Embora a produção audiovisual tupiniquim esteja parada, a
performance do senador Jorge Kajuru no curta “A gravação” garantiu
a indicação do parlamentar ao Oscar. Só não ficou claro se ele
concorrerá no gênero Comédia — faltou o “punchline”,
que poderia ter aproveitado a rima óbvia com Kajuru (ei, Kajuru, vai... ganhar
um Oscar?). Ou Drama — houve quem chorou de desespero ao ouvir a trilha
sonora. Ou Ficção, dada a inverossimilidade dos diálogos — o personagem
principal, por exemplo, parece preocupado com o bem do Brasil.
Difícil mesmo vai ser superar a performance do general da
ativa e ex-capacho da Saúde Eduardo Pazuello no longa “O milico
está presente” apresentado na Contemporary Performance
Institute. “A obra do enfant terrible das artes era para ser uma releitura da icônica performance ‘O artista está presente’, em que Marina
Abramovic passou três meses sentada em silêncio diante do público do Museu da
Arte Moderna de Nova York, mas Pazuello preferiu falar, e está mentindo até agora”, explica o texto do curador Markinhos
Show.
Depois de agitar colecionadores do eixo Muzema-Vivendas da Barra, a expectativa é de que a apresentação ds quintessência da logística seja refeita no circuito Papuda-Bangu das artes. Frederick Wassef, o mafioso de comédia que faz as vezes de empresário do general, afirma que existe também o plano de um retiro de seu cliente em uma propriedade isolada em Atibaia. Mas não antes de ele enfrentar o maior desafio de sua carreira.
Após viver um ministro no pastelão sádico “Um Interino Muito Louco” e um general submisso no thriller de ação “Tropa de Elite 17 – Omissão dada é omissão cumprida”, o fardado triestrelado se prepara para interpretar Pinóquio — o boneco mentiroso criado pelo marceneiro Genocidappeto. A diferença entre a versão original e esse remake criado pelos Estúdios Bolsonaro não é o nariz, mas a curva de contaminação por Covid que cresce a cada mentira contada. “Senhores, é simples: ele manda e eu obedeço, mas tem um sintequinho”, dirá o boneco cara de pau. “E cara de pau é o que ele mais tem”, salienta Markinhos Show.
“A participação do general na CPI é pra calar a boca dos
críticos que ainda tinham dúvida quanto à capacidade dele de mentir em público.
Depois da performance de hoje, nada mais justo do que presenteá-lo com esse
papel”, explicou o jornalista (sic) Alexandre Garcia, assessor
informal do governo Bolsonaro, ao final do depoimento do ex-ministro que
precisou de duas sessões para cascatear a caudalosa torrente de potocas em
que nem a Velhinha de Taubaté (*) acreditaria.
E já que o tema é absoluta falta de absolutamente, se existe
algo que o mandatário de fancaria com tendências absolutistas fez com maestria ao
longo dos últimos 28 meses foi alargar as fronteiras do que um presidente pode
fazer de ruim, inadequado e inacreditável. Depois de entrar para o Guinness
Book of Records como o líder que esgotou os adjetivos negativos, o capitão
luta para ser o presidente que mais palavrões inspirou por milhão de
habitantes.
De tanto superar limites, o morubixaba de turno será patrocinado
por uma marca de energético voltada a esportes radicais. “Já bancamos um
homem que pulou do espaço sideral para a Terra, mas destruir um país inteiro em
tão pouco tempo é a coisa mais radical que alguém já fez”, disse o CEO
do fabricante. Agora, crescem as apostas sobre quais limites o “imbrochável,
irremovível e incomível” ainda pode ultrapassar. Uma das poucas coisas
que faltam é atirar saquinhos de merda no STF, na calada da madrugada.
Entrementes, as instituições continuam vivendo numa espécie de Noruega utópica, onde tudo
funciona normalmente. O Congresso deve em algum momento investigar se a Constituição
continua vigendo e a CPI precisa decidir se o capitão — que não é
coveiro — é culpado ou se tem culpa pelos quase 500 mil cadáveres produzidos
com a mão do gato
pelo coronavírus.
O deputado-réu que preside a Câmara Federal vem inspirando
empreendedores. Uma empresa lançou a Almofada Lira, que permite acomodar
o buzanfã com conforto em cima de qualquer coisa, inclusive do futuro do país
(como o parlamentar homônimo fez com os mais de 120 pedidos de impeachment
contra Bolsonaro). O sucesso de vendas foi imediato e a empresa já está
pensando em lançar o Colchão Pacheco, inspirado no presidente do Senado — o slogan será: perfeito para quem só faz
corpo mole. Mas o produto que o brasileiro mais quer são as algemas
Bolsonaro — aquelas que servem para a família inteira.
Com Piauí e Sensacionalista