Indivíduos como Lula e Bolsonaro são extremamente carismáticos, talvez porque seus
sectários sejam passionais a ponto de se tornar irracionais (para não dizer que
têm merda onde deveriam ter massa cinzenta). Mas o motivo é de somenos. O que
mais preocupa é a possibilidade — cada vez mais provável, infelizmente — de
vivenciarmos em 2022 um repeteco de 2018, só que com o sinal trocado. Em outras
palavras: a menos que uma terceira via se consolide, seremos obrigados a exumar e ressuscitar o lulopetismo corrupto para impedir que o bolsonarismo boçal — que deveríamos ter
exorcizado quando Bolsonaro
demitiu Mandetta — siga empilhando os cadáveres produzidos pela Covid por mais quatro longos anos.
Observação: Os anais do Planalto registram que o governo Bolsonaro subiu no telhado em
meados de 2019, devido à rejeição dos setores político e empresarial — e até de
militares — ao chefe do Executivo, que só não foi penabundado graças a um pacto
costurado pelos então presidentes da Câmara,
do Senado e do STF. Em entrevista à revista Veja,
o ministro Dias Toffoli relatou que empresários
do setor industrial, incomodados com a paralisia da pauta econômica, discutiam
a possibilidade de um impeachment de Bolsonaro,
e que generais próximos a Bolsonaro
chegaram a consultar um ministro do Supremo
para saber se, na hipótese de uma convulsão, teriam autonomia para usar os
soldados independentemente de autorização presidencial.
Para quem já não
se lembra, o “escândalo do mensalão” eclodiu
em 2005 a partir da divulgação de um vídeo onde se via Maurício Marinho, então chefe do Departamento de Contratação e
Administração de Material dos Correios, negociando propina com empresas
interessadas em participar de licitações do governo. O processo foi
instaurado em 2006 e o julgamento, que teve
início em agosto de 2012 e resultou na condenação
de 24 dos 40 réus, só terminou um ano e meio e 69 sessões depois, com a
apreciação dos embargos
infringentes (últimos recursos possíveis aos condenados).
Lula, que foi o maior beneficiário do esquema
considerado à época o maior escândalo de corrupção desta banânia, passou a
largo da história (ou foi a história que passou ao largo dele) até o Ministério Público acusá-lo de ser o comandante
máximo do Petrolão). Nesse entretempo, reelegeu-se com 61%
dos votos válidos e, honrando o epíteto de “encantador de burros”, fez
eleger um “poste” para manter a poltrona presidencial aquecida até 2014, quando
ele poderia voltar a ocupá-la. Lula ainda
não sabia, mas estava cometendo o maior erro estratégico de sua
carreira política — o viria a repeti-lo em 2014, quando então as
consequências seriam ainda mais nefastas.
A eleição
presidencial de 2018 foi na verdade um plebiscito que exorcizou a seita do
inferno, mas com consequências trágicas, pois a emenda saiu pior que o soneto.
“Nunca antes na história deste país”
o Palácio do Planalto teve um inquilino tão torpe quanto o atual. Se Deus fosse
mesmo brasileiro, haveria justiça nesta terra; se houvesse mesmo justiça nesta
terra, o picareta dos picaretas estaria cumprindo pena na Papuda, em Presidente
Bernardes ou na ponte que o partiu. E se tripulação desta nau de insensatos
tivesse um pingo de vergonha na cara, há muito que teria se amotinado e posto a
ferros o capitão que uma ironia do destino colocou na cabine de comando.
Sempre houve, há e
haverá “velhinhas
de Taubaté” que se encantam com as falácias de populistas demagogos. É
o caso da récua de sectários do sumo pontífice da seita do inferno, que
acredita piamente na versão de Lula
sobre o STF ter reconhecido sua
inocência, embora a decisão de Fachin, ora chancelada em plenário por 8 votos a
3, simplesmente atestou a incompetência da 13ª
Vara Federal de Curitiba para para julgar os crimes do ex-presidiário. Ou,
na outra ponta do espectro político ideológico, da capela de miquinhos descerebrados
que veem Bolsonaro como um “mito” e bebem suas palavras mentirosas,
lambem os beiços e estalam a língua como tivesse sorvido o néctar dos deuses.
