terça-feira, 5 de janeiro de 2021

O LOBO PERDE O PELO...


... Mas não abandona o vício.

No último sábado, Donald Trump — a amado e idolatrada musa inspiradora de nosso morubixaba — pressionou o secretário Estadual Brad Raffensperger a encontrar" votos suficientes para reverter a vitória do presidente eleito Joe Biden na Geórgia, conforme a gravação do telefonema que foi publicada pelo Washington Post neste domingo.

Raffensperger repetiu mais uma vez que não há qualquer evidência de fraude e rechaçou as alegações do presidente, mesmo depois ser rotulado por ele de "inimigo do povo".

"Tudo foi longe demais. Isso tem que parar", disse Gabriel Sterling, gerente do sistema de votação da Geórgia, numa entrevista coletiva em 1º de dezembro, antes de comunicar que a esposa de Raffensperger vinha recebendo ameaças. 

Os senadores republicanos da Geórgia, David Perdue e Kelly Loeffler, que estão em campanha às vésperas do segundo turno das eleições na Geórgia (marcado para esta terça-feira, e que vai determinar qual partido irá controlar o Senado), pediram a renúncia de Raffensperger por não ceder à vontade de Trump.

Observação: No estado da Geórgia, um candidato ao Senado precisa de 50% dos votos para vencer a disputa. Neste pleito, duas cadeiras estão em jogo e não houve quem atingisse esse percentual. Com o resultado do pleito de novembro, o Senado ficou dividido em 50 cadeiras para os republicanos, 46 para os democratas, dois independentes (que costumam votar com os democratas) e duas cadeiras vagas a serem definidas pelo segundo turno da Geórgia. Comandar a Câmara Alta é fundamental para aprovação de leis, nomeações de integrantes do governo e até da escolha de integrantes do Suprema Corte. Se os democratas vencerem, as duas cadeiras extras darão a eles controle efetivo. Mas nenhum candidato democrata vence uma disputa para o Senado na Geórgia há décadas, o que torna essa eleição historicamente difícil para eles. Além disso, os dois republicanos ficaram na frente no primeiro turno, em novembro. Por outro lado, Biden venceu a disputa presidencial no estado fazendo uma campanha voltada para os afro-americanos. A votação começou de forma antecipada há algumas semanas e terminou no dia 1 de janeiro, período em que houve um recorde de 3 milhões de votos, o que equivale a 38,8% de todos os eleitores registrados no estado. O pleito presencial ocorre hoje. A conferir. 

Enquanto ex-secretários de Defesa dizem que eleição acabou e defendem transição pacífica, onze senadores republicanos ameaçam votar para bloquear vitória de Biden. Em meio a esse furdunço, dois democratas pediram a abertura de investigação criminal contra Trump. Em carta enviada ao diretor do FBI, Kathleen Rice e Ted Lieu afirmam que o presidente se envolveu numa conspiração para cometer uma série de crimes eleitorais.

A Geórgia é um dos vários estados decisivos onde Trump perdeu a eleição para Biden e vem fazendo alegações infundadas de fraude eleitoral, na tentativa de anular os resultados. Mesmo que tivesse conquistado os 16 votos do Colégio Eleitoral, o palhaço da cabeleira alaranjada ainda teria perdido a eleição para o democrata, que terá sua vitória confirmada amanhã e tomará posse no dia 20.

A pergunta é: por que isso nos interessa? A resposta é: 

Um número considerável dos eleitores republicanos está convencido de que alguma falcatrua ocorreu de fato nas eleições. Trump e seus acólitos jogam para essa essa plateia, e não hesitam em chamar de traidores os correligionários que não os acompanham na cruzada. 

A menos que um novo reality show ou algum negócio das arábias desvie a atenção de Trump da política, são consideráveis as chances de ele manter a cantilena da “eleição roubada”, mesmo que a vitória de Joe Biden seja sacramentada de uma vez por todas. Essa seria a plataforma de Trump para se manter relevante e lançar-se candidato em 2024 (ele ou um “poste”).

Como macaqueia Trump, o capitão sem noção tem fomentado a desconfiança em relação à confiabilidade das nossas urnas eletrônicas. Já afirmou ter provas de que ganhou as eleições de 2018 no primeiro turno (mas jamais as exibiu, talvez porque as enfiou em lugar incerto e não sabido, junto com as promessas de palanque das quais se desvencilhou quando subiu a rampa, dois anos atrás). 

Há poucos dias, o "mito" da ospália bolsonarista disse a um apoiador que não há chance de reeleição em 2022 se o voto impresso não for instituído. O raciocínio implícito é de que as urnas eletrônicas seriam adulteradas para impedir sua vitória. Assim como Trump, nosso Messias irá atribuir a fraudes qualquer resultado que não seja sua reeleição em 2022, pouco importando a inexistência de provas. Assim como Trump, ele está pouco se lixando para os danos que possa causar à democracia.

Por essas e outras convém acompanhar atentamente o desenrolar da estratégia do americano, ainda que as situações não sejam idênticas. Mesmo depois de deixar a Casa Branca, esse palhaço continuará servindo de inspiração para Bolsonaro

Quanto mais cedo o Brasil conhecer o vírus que Trump está tentando inocular nos EUA, mais rapidamente poderá se vacinar contra ele.