sexta-feira, 19 de março de 2021

DE NADA ADIANTA TROCAR A RODA DA CARROÇA SE O PROBLEMA É O BURRO

A internação de Tancredo Neves, 12 horas antes da cerimônia de posse, e sua morte, 38 dias e 7 cirurgias depois, privaram o Brasil de ter um estadista na Presidência. Mas daí a afirmar que, não fosse esse “detalhe”, esta republiqueta de bananas seria a segunda economia do mundo vai uma longa distância. 

Guardadas as devidas proporções, o mesmo raciocínio se aplica à situação da Saúde tupiniquim se Mandetta não tivesse sido exonerado (porque “estava se achando estrela”), se Teich não tivesse escolhido sair ou se Ludhmila Hajjar não declinasse do convite — ou não tivesse sido desconvidada por criticar a desditosa gestão do general pesadelo.

Agora, em meio ao pior momento da crise, com infecções e mortes  recrudescendo em terra brasilis — na contramão do que ocorre no resto do mundo —, a nomeação do presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia cardiologista Marcelo Queiroga, que chega ao cargo pelas mãos do senador Flávio “Rachadinha” Bolsonaro e já deixou claro que a política é do governo; cabe ao ministro da Saúde apenas aplicar a política do governo, não nos enche de esperanças.

O general Santos Cruz, antecessor do também general Luiz Eduardo Ramos na coordenação política do Planalto, definiu o governo Bolsonaro como "um show de besteiras que tira o foco daquilo que é importante" e levou à vitrine do Twitter um ensinamento para os colegas que continuam no governo: "Hierarquia e disciplina, na vida militar e civil, são princípios nobres. Não significam subserviência e nem podem ser resumidos a uma coisa 'simples assim, como um manda e o outro obedece'... como mandar varrer a entrada do quartel."

À imprensa, o esculápio afirmou que não tem "avaliação" sobre a gestão do ministro interventor sainte, nem "vara de condão" para resolver os problemas da saúde nacional (se é assim, por que, então, aceitou o cargo?). Disse ainda que o general trabalhou arduamente para melhorar as condições sanitárias do Brasil e que. disse o cardiologista ao chegar na sede da Saúde para a sua primeira reunião de trabalho, após foi escolhido pelo presidente para dar continuidade a esse trabalho, que um dia rejeitou bandeiras do governo Bolsonaro, mas agora, do outro lado do balcão, parece disposto a rever sua postura, de modo que não devemos esperar mudanças bruscas na pasta.

O Centrão havia se manifestado publicamente por outro nome, e a nomeação de Queiroga causou algum desconforto entre os parlamentares da “base governista” do Congresso, embora vá ao encontro das desmandas do Legislativo por mudanças na pasta, face à reação negativa da população à aziaga gestão do “expert em logística”.

A boa notícia é que, ao trocar o general pesadelo pelo cardiologista paraibano, Bolsonaro sinalizou a intenção de mudar a gestão da crise sanitária. A má notícia é que teríamos ficado mais bem servidos se a também cardiologista Ludhmila Hajjar tivesse aceitado o convite (fala-se que a médica foi desconvidada porque o desejo de mudança do presidente não chega ao ponto de conceder autonomia científica ao substituto de Pazuello). 

O que Bolsonaro quer é acomodar na poltrona do general-interventor um médico que coloque sua capacidade técnica a serviço de uma administração da pandemia baseada na máxima pazuelística segundo a qual "um manda e o outro obedece.", e Queiroga topou conviver com o fato de que o capitão continuará acumulando o cargo de presidente da República com as atribuições de ministro da Saúde. 

Em última análise, o que se pode inferir dos movimentos e das palavras de Bolsonaro é que ele decidiu substituir o general pesadelo pelo esculápio bolsonarista não por ter visto a luz da ciência, mas por sentir o calor da repercussão política do crescimento exponencial do número de mortos pela Covid.

Como diria o próprio Pazuello, é simples assim.