a eleição de 2018 ainda no primeiro turno. Já é o quadragésimo oitavo crime de responsabilidade que ele comente só nesta semana. Sua insolência garantiu ainda que tem provas de que seus eleitores acreditam em qualquer porcaria: “eles acreditam em mim”. E voltou a dizer que tem provas de que ganhou todas as eleições presidenciais desde 1985, de que o dólar está a 1,99 e que o PIB privado de sua família cresceu 450% desde que entraram para a política. Na manhã seguinte, disse a apoiadores no cercadinho que vai proibir (outra vez) a compra de 46 milhões de doses de CoronaVac que Pazuello tinha anunciado em outubro, e que nenhuma vacina será obrigatória. A interlocutores, ele confessou que seu medo é que a vacina funcione.

Num governo em que a fundação Palmares é racista, o ministério do Meio Ambiente estimula o desmatamento, o da Justiça protege os filhos do presidente, o da Educação destrói o ensino público, o da Economia gera desemprego, o da Mulher e Diversidade é homofóbico e misógino, num governo assim não se pode correr o risco de uma vacina funcionar.

Com Sensacionalista.