terça-feira, 30 de março de 2021

QUANDO O BARATO SAI CARO

ESQUECER É UMA NECESSIDADE. A VIDA É COMO UMA LOUSA. PARA ESCREVER UM NOVO CASO, O DESTINO PRECISA DE APAGAR O CASO JÁ ESCRITO.

Depois que Steve Jobs lançou o iPhone e os fabricantes concorrentes adequaram seus produtos ao maravilhoso mundo do smart(inteligente)phone, a popularidade dos microcomputadores ultraportáteis cresceu em escala exponencial — tanto que já existem mais linhas móveis habilitadas do que viventes no Planeta Azul (e em nosso republiqueta de bananas terceiro-mundista).

É certo que os pequenos notáveis ainda fazem tudo que fazem os PCs tradicionais (portáteis ou de mesa) fazem, ou até fazem, mas não com a mesma desenvoltura. Rodar aplicativos pesados e realizar tarefas que exigem poder de processamento e memória em abundância foge à competência da maioria esmagadora dos pequenos notáveis, mas predicados como mobilidade, portabilidade, conectividade e dimensões reduzidas convidam-nos a levar os telefoninhos conosco a toda parte e usá-los 24/7.

Em atenção aos recém-chegados (a audiência do Blog é rotativa), não custa relembrar que a tecnologia que deu origem à telefonia móvel celular remonta a meados do século passado, mas só começou a se popularizar nos anos 1980, ainda que os aparelhos de então pesassem quase 1 kg, medissem 25 centímetros de altura, a autonomia da bateria não passasse de 30 minutos e uma recarga demorasse mais de 10 horas para ser completada.

Os primeiros tijolões que desembarcaram no Brasil, nos anos 1990, eram volumosos, desajeitados, custavam os olhos da cara e mal serviam para fazer/receber ligações por voz. Muita gente os exibia como símbolo de status, já que a área coberta pelas operadoras era limitada e o sinal, instável; habilitar uma linha exigia atravessar um cipoal burocrático extraordinário, e o custo do minuto de ligação era pra lá de proibitivo.

A privatização das Teles estimulou a concorrência entre as operadoras, mas a linha pré-paga foi por algum tempo a melhor opção para consumidores que não nadavam em dinheiro. Apesar de o minuto de ligação custar mais caro que nos planos pós-pagos, abastecer a linha com créditos na medida das necessidades e possibilidades evitava ser pego no contrapé por uma fatura com valor astronômico, além do que, em tempo de vacas magras, basta acionar a  função “pai de santo” (*). Mas isso também mudou depois que as operadoras diversificaram seus planos pós-pagos e criaram alternativas conhecidas como os “planos controle” (que, a meu ver, oferecem o melhor dos dois mundos).

(*) Mesmo sem créditos, o telefone continuará recebendo chamadas por 30 dias, a partir de quando todos os serviços poderão ser bloqueados — exceto discagens de emergência, como bombeiros e polícia —, conforme a Resolução 632 da Anatel. Se uma nova recarga não for feita nos próximos 30 dias, aí, sim, a linha poderá ser cancelada.

No que concerne ao aparelho propriamente dito, há modelos para todos os gostos e bolsos, mas é importante não se balizar apenas pelo preço. Via de regra, modelos recém-lançados custam os olhos da cara, mas forçam para baixo o preço das versões anteriores. Um celular de penúltima geração pode proporcionar uma boa economia, mas dispositivos mais antigos, com versões ultrapassadas do sistema operacional, podem ser um problema. Aliás, isso se aplica também a aparelhos com o sistema móvel da Microsoft, que foi descontinuado (mais detalhes nesta postagem). Mesmo que o preço seja atraente, fuja desse mico, pois o barato pode sair caro.

No caso de aparelhos com versões do Android anteriores à 7.1.1 Nougat deixaram de ter acesso a diversos sites e aplicativos em de janeiro deste ano, pois o sistema não aceita mais certificados HTTPS emitidos pela Let’s Encrypt (organização que certifica sites reconhecidos como seguros por navegadores e apps). E cerca de 30% dos endereços na Internet usam o serviço da organização. 

Segundo publicação do Android Police, 34% dos aparelhos Android rodam uma versão anterior à 7.1. Isso significa que milhões de usuários não poderão acessar uma parcela significativa da web segura a partir de 2021. A alternativa é instalar o Firefox, que se baseia em seu próprio armazenamento de certificados, mas trata-se de um paliativo, pois não evitará problemas de compatibilidade relacionados a outros softwares. E por não receber atualização de segurança, o aparelho ficará exposto a malwares e bugs, que são portas de entrada para cibercriminosos.

A Let’s Encrypt divulgou que não há perspectiva de solução para esse problema, pois não pretende renovar o acordo com a autoridade de certificação IdenTrust. O jeito é arcar com o custo da troca do aparelho por um modelo atualizado.