sexta-feira, 14 de maio de 2021

AS NOVAS REGRAS DO WHATSAPP FEREM SUA PRIVACIDADE?

DESCARTES FICARIA SURPRESO EM SABER QUANTAS PESSOAS QUE NÃO PENSAM TAMBÉM EXISTEM.

Termina amanhã (15) o prazo para usuários do WhatsApp aceitarem as mudanças nos termos de serviço e na política de privacidade da plataforma. Ou terminaria, melhor dizendo, porque a Secretaria Nacional do Consumidor, (Senacon) a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), o Ministério Público Federal (MPF) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) recomendaram o adiamento (mais um, na verdade) da nova política de privacidade da plataforma de mensagens. No documento produzido em conjunto, essas instituições pedem ao WhatsApp que adie a data de vigência de sua nova política enquanto não forem adotadas as recomendações sugeridas após as análises dos órgãos reguladores.

Em tese, as mudanças afetam a privacidade dos usuários por permitir que os dados pessoais coletados no uso do app sejam compartilhados com outras mídias sociais do mesmo grupo, como o Facebook. O aceite dos termos é obrigatório, ou seja, quem não concordar com esse compartilhamento terá a conta bloqueada e só poderá reativá-la se concordar com os termos propostos.

Embora o WhatsApp afirme que as novidades da política de privacidade estão centradas em interações com empresas, o texto indica a coleta de informações que não estavam presentes na versão anterior do documento. Entre elas: carga da bateria, operadora de celular, força do sinal da operadora e identificadores do Facebook, Messenger e Instagram que permitem cruzar dados de um mesmo usuário nas três plataformas, numa clara afronta à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), em vigor desde setembro do ano passado, que regulamenta como devem ser colhidos, armazenados, usados e excluídos os dados pessoais no país.

Segundo o porta-voz do WhatsApp, o aplicativo passou os últimos meses fornecendo mais informações sobre essa atualização para todos os usuários ao redor do mundo. Nesse período, a maioria das pessoas que já foi notificada aceitou a atualização e a base de usuários do app continua crescendo. Mas aqueles que ainda não tiveram a chance de aceitar a atualização não terão suas contas apagadas ou perderão a funcionalidade no dia 15 de maio. A empresa continuará enviando lembretes para eles, dentro do WhatsApp, nas próximas semanas.

Observação: O WhatsApp afirma que todas as mensagens — de texto, áudio, vídeo e imagens — são criptografadas de ponta a ponta, o que significa que somente o remetente e destinatário podem ver a mensagem. Ressalta ainda que não mantém registros sobre com quem os usuários estão conversando e que não compartilha listas de contatos com o Facebook, pontos vistos como preocupações de parte dos usuários. Mas a nova política de privacidade deixa de garantir a proteção da criptografia em conversas com contas comerciais. Imagine, por exemplo, uma grande varejista que ofereça atendimento pelo WhatsApp. Os atendentes não respondem por um celular, mas por ferramentas que gerenciam os chats. Como existe um terceiro armazenando e gerenciando interações com empresas, o aplicativo não consegue garantir a criptografia ponta a ponta para essas conversas.

O uso desses dados obedece ao princípio da autodeterminação informativa, ou seja, cabe a cada indivíduo gerir quando e por quem as informações podem ser utilizadas, e o WhatsApp não parece disposto a propiciar essa escolha aos usuários do aplicativo. Existem, inclusive, questionamentos administrativos e de órgãos de defesa do consumidor sobre estes novos termos, mas até o momento não há indicativo de que a plataforma aceite negociar alterações para que se obedeça a legislação vigente e o direito de escolha do usuário.

Facebook coleta informações dos usuários até mesmo quando o app não está sendo executado, e já repassou dados para outras empresas, como a “Cambridge Analytica