sexta-feira, 9 de abril de 2021

ALIEN X PREDADOR -- OU: MELHOR VOTAR NAS PUTAS; NOS FILHOS, PELO VISTO, NÃO RESOLVE


Em 1931, a Associação Brasileira de Imprensa criou o “Dia do Jornalista” e escolheu o dia 7 de abril para homenagear a categoria. Reza a história que a morte do médico e jornalista Giovanni Battista Líbero Badaró, em 7 de abril de 1908, foi tramada e executada por inimigos políticos, insatisfeitos com a abdicação de D. Pedro I ao trono — que também se deu num 7 de abril, mas de 1831.

Ser jornalista, nos tempos que correm, é assaz complicado. A começar pelo fato de o jornalismo, o conhecimento, a ciência, os cientistas e os intelectuais públicos estarem sob ataque. A própria democracia e os valores republicanos encontram-se combalidos pela intensidade de fake news, teorias da conspiração, pós-verdades e negacionismos diversos.

A responsabilidade ética do jornalista recomenda informar à sociedade os fatos que são de interesse
público
. Sua opinião pessoal e a posição político-ideológica do veículo de comunicação podem — e devem — ser expressas, mas em artigos, colunas e editoriais, conforme o caso. Mas não é isso que vem acontecendo de um tempo a esta parte.

Escusado encompridar esta postagem com considerações repetitivas sobre os efeitos nefastos da dicotomia semeada por Lula et caterva, regada pelos tucanos enquanto principais adversários do sumo pontífice da seita do inferno e fertilizada com o esterco do funesto do bolsonarismo boçal. Ao mesmo tempo, é impossível ignorar que a polarização da população tupiniquim e a dicotomia que, qual metástase, disseminou-se pelas instâncias do poder público até atingir sua mais alta cúpula, seja no Executivo Federal, no Congresso Nacional e em nossa mais alta Corte de Justiça.

Paixões — pelo ser amado, pelo time do coração ou pelo partido de estimação — embotam o raciocínio, fulminam o bom senso e cegam o apaixonado. Daí a eleição presidencial de 2018 se ter transformado no plebiscito que culminou com a vitória de um extremista incompetente sobre um patético bonifrate de um ex-presidente corrupto que, à época, gozava férias compulsórias numa cela VIP da Superintendência da PF em Curitiba.

Combinado com uma pandemia sanitária sem paradigma na história recente da humanidade, o resultado do plebiscito de 2018 produziu o maior genocídio da história desta republiqueta de almanaque. E como não há nada tão ruim que não possa piorar, a conjuntura que deu azo a essa catástrofe pode — tende, na verdade — se repetir no pleito presidencial de 2022.

Dito isso, compartilho com os poucos gatos pingados que me honram com a leitura de meus humildes pitacos um artigo do filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé.

“Num dado momento do filme ‘Alien vs. Predador’, de 2004, a narrativa tem de fazer uma escolha entre os dois vilões. E escolhe o Predador, que pelo menos tem forma mais próxima daquela humana e demonstra uma mínima capacidade de empatia.

Num cenário de horror eleitoral em 2022, Bolsonaro é o Alien e Lula é o Predador. Numa eventual disputa no segundo turno em 2022 entre Bolsonaro e Lula, a sensibilidade conservadora indica que Lula seria a opção menos ruim. Muitos subirão pelas paredes. Se isso acontecer com você é porque você é simplesmente ignorante acerca do assunto.

Antes de tudo, deixemos claro que especulamos aqui sobre um cenário de horror eleitoral. A melhor opção seria o impeachment de Bolsonaro já. Se tivéssemos alguma opção viável melhor do que o cenário ‘Alien vs. Predador’, a conversa seria outra. Os dois são péssimos.

A tradição conservadora britânica, representada por nomes como Edmund Burke, no século 18, Michael Oakeshott e Russel Kirk, no século 20, e Thomas Sowell e John Kekes, vivos, entre outros, exige de quem queira se aproximar da disciplina, maturidade e muita leitura. A descrição da sensibilidade conservadora, ou disposição, ou espírito, ou ainda atitude, vem a seguir.

Um conservador é um cético, ao contrário do que pensa a ignorância que reina no debate nacional. Outra coisa: um conservador sempre avalia contextos específicos, eleições específicas, por isso muitos afirmam que não há ideologia conservadora propriamente dita. A intenção é sempre o menor trauma possível analisado a partir dos dados mais empíricos possíveis. Política é trauma ou acomodação ao possível.

Mudanças só no varejo, nunca no atacado. Mudanças a partir de problemas concretos, nunca a partir de uma "visão de mundo" abstrata. Um líder, quanto menos ‘visão de mundo’ tiver, melhor.

Governar é gerir um certo número de ferramentas para resolver um certo número de problemas, disse Oakeshott. A tradição conservadora é uma política da imperfeição, afirmou Kekes: nunca há utopias, nem líderes maravilhosos. O pessimismo antropológico dessa tradição recomenda, como diz o sábio, ‘menos, menos’.

A palavra ‘conservador’ remete à ideia de que devemos levar a sério hábitos, costumes, tradições — religião é um caso entre tantos — e instituições que trouxeram o mundo até aqui, mesmo que ele seja imperfeito. Jamais um conservador será um racionalista universalista. Sua vocação é um ceticismo político e um relativismo moral associados à ideia de que grande parte da nossa sobrevivência é difícil de se entender por qualquer forma de geometria ou engenharia social.

Por que Lula? Os governos Lula foram melhores até agora do que o de Bolsonaro está sendo. Provavelmente, ele teria gerido melhor a peste. Claro, ambos são figuras duvidosas do ponto de vista ético, mas escolhas políticas são escolhas que vão além do que gostaríamos que o mundo fosse, como afirma Maquiavel.

Lula faz acordos melhor do que Bolsonaro. Tem uma tendência apaziguadora e é muito mais inteligente. Provavelmente aprendeu um tanto nesses anos e pode querer imitar Mandela: nada de vinganças. Bolsonaro é um zumbi. A praga petista foi seguida pelo apocalipse zumbi dos bolsonaristas comedores de cérebro. Patinamos até hoje.

Eu disse nesta coluna que Joe Biden, nas eleições para a Presidência dos Estados Unidos, era a melhor opção para céticos conservadores. Digo agora que num cenário entre Bolsonaro e Lula em 2022, Lula é o menos ruim.

Outra coisa que seria bom ficar claro é que direita versus esquerda é uma oposição pobre para análise política. Lula é de esquerda, mas Bolsonaro é que está tentando transformar o Exército em sua milícia, corrompendo a moral da tropa, dividindo as Forças Armadas, como Hugo Chávez fez na Venezuela.

O que busca essa atitude conservadora? Busca competência, menos violência, liberdade dentro da lei e consenso no dia a dia. Defesa das instituições e não de pessoas. Só ignorantes pensam que Bolsonaro é um conservador, como Trump tampouco é.

A nossa história recente aponta para Lula como o candidato conservador em 2022. O STF já sabe disso. As Forças Armadas também. Eu sei: a vida não é para iniciantes.”

Para fechar com chave de ouro: O Movimento Brasil Livre (MBL) resolveu testar a popularidade do apresentador e humorista Danilo Gentili como candidato à Presidência em 2022, e o resultado movimentou as redes sociais. O humorista apareceu com 4% das intenções de voto, empatado com Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB-SP), Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) e Luciano Huck (sem partido). 

Não é piada nem pegadinha serôdia de 1° de abril (confira no vídeo a seguir). Ao que tudo indica, há entre a récua de muares munidos de título eleitoral uma parcela significativa que, forçada a escolher entre um ladrão e um genocida, prefere ter um palhaço como Presidente. Triste Brasil.