Em 1931, a Associação Brasileira de Imprensa criou o “Dia do Jornalista” e escolheu o dia 7 de abril para homenagear a categoria. Reza a história que a morte do médico e jornalista Giovanni Battista Líbero Badaró, em 7 de abril de 1908, foi tramada e executada por inimigos políticos, insatisfeitos com a abdicação de D. Pedro I ao trono — que também se deu num 7 de abril, mas de 1831.
A responsabilidade ética do jornalista recomenda informar à sociedade os fatos que são de
interesse
público. Sua opinião pessoal e a posição político-ideológica do
veículo de comunicação podem — e devem — ser expressas, mas em artigos, colunas
e editoriais, conforme o caso. Mas não é isso que vem acontecendo de um tempo a
esta parte.
Escusado encompridar esta postagem com considerações
repetitivas sobre os efeitos nefastos da dicotomia semeada por Lula et caterva, regada pelos tucanos
enquanto principais adversários do sumo pontífice da seita do inferno e fertilizada
com o esterco do funesto do bolsonarismo boçal. Ao mesmo tempo, é impossível
ignorar que a polarização da população tupiniquim e a dicotomia que, qual
metástase, disseminou-se pelas instâncias do poder público até atingir sua mais
alta cúpula, seja no Executivo Federal, no Congresso Nacional e em nossa mais
alta Corte de Justiça.
Paixões — pelo ser amado, pelo time do coração ou pelo
partido de estimação — embotam o raciocínio, fulminam o bom senso e cegam o
apaixonado. Daí a eleição presidencial de 2018 se ter transformado no
plebiscito que culminou com a vitória de um extremista incompetente sobre um
patético bonifrate de um ex-presidente corrupto que, à época, gozava férias
compulsórias numa cela VIP da Superintendência da PF em Curitiba.
Combinado com uma pandemia sanitária sem paradigma na
história recente da humanidade, o resultado do plebiscito de 2018 produziu o
maior genocídio da história desta republiqueta de almanaque. E como não há nada
tão ruim que não possa piorar, a conjuntura que deu azo a essa catástrofe pode —
tende, na verdade — se repetir no pleito presidencial de 2022.
Dito isso, compartilho com os poucos gatos pingados que me
honram com a leitura de meus humildes pitacos um artigo do filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé.
“Num dado momento do filme ‘Alien vs. Predador’, de 2004, a narrativa tem de fazer uma escolha
entre os dois vilões. E escolhe o Predador,
que pelo menos tem forma mais próxima daquela humana e demonstra uma mínima
capacidade de empatia.
Num cenário de horror eleitoral em 2022, Bolsonaro é o Alien e Lula é o Predador. Numa eventual disputa no
segundo turno em 2022 entre Bolsonaro
e Lula, a sensibilidade
conservadora indica que Lula seria a
opção menos ruim. Muitos subirão pelas paredes. Se isso acontecer com você
é porque você é simplesmente ignorante acerca do assunto.
Antes de tudo, deixemos claro que especulamos aqui sobre
um cenário de horror eleitoral. A melhor opção seria o impeachment de Bolsonaro já. Se tivéssemos alguma
opção viável melhor do que o cenário ‘Alien
vs. Predador’, a conversa seria outra. Os dois são péssimos.
A tradição conservadora britânica, representada por nomes
como Edmund Burke, no século 18, Michael Oakeshott e Russel Kirk, no século 20, e Thomas
Sowell e John Kekes, vivos,
entre outros, exige de quem queira se aproximar da disciplina, maturidade e
muita leitura. A descrição da sensibilidade conservadora, ou disposição, ou
espírito, ou ainda atitude, vem a seguir.
Um conservador é um cético, ao contrário do que pensa a
ignorância que reina no debate nacional. Outra coisa: um conservador sempre
avalia contextos específicos, eleições específicas, por isso muitos afirmam que
não há ideologia conservadora propriamente dita. A intenção é sempre o menor
trauma possível analisado a partir dos dados mais empíricos possíveis. Política
é trauma ou acomodação ao possível.
Mudanças só no varejo, nunca no atacado. Mudanças a
partir de problemas concretos, nunca a partir de uma "visão de mundo"
abstrata. Um líder, quanto menos ‘visão de mundo’ tiver, melhor.
Governar é gerir um certo número de ferramentas para
resolver um certo número de problemas, disse Oakeshott. A tradição conservadora é uma política da imperfeição,
afirmou Kekes: nunca há utopias, nem
líderes maravilhosos. O pessimismo antropológico dessa tradição recomenda, como
diz o sábio, ‘menos, menos’.
A palavra ‘conservador’
remete à ideia de que devemos levar a sério hábitos, costumes, tradições — religião
é um caso entre tantos — e instituições que trouxeram o mundo até aqui, mesmo
que ele seja imperfeito. Jamais um conservador será um racionalista
universalista. Sua vocação é um ceticismo político e um relativismo moral
associados à ideia de que grande parte da nossa sobrevivência é difícil de se
entender por qualquer forma de geometria ou engenharia social.
Por que Lula?
Os governos Lula foram melhores até
agora do que o de Bolsonaro está
sendo. Provavelmente, ele teria gerido melhor a peste. Claro, ambos são figuras
duvidosas do ponto de vista ético, mas escolhas políticas são escolhas que vão
além do que gostaríamos que o mundo fosse, como afirma Maquiavel.
Lula
faz acordos melhor do que Bolsonaro.
Tem uma tendência apaziguadora e é muito mais inteligente. Provavelmente
aprendeu um tanto nesses anos e pode querer imitar Mandela: nada de vinganças. Bolsonaro
é um zumbi. A praga petista foi seguida pelo apocalipse zumbi dos bolsonaristas
comedores de cérebro. Patinamos até hoje.
Eu disse nesta coluna que Joe Biden, nas eleições para a Presidência dos Estados Unidos, era
a melhor opção para céticos conservadores. Digo agora que num cenário entre Bolsonaro e Lula em 2022, Lula é o
menos ruim.
Outra coisa que seria bom ficar claro é que direita
versus esquerda é uma oposição pobre para análise política. Lula é de esquerda, mas Bolsonaro é que está tentando
transformar o Exército em sua milícia, corrompendo a moral da tropa, dividindo
as Forças Armadas, como Hugo Chávez
fez na Venezuela.
O que busca essa atitude conservadora? Busca competência,
menos violência, liberdade dentro da lei e consenso no dia a dia. Defesa das
instituições e não de pessoas. Só ignorantes pensam que Bolsonaro é um conservador, como Trump tampouco é.
A nossa história recente aponta para Lula como o candidato conservador em 2022. O STF já sabe disso. As Forças
Armadas também. Eu sei: a vida não é para iniciantes.”