A engenharia social, largamente utilizada pelos cibervigaristas, é uma versão revista, atualizada e adaptada ao universo digital do velho conto vigário, e tem mais a ver com psicologia do que com tecnologia.
Quem não se lembra do velho “conto
do bilhete premiado”? (Se você não está lembrado, aguarde, pois pretendo
explorar melhor esse assunto numa próxima postagem).
Da habilidade dos golpistas depende o êxito das maracutaias, e a criatividade dessa caterva parece não ter limite. Haja vista o sem-número de tramoias surgidas desde o início da pandemia da Covid.
Do auxílio emergencial ao início da vacinação, tudo serve
de matéria prima para um vigarista competente. Depois do PIX, que foi explorado ad nauseam no final do ano passado (e continua sendo), a bola da vez são as vacinas.
O Ministério da Saúde publicou em seu perfil no Facebook um alerta sobre um golpe que usa a vacinação como “isca” para roubar contas em “aplicativos de mensagens”.
Os golpistas simulam um agendamento para vacinação contra a Covid e, ao final, pedem que lhes seja transmitido o “código de confirmação” que a vítima recebeu por SMS no celular. Com esse código, os vigaristas se apropriam da conta do WhatsApp ou do Telegram (a propósito, sugiro ler esta sequência de postagens) e podem usá-la de diversas maneiras, mas o objetivo é sempre o mesmo: "depenar o pato". De posse da conta, os criminosos podem, por exemplo, pedir dinheiro a amigos e parentes que figuram na lista de contatos da vítima, ou usar informações das conversas para extorqui-la.
Em suma, é o velho golpe do WhatsApp, só que de roupa nova.
Em julho, uma tentativa de golpe da falsa vacinação pelo WhatsApp foi gravada por uma
“vítima” (que na verdade era um repórter investigativo). No áudio, o criminoso
não só confirmou o esquema como admitiu faturar até R$ 20 mil em
apenas duas semanas. Ao ouvir todo o protocolo da fraude, o repórter perguntou se muitas pessoas caiam no esquema. “Se eu fizer 50 ligações no dia, em umas 39 eu consigo [o código]”, respondeu, orgulhoso, o golpista.
Antigamente, ao aplicar o golpe do WhatsApp os criminosos se passavam por um conhecido da vítima (usando uma conta roubada) e pediam dinheiro para cobrir uma suposta despesa de emergência. O envio do dinheiro era feito por meio de transferências bancárias comuns, que levavam algumas horas ou até um dia para ser de efetivadas. Com o advento do PIX, os golpes se tornaram mais perigosos. Graças à rapidez com que os pagamentos são efetuados, os criminosos conseguem sacar o dinheiro quase que imediatamente, reduzindo o tempo que a vítima tem, depois que “a ficha cai”, para entrar em contato com o banco e solicitar o cancelamento da transação.
De acordo com algumas instituições financeiras, a devolução pode ser possível, a depender de uma avalição caso a caso, já que a transferência foi autorizada pelo cliente. Mesmo assim, convém entrar em contato
com o banco imediatamente, além de fazer um B.O. para protocolar uma reclamação junto ao Banco Central, se necessário, ou mesmo acionar
judicialmente a instituição financeira.
Lembre-se: Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas.