sábado, 3 de abril de 2021

MANIFESTO PELA CONSCIÊNCIA DEMOCRÁTICA

Ao bulir com as Forças Armadas, Bolsonaro não conseguiu articular a formação do que chama de "meu Exército." Mas obteve um 'feito' colateral: empurrou para dentro de um manifesto pró-democracia seis potenciais adversários na corrida presidencial de 2022.

Assinam a peça Ciro Gomes, Eduardo Leite, João Amoêdo, João Doria, Luiz Mandetta e Luciano Huck. Em condições normais, alguns não trocariam um 'bom dia' com certos outros. Graças à anormalidade que prolifera sob Bolsonaro, enxergaram na defesa da preservação da normalidade democrática um ponto de contato.

A zona de convergência é pequena como um biquíni fio-dental. Não daria para esconder nem as vergonhas que uns sentem de se entender com outros. Entretanto, a maior frente já construída na política brasileira, a das Diretas-já, também começou pequena e monotemática. Deu em Tancredo Neves.

Deve-se a Henrique Mandetta a ideia de compor a frente. Ironicamente, o manifesto veio à luz no dia em que a Covid estabeleceu um novo recorde no Brasil, matando 3.950 pessoas no intervalo de 24 horas.

Ex-ministro da Saúde — o primeiro de três que foram empurrados porta afora do gabinete pelo capitão sem-noção —, Mandetta não ignora que a próxima disputa presidencial ocorrerá ao lado de uma pilha de cadáveres. Que tende a crescer junto com a superexposição da inépcia presidencial. Uma eventual frente política passaria a dispor, então, de mais dois temas: o flagelo social e a ruína econômica.

Convidado a assinar o documento, Sergio Moro declinou na última hora. Alegou dificuldades funcionais. Lula não foi chamado —nem ele nem Fernando Haddad, que disputou o Planalto em 2018, enquanto seu patrono puxava cadeia em Curitiba.

Pode não dar em nada, pois alguns dos signatários do manifesto parecem água e óleo. Em tese, não se misturam. Mas pela primeira vez há meia dúzia de rostos na janela insinuando a intenção de fazer na sucessão de 2022 algo além de ver a banda da polarização passar. Vai abaixo a íntegra do manifesto:

Manifesto pela Consciência Democrática

Muitos brasileiros foram às ruas e lutaram pela reconquista da Democracia na década de 1980. O movimento "Diretas Já", uniu diferentes forças políticas no mesmo palanque, possibilitou a eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República, a volta das eleições diretas para o Executivo e o Legislativo e promulgação da Constituição Cidadã de 1988. Três décadas depois, a Democracia brasileira é ameaçada.

A conquista do Brasil sonhado por cada um de nós não pode prescindir da Democracia. Ela é nosso legado, nosso chão, nosso farol. Cabe a cada um de nós defendê-la e lutar seus princípios e valores.

Não há Democracia sem Constituição. Não há liberdade sem justiça. Não há igualdade sem respeito. Não há prosperidade sem solidariedade.

A Democracia é o melhor dos sistemas políticos que a humanidade foi capaz de criar. Liberdade de expressão, respeito aos direitos individuais, justiça para todos, direito ao voto e ao protesto. Tudo isso só acontece em regimes democráticos. Fora da Democracia o que existe é o excesso, o abuso, a transgressão, a intimidação, a ameaça e a submissão arbitrária do indivíduo ao Estado.

Exemplos não faltam para nos mostrar que o autoritarismo pode emergir das sombras, sempre que as sociedades se descuidam e silenciam na defesa dos valores democráticos.

Homens e mulheres desse país que apreciam a LIBERDADE, sejam civis ou militares, independentemente de filiação partidária, cor, religião, gênero e origem, devem estar unidos pela defesa da CONSCIÊNCIA DEMOCRÁTICA. Vamos defender o Brasil.

Ciro Gomes

Eduardo Leite

João Amoedo

João Doria

Luciano Huck

Luiz Henrique Mandetta

Com Josias de Souza