EXISTE UM ABISMO ENTRE O IDEAL DO POSSÍVEL
No âmbito da
tecnologia, o mundo evoluiu mais nos últimos 150 anos do que da idade da pedra
ao final do século XIX. Quando meu avô nasceu, no final do século XIX, não
havia chuveiro elétrico, geladeira, forno micro-onda e outros “mimos” que se
incorporaram ao nosso dia a dia a ponto de nos lembramos que existem somente quando
“pifam” ou deixam de funcionar momentaneamente (devido a um apagão da rede
elétrica, por exemplo).
No ano em que nasci, a expectativa de vida no Brasil
era de 52,5 anos. As mulheres já não se casavam assim que menstruavam pela
primeira vez, mas eram tachadas de “solteironas” ou “titias” se soprassem as 20
velinhas sem um noivo para chamar de seu. Aos 30, independentemente de estar
solteiras ou casadas, elas eram promovidas a balzaquianas e aos 40,
à “vovós”, quando então passavam a dividir seu tempo entre o fogão e a indefectível
cadeira de balanço, onde se refestelavam para bordar, tricotar, crochetar ou
mesmo cochilar, que ninguém é de ferro.
Até meados dos anos 1960, a frota de automóveis
tupiniquim era composta majoritariamente por modelos importados dos EUA — “barcaças”
grandes, pesadas, equipadas com motores aspirados de 6 ou 8 cilindros, que
bebiam mais que Jânio Quadros e geravam menos potência que propulsores
1.0 atuais. A título de ilustração, o Opala
— primeiro modelo da General Motors fabricado no Brasil, que foi apresentado
ao público no Salão do Automóvel de 1968 e oferecia duas opções de motorização:
4 cilindros, com 2.509 cc de deslocamento volumétrico, e 6 cilindros, com 3.768
cc de deslocamento volumétrico, ambos aspirados e movidos exclusivamente a
gasolina.
Observação: No motor
de combustão interna, o deslocamento volumétrico (também
chamado de cilindrada ou capacidade cúbica) é
determinado pelo número de cilindros e pelo diâmetro e curso dos pistões. Em
tese, quanto maior for essa grandeza, mais torque e potência será produzida
pelo propulsor. Graças à evolução tecnológica, motores com menos cilindros e capacidade
cúbica menor apresentam desempenho equivalente ou superior ao de seus irmãos
maiores, gastando menos combustível e
despejando menos poluentes na atmosfera. A título de ilustração, o Opala citado
linhas atrás o motor tri-cilíndrico 1.0 (999 cc reais) turboalimentado
do VW Polo 200 TSI gera 128 HP — 3 cavalos a mais que o propulsor
de 6 canecas do Opala citado como exemplo linhas atrás., que no final dos anos
1960.
Carrinhos voadores como os dos Jetsons (vide
ilustração) ainda não se tornaram realidade, mas muitas das inovações previstas
pelos criadores desse popular desenho animado dos anos 1960 já estão entre nós
(confira no vídeo).
O homem almeja voar desde os tempos de Ícaro, e voadores (na forma
de tapetes) já se faziam presentes nas lendas das Mil e Uma Noites.
Engana-se, porém, os que acham que isso não passa de ficção. Numa postagem de
2015, eu mencionei o protótipo híbrido Flying
Roadster, que naquela época alcançava 160 Km/h rodando como automóvel e
200 Km/h no “modo avião”. Três meses atrás, o presidente da GM do Brasil
revelou, em entrevista ao Estadão, que a montadora vai investir pesado
no carro voador. A Hyundai promete lançar seus primeiros modelos a
partir de 2028, e a Embraer revelou, semanas atrás, os
primeiros testes do protótipo eVTOL (sigla em inglês para
veículos elétricos de pouso e decolagem vertical)
Carros totalmente autônomos, como os do filme Minority
Report — A Nova Lei, que levavam Tom Cruise para cima e para
baixo em 2002, dificilmente se popularização nesta década, mas há diversos
projetos em desenvolvimento, que ainda dependem de condições ideais de ambiente,
como sinalização e infraestrutura viárias padronizadas, de velocidade de
transmissão de dados e, principalmente, de um marco legal, mas protótipos de
nível 2 de automação devem chegar já no próximo ano.
Observação: Existem basicamente seis
níveis de automação veicular, criadas pela SAE, que vão da total
dependência do motorista (mesmo em carros automáticos) ao estágio em que o
veículo é capaz de operar sem interação humana. A Tesla, por
exemplo, projetava entregar seus modelos de nível 5 em 2021, mas, por
enquanto, somente clientes selecionados podem experimentá-los — o que ela
oferece em todos os carros é um piloto automático e recursos de direção
autônoma para o futuro por meio de atualizações de softwares. Até o Model
3, modelo mais barato (US$ 35 mil),
vem com recursos de conveniência,
como frenagem de emergência,
aviso de colisão e
monitoramento de ponto cego, o que o coloca no nível 2.
A GM americana anunciou que lançará em 2022 dois
carros de condução semiautônoma, o redesenhado Chevrolet Bolt e o novo Bolt
EUV — ambos elétricos. Eles serão equipados com tecnologia Super Cruise,
já usada em veículos como o sedã Cadillac, modelos CT5 e CT6,
que permite ao motorista, mas vigia-o por meio de uma câmera, para aferir se
ele está prestando atenção na estrada caso seja necessário retomar a direção. No
fim do ano passado, a Honda foi certificada pelo governo japonês para
oferecer tecnologia de direção autônoma em nível 3 ao mercado doméstico.
Apelidado de Traffic Jam Pilot (piloto para congestionamentos, em
tradução livre) o sistema que a empresa promete apresentar nas próximas semanas
e equipará o Legend deixa o veículo assumir a direção, frenagem e
aceleração sob determinadas condições, como em um congestionamento. Em teoria,
o motorista pode fazer qualquer coisa, como ler uma revista — mas não dormir ou
consumir bebidas alcoólicas, poie ele precisa estar preparado para reassumir o
controle.
Chegar à total automação já não é uma questão de “se”,
mas de “quando”, desde que os obstáculos técnicos e de responsabilidade civil
sejam superados. Uma das questões que se colocam — para a qual ainda não há resposta
— é quem seria o culpado no caso de um acidente com um veículo autônomo: o
motorista inerte ou o fabricante?
Ainda não há no Brasil nenhum desenvolvimento local,
mas o nível 5 teria os mesmos desafios de implantação de outros países, em
especial a infraestrutura viária adequada. Rodovias com a dos Bandeirantes, no
estado de São Paulo, talvez pudessem receber veículos de alta automação, mas
são exceções. Conforme o levantamento do Departamento Nacional de Transportes
Terrestres, o país conta com 1,7 milhão de quilômetros de estradas, dos quais
míseros 13% — ou 221.820 quilômetros — são asfaltadas. O restante — 87% das
rodovias — não tem qualquer tipo de pavimentação.
Resumo da ópera: A corrida para desenvolver o
primeiro carro voador viável do mundo está se acirrando. Até agosto de 2020,
havia 19 projetos em elaboração, que incluem players como a Airbus, a Boeing e
a alemã Volocopter
– que planeja os primeiros testes para este ano e o lançamento de uma versão
comercial também em 2022. De acordo com Parimal Kopardekar, diretor do Instituto
de Pesquisa Aeronáutica da NASA, o sonho do transporte aéreo existe há
muito tempo, e no longo prazo, de 2045 em diante, os empreendimentos e os
espaços verdes se tornarão muito mais integrados. “Embora possamos nunca
eliminar metrôs e estradas, podemos reduzir sua pegada com essas máquinas. Uma
milha na estrada te leva a apenas uma milha. Uma milha de aviação pode te levar
a qualquer lugar”, afirma ele.