A internação de Tancredo Neves, 12 horas antes da cerimônia de posse, e sua morte, 38 dias e 7 cirurgias depois, privaram o Brasil de ter um estadista na Presidência. Mas daí a afirmar que, não fosse esse “detalhe”, esta republiqueta de bananas seria a segunda economia do mundo vai uma longa distância.
Guardadas as devidas proporções, o mesmo raciocínio se aplica à situação da Saúde tupiniquim se Mandetta não tivesse sido exonerado (porque “estava se achando estrela”), se Teich não tivesse escolhido sair ou se Ludhmila Hajjar não declinasse do convite — ou não tivesse sido desconvidada por criticar a desditosa gestão do general pesadelo.
Agora, em meio ao pior momento da crise,
com infecções e mortes recrudescendo em terra brasilis — na contramão do que ocorre no resto do mundo —, a nomeação do presidente da Sociedade Brasileira de
Cardiologia cardiologista Marcelo
Queiroga, que chega ao cargo pelas mãos do senador Flávio “Rachadinha” Bolsonaro e já deixou claro que a política é do governo; cabe ao ministro
da Saúde apenas aplicar a política do governo, não nos enche de
esperanças.
O general Santos
Cruz, antecessor do também general Luiz
Eduardo Ramos na coordenação política do Planalto, definiu o
governo Bolsonaro como "um show de besteiras que tira o foco
daquilo que é importante" e levou à vitrine
do Twitter um ensinamento para os colegas que continuam no governo:
"Hierarquia e disciplina, na
vida militar e civil, são princípios nobres. Não significam subserviência e nem
podem ser resumidos a uma coisa 'simples assim, como um manda e o outro
obedece'... como mandar
varrer a entrada do quartel."
À imprensa, o esculápio afirmou que não tem
"avaliação" sobre a gestão do ministro interventor sainte, nem
"vara de condão" para resolver os problemas da saúde nacional (se é
assim, por que, então, aceitou o cargo?). Disse ainda que o general trabalhou
arduamente para melhorar as condições sanitárias do Brasil e que. disse o cardiologista ao chegar na
sede da Saúde para a sua primeira reunião de trabalho, após foi escolhido pelo presidente para dar
continuidade a esse trabalho, que um dia rejeitou bandeiras do governo Bolsonaro, mas
agora, do outro lado do balcão, parece disposto a rever sua postura, de modo
que não devemos esperar mudanças bruscas na pasta.
O Centrão havia se manifestado publicamente por outro nome, e a nomeação de Queiroga causou algum desconforto entre os parlamentares da “base governista” do Congresso, embora vá ao encontro das desmandas do Legislativo por mudanças na pasta, face à reação negativa da população à aziaga gestão do “expert em logística”.
A boa notícia é que, ao trocar o general pesadelo pelo cardiologista paraibano, Bolsonaro sinalizou a intenção de mudar a gestão da crise sanitária. A má notícia é que teríamos ficado mais bem servidos se a também cardiologista Ludhmila Hajjar tivesse aceitado o convite (fala-se que a médica foi desconvidada porque o desejo de mudança do presidente não chega ao ponto de conceder autonomia científica ao substituto de Pazuello).
O que Bolsonaro quer é acomodar na poltrona do general-interventor um médico que coloque sua capacidade técnica a serviço de uma administração da pandemia baseada na máxima pazuelística segundo a qual "um manda e o outro obedece.", e Queiroga topou conviver com o fato de que o capitão continuará acumulando o cargo de presidente da República com as atribuições de ministro da Saúde.
Em última análise, o que se pode inferir dos movimentos e das palavras de Bolsonaro é que ele decidiu substituir o general pesadelo pelo esculápio bolsonarista não por ter visto a luz da ciência,
mas por sentir o calor da repercussão política do crescimento exponencial do
número de mortos pela Covid.
Como diria o próprio Pazuello, é simples assim.