domingo, 23 de maio de 2021

A SAGA DE PINÓQUIO — NOS MELHORES CINEMAS

 

Embora a produção audiovisual tupiniquim esteja parada, a performance do senador Jorge Kajuru no curta “A gravação” garantiu a indicação do parlamentar ao Oscar. Só não ficou claro se ele concorrerá no gênero Comédia — faltou o “punchline”, que poderia ter aproveitado a rima óbvia com Kajuru (ei, Kajuru, vai... ganhar um Oscar?). Ou Drama — houve quem chorou de desespero ao ouvir a trilha sonora. Ou Ficção, dada a inverossimilidade dos diálogos — o personagem principal, por exemplo, parece preocupado com o bem do Brasil.

Difícil mesmo vai ser superar a performance do general da ativa e ex-capacho da Saúde Eduardo Pazuello no longa “O milico está presente” apresentado na Contemporary Performance Institute. “A obra do enfant terrible das artes era para ser uma releitura da icônica performance ‘O artista está presente’, em que Marina Abramovic passou três meses sentada em silêncio diante do público do Museu da Arte Moderna de Nova York, mas Pazuello preferiu falar, e está mentindo até agora”, explica o texto do curador Markinhos Show

Depois de agitar colecionadores do eixo Muzema-Vivendas da Barra, a expectativa é de que a apresentação ds quintessência da logística seja refeita no circuito Papuda-Bangu das artesFrederick Wassef, o mafioso de comédia que faz as vezes de empresário do general, afirma que existe também o plano de um retiro de seu cliente em uma propriedade isolada em Atibaia. Mas não antes de ele enfrentar o maior desafio de sua carreira.

Após viver um ministro no pastelão sádico “Um Interino Muito Louco” e um general submisso no thriller de ação “Tropa de Elite 17 – Omissão dada é omissão cumprida”, o fardado triestrelado se prepara para interpretar Pinóquio — o boneco mentiroso criado pelo marceneiro Genocidappeto. A diferença entre a versão original e esse remake criado pelos Estúdios Bolsonaro não é o nariz, mas a curva de contaminação por Covid que cresce a cada mentira contada. “Senhores, é simples: ele manda e eu obedeço, mas tem um sintequinho”, dirá o boneco cara de pau. “E cara de pau é o que ele mais tem”, salienta Markinhos Show.

A participação do general na CPI é pra calar a boca dos críticos que ainda tinham dúvida quanto à capacidade dele de mentir em público. Depois da performance de hoje, nada mais justo do que presenteá-lo com esse papel”, explicou o jornalista (sic) Alexandre Garcia, assessor informal do governo Bolsonaro, ao final do depoimento do ex-ministro que precisou de duas sessões para cascatear a caudalosa torrente de potocas em que nem a Velhinha de Taubaté (*) acreditaria.

E já que o tema é absoluta falta de absolutamente, se existe algo que o mandatário de fancaria com tendências absolutistas fez com maestria ao longo dos últimos 28 meses foi alargar as fronteiras do que um presidente pode fazer de ruim, inadequado e inacreditável. Depois de entrar para o Guinness Book of Records como o líder que esgotou os adjetivos negativos, o capitão luta para ser o presidente que mais palavrões inspirou por milhão de habitantes.

De tanto superar limites, o morubixaba de turno será patrocinado por uma marca de energético voltada a esportes radicais. “Já bancamos um homem que pulou do espaço sideral para a Terra, mas destruir um país inteiro em tão pouco tempo é a coisa mais radical que alguém já fez”, disse o CEO do fabricante. Agora, crescem as apostas sobre quais limites o “imbrochável, irremovível e incomível” ainda pode ultrapassar. Uma das poucas coisas que faltam é atirar saquinhos de merda no STF, na calada da madrugada.

Entrementes, as instituições continuam vivendo numa espécie de Noruega utópica, onde tudo funciona normalmente. O Congresso deve em algum momento investigar se a Constituição continua vigendo e a CPI precisa decidir se o capitão — que não é coveiro — é culpado ou se tem culpa pelos quase 500 mil cadáveres produzidos com a mão do gato pelo coronavírus.

O deputado-réu que preside a Câmara Federal vem inspirando empreendedores. Uma empresa lançou a Almofada Lira, que permite acomodar o buzanfã com conforto em cima de qualquer coisa, inclusive do futuro do país (como o parlamentar homônimo fez com os mais de 120 pedidos de impeachment contra Bolsonaro). O sucesso de vendas foi imediato e a empresa já está pensando em lançar o Colchão Pacheco, inspirado no presidente do Senado — o slogan será: perfeito para quem só faz corpo mole. Mas o produto que o brasileiro mais quer são as algemas Bolsonaro — aquelas que servem para a família inteira.

Com Piauí e Sensacionalista