Ao bulir com as Forças Armadas, Bolsonaro não conseguiu articular a formação do que chama de "meu Exército." Mas obteve um 'feito' colateral: empurrou para dentro de um manifesto pró-democracia seis potenciais adversários na corrida presidencial de 2022.
Assinam a peça Ciro
Gomes, Eduardo Leite, João Amoêdo, João Doria, Luiz Mandetta
e Luciano Huck. Em condições
normais, alguns não trocariam um 'bom dia' com certos outros. Graças à
anormalidade que prolifera sob Bolsonaro,
enxergaram na defesa da preservação da normalidade democrática um ponto de
contato.
A zona de convergência é pequena como um biquíni fio-dental.
Não daria para esconder nem as vergonhas que uns sentem de se entender com
outros. Entretanto, a maior frente já construída na política brasileira, a das Diretas-já, também começou pequena e
monotemática. Deu em Tancredo Neves.
Deve-se a Henrique
Mandetta a ideia de compor a frente. Ironicamente, o manifesto veio à luz
no dia em que a Covid estabeleceu um
novo recorde no Brasil, matando 3.950
pessoas no intervalo de 24 horas.
Ex-ministro da Saúde — o primeiro de três que foram
empurrados porta afora do gabinete pelo capitão sem-noção —, Mandetta não ignora que a próxima
disputa presidencial ocorrerá ao lado de uma pilha de cadáveres. Que tende a
crescer junto com a superexposição da inépcia presidencial. Uma eventual frente
política passaria a dispor, então, de mais dois temas: o flagelo social e a
ruína econômica.
Convidado a assinar o documento, Sergio Moro declinou na última hora. Alegou dificuldades
funcionais. Lula não foi chamado
—nem ele nem Fernando Haddad, que
disputou o Planalto em 2018, enquanto seu patrono puxava cadeia em Curitiba.
Pode não dar em nada, pois alguns dos signatários do
manifesto parecem água e óleo. Em tese, não se misturam. Mas pela primeira vez
há meia dúzia de rostos na janela insinuando a intenção de fazer na sucessão de
2022 algo além de ver a banda da polarização passar. Vai abaixo a íntegra do
manifesto:
Manifesto pela
Consciência Democrática
Muitos brasileiros
foram às ruas e lutaram pela reconquista da Democracia na década de 1980. O
movimento "Diretas Já", uniu diferentes forças políticas no mesmo
palanque, possibilitou a eleição de Tancredo Neves para a Presidência da
República, a volta das eleições diretas para o Executivo e o Legislativo e
promulgação da Constituição Cidadã de 1988. Três décadas depois, a Democracia
brasileira é ameaçada.
A conquista do
Brasil sonhado por cada um de nós não pode prescindir da Democracia. Ela é
nosso legado, nosso chão, nosso farol. Cabe a cada um de nós defendê-la e lutar
seus princípios e valores.
Não há Democracia
sem Constituição. Não há liberdade sem justiça. Não há igualdade sem respeito.
Não há prosperidade sem solidariedade.
A Democracia é o
melhor dos sistemas políticos que a humanidade foi capaz de criar. Liberdade de
expressão, respeito aos direitos individuais, justiça para todos, direito ao
voto e ao protesto. Tudo isso só acontece em regimes democráticos. Fora da
Democracia o que existe é o excesso, o abuso, a transgressão, a intimidação, a
ameaça e a submissão arbitrária do indivíduo ao Estado.
Exemplos não
faltam para nos mostrar que o autoritarismo pode emergir das sombras, sempre
que as sociedades se descuidam e silenciam na defesa dos valores democráticos.
Homens e mulheres
desse país que apreciam a LIBERDADE, sejam civis ou militares,
independentemente de filiação partidária, cor, religião, gênero e origem, devem
estar unidos pela defesa da CONSCIÊNCIA DEMOCRÁTICA. Vamos defender o Brasil.
Ciro Gomes
Eduardo Leite
João Amoedo
João Doria
Luciano Huck
Luiz Henrique Mandetta
Com Josias de Souza