sexta-feira, 9 de abril de 2021

PRODÍGIOS DA EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA

EXISTE UM ABISMO ENTRE O IDEAL DO POSSÍVEL

No âmbito  da tecnologia, o mundo evoluiu mais nos últimos 150 anos do que da idade da pedra ao final do século XIX. Quando meu avô nasceu, no final do século XIX, não havia chuveiro elétrico, geladeira, forno micro-onda e outros “mimos” que se incorporaram ao nosso dia a dia a ponto de nos lembramos que existem somente quando “pifam” ou deixam de funcionar momentaneamente (devido a um apagão da rede elétrica, por exemplo).

No ano em que nasci, a expectativa de vida no Brasil era de 52,5 anos. As mulheres já não se casavam assim que menstruavam pela primeira vez, mas eram tachadas de “solteironas” ou “titias” se soprassem as 20 velinhas sem um noivo para chamar de seu. Aos 30, independentemente de estar solteiras ou casadas, elas eram promovidas a balzaquianas e aos 40, à “vovós”, quando então passavam a dividir seu tempo entre o fogão e a indefectível cadeira de balanço, onde se refestelavam para bordar, tricotar, crochetar ou mesmo cochilar, que ninguém é de ferro.

Até meados dos anos 1960, a frota de automóveis tupiniquim era composta majoritariamente por modelos importados dos EUA — “barcaças” grandes, pesadas, equipadas com motores aspirados de 6 ou 8 cilindros, que bebiam mais que Jânio Quadros e geravam menos potência que propulsores 1.0 atuais. A título de ilustração, o Opala — primeiro modelo da General Motors  fabricado no Brasil, que foi apresentado ao público no Salão do Automóvel de 1968 e oferecia duas opções de motorização: 4 cilindros, com 2.509 cc de deslocamento volumétrico, e 6 cilindros, com 3.768 cc de deslocamento volumétrico, ambos aspirados e movidos exclusivamente a gasolina.

Observação: No motor de combustão interna, o deslocamento volumétrico (também chamado de cilindrada ou capacidade cúbica) é determinado pelo número de cilindros e pelo diâmetro e curso dos pistões. Em tese, quanto maior for essa grandeza, mais torque e potência será produzida pelo propulsor. Graças à evolução tecnológica, motores com menos cilindros e capacidade cúbica menor apresentam desempenho equivalente ou superior ao de seus irmãos maiores,  gastando menos combustível e despejando menos poluentes na atmosfera. A título de ilustração, o Opala citado linhas atrás o motor tri-cilíndrico 1.0 (999 cc reais) turboalimentado do VW Polo 200 TSI gera 128 HP — 3 cavalos a mais que o propulsor de 6 canecas do Opala citado como exemplo linhas atrás., que no final dos anos 1960.

Carrinhos voadores como os dos Jetsons (vide ilustração) ainda não se tornaram realidade, mas muitas das inovações previstas pelos criadores desse popular desenho animado dos anos 1960 já estão entre nós (confira no vídeo).

O homem almeja voar desde os tempos de Ícaro, e voadores (na forma de tapetes) já se faziam presentes nas lendas das Mil e Uma Noites. Engana-se, porém, os que acham que isso não passa de ficção. Numa postagem de 2015, eu mencionei o protótipo híbrido Flying Roadster, que naquela época alcançava 160 Km/h rodando como automóvel e 200 Km/h no “modo avião”. Três meses atrás, o presidente da GM do Brasil revelou, em entrevista ao Estadão, que a montadora vai investir pesado no carro voador. A Hyundai promete lançar seus primeiros modelos a partir de 2028, e a Embraer revelou, semanas atrás, os primeiros testes do protótipo eVTOL (sigla em inglês para veículos elétricos de pouso e decolagem vertical)

Carros totalmente autônomos, como os do filme Minority Report — A Nova Lei, que levavam Tom Cruise para cima e para baixo em 2002, dificilmente se popularização nesta década, mas há diversos projetos em desenvolvimento, que ainda dependem de condições ideais de ambiente, como sinalização e infraestrutura viárias padronizadas, de velocidade de transmissão de dados e, principalmente, de um marco legal, mas protótipos de nível 2 de automação devem chegar já no próximo ano.

Observação: Existem basicamente seis níveis de automação veicular, criadas pela SAE, que vão da total dependência do motorista (mesmo em carros automáticos) ao estágio em que o veículo é capaz de operar sem interação humana. A Tesla, por exemplo, projetava entregar seus modelos de nível 5 em 2021, mas, por enquanto, somente clientes selecionados podem experimentá-los — o que ela oferece em todos os carros é um piloto automático e recursos de direção autônoma para o futuro por meio de atualizações de softwares. Até o Model 3, modelo mais barato (US$ 35mil), vem com recursos de conveniência, como frenagem de emergência, aviso de colisão e monitoramento de ponto cego, o que o coloca no nível 2.

A GM americana anunciou que lançará em 2022 dois carros de condução semiautônoma, o redesenhado Chevrolet Bolt e o novo Bolt EUV — ambos elétricos. Eles serão equipados com tecnologia Super Cruise, já usada em veículos como o sedã Cadillac, modelos CT5 e CT6, que permite ao motorista, mas vigia-o por meio de uma câmera, para aferir se ele está prestando atenção na estrada caso seja necessário retomar a direção. No fim do ano passado, a Honda foi certificada pelo governo japonês para oferecer tecnologia de direção autônoma em nível 3 ao mercado doméstico. Apelidado de Traffic Jam Pilot (piloto para congestionamentos, em tradução livre) o sistema que a empresa promete apresentar nas próximas semanas e equipará o Legend deixa o veículo assumir a direção, frenagem e aceleração sob determinadas condições, como em um congestionamento. Em teoria, o motorista pode fazer qualquer coisa, como ler uma revista — mas não dormir ou consumir bebidas alcoólicas, poie ele precisa estar preparado para reassumir o controle.

Chegar à total automação já não é uma questão de “se”, mas de “quando”, desde que os obstáculos técnicos e de responsabilidade civil sejam superados. Uma das questões que se colocam — para a qual ainda não há resposta — é quem seria o culpado no caso de um acidente com um veículo autônomo: o motorista inerte ou o fabricante?

Ainda não há no Brasil nenhum desenvolvimento local, mas o nível 5 teria os mesmos desafios de implantação de outros países, em especial a infraestrutura viária adequada. Rodovias com a dos Bandeirantes, no estado de São Paulo, talvez pudessem receber veículos de alta automação, mas são exceções. Conforme o levantamento do Departamento Nacional de Transportes Terrestres, o país conta com 1,7 milhão de quilômetros de estradas, dos quais míseros 13% — ou 221.820 quilômetros — são asfaltadas. O restante — 87% das rodovias — não tem qualquer tipo de pavimentação.

Resumo da ópera: A corrida para desenvolver o primeiro carro voador viável do mundo está se acirrando. Até agosto de 2020, havia 19 projetos em elaboração, que incluem players como a Airbus, a Boeing e a alemã Volocopter – que planeja os primeiros testes para este ano e o lançamento de uma versão comercial também em 2022. De acordo com Parimal Kopardekar, diretor do Instituto de Pesquisa Aeronáutica da NASA, o sonho do transporte aéreo existe há muito tempo, e no longo prazo, de 2045 em diante, os empreendimentos e os espaços verdes se tornarão muito mais integrados. “Embora possamos nunca eliminar metrôs e estradas, podemos reduzir sua pegada com essas máquinas. Uma milha na estrada te leva a apenas uma milha. Uma milha de aviação pode te levar a qualquer lugar”, afirma ele.