Se o pleito de 2022
for mesmo um repeteco de 2018, isto é, se Bolsonaro
e Lula disputarem o segundo
turno, o resultado será catastrófico, pouco importando quem restar vitorioso. E
por mais surreal que possa parecer, as (nem sempre confiáveis, mas enfim...)
pesquisas de intenção de voto indicam que os extremistas extremados dividem 60%
dos votos válidos. A boa notícia é que 40% dos eleitores não caíram na conversa
de nenhum dos dois. A má notícia é que ainda apareceu um candidato de centro (não necessariamente
do “centrão”) capaz de lhes fazer frente. o humorista Danilo Gentili.
De acordo com um texto que Mário Sabino publicou no
site O Antagonista, está em curso no
Brasil o golpe do neolulismo. O neolulismo é embrulho novo para coisa
comprovadamente testada, reprovada e condenada, e quer fazer você acreditar,
antes de mais nada, que Lula nunca
foi chefe de uma organização criminosa e que as sentenças das condenações por
corrupção e lavagem de dinheiro são fruto de conspiração dos procuradores e do
ex-juiz da Lava-Jato. Para tanto,
conta com o auxílio de ministros do STF
e, na linha auxiliar, de grandes setores da imprensa, incluindo profissionais
que antes apontavam Lula e o PT como os maiores responsáveis pelas
roubalheiras perpetradas no mensalão e no petrolão.
O neolulismo quer
fazer você crer que Lula é um democrata
convicto, assim como o PT. Que Lula jamais tentou amordaçar a imprensa independente e controlar o Judiciário, Que nunca intimidou e
criminalizou jornalistas incômodos, criou blogs sujos e boicotou veículos de
imprensa que ousaram escancarar as patifarias do comandante petista e o seu
partido. O neolulismo também quer apagar da história o fato de ter patrocinado
uma das ditaduras mais cruentas da América Latina — a chavista na Venezuela.
Para atingir o objetivo, o neolulismo conta principalmente com velhos e novos
colunistas.
O neolulismo quer
fazer você acreditar que os anos de prosperidade e assistencialismo eleitoreiro
dos governos Lula não tiveram um
preço salgado. Que a política econômica baseada em crédito farto, graças à
bonança mundial, não promoveu o endividamento da população mais pobre (a “nova classe C”) e não
privilegiou empresários com empréstimos a juros subsidiados que ajudaram a
financiar campanhas políticas, em fraude à democracia. Que não causou déficits
crescentes nas contas do governo e que isso não levou à maior fraude fiscal já
cometida no país, até o orçamento 2021 de Jair
Bolsonaro: as pedaladas de Dilma
Rousseff.
Para tentar
cancelar os fatos, Lula e o PT contam com os economistas de sempre,
outros recém-chegados ao neokeynesianismo e os empresários habituais. Esses
empresários sonham em faturar com a irresponsabilidade fiscal em benefício
próprio, de maneira idêntica à que ocorria quando os petistas estavam no poder.
Agregaram-se a eles empresários novos, antes críticos dos maus modos econômicos
petistas. Tais neolulistas do neolulismo acham que podem catequizar Lula e o PT para as boas práticas econômicas. É uma das ilusões causadas
pelo neolulismo.
O neolulismo
também tenta se vender como a única alternativa ao bolsonarismo, assim como o
bolsonarismo conseguiu vender-se como solitária opção ao velho lulismo, em
2018. Para tanto, espera no raquitismo de outros candidatos de oposição em
2022, da mesma forma que ocorreu com
Bolsonaro em 2018. Trata-se de apostar na falta de uma candidatura única e
viável dos outros oposicionistas, o que inclui trabalhar ativamente para
destruir no berço qualquer tentativa nesse sentido. Além dos seus sentinelas na
imprensa, o neolulismo tem a seu favor para a realização dessa tarefa os sargentos
dos blogs sujos, os soldados da militância virtual — e a ajuda de integrantes
leais do Ministério Público.
O neolulismo, como
dito, quer ser o polo democrático em 2022, por mais que lhe falte reputação democrática.
No entanto, ele não passa de um embrulho novo para coisa comprovadamente
testada, reprovada e condenada. Que Lula
possa se apresentar como a melhor coisa que o nosso sistema político já
produziu, em 132 anos de República, é só mais uma prova da indigência desse
mesmo sistema no qual Bolsonaro é o
maior eleitor do que lhe parece antípoda.
Durma-se com um barulho desses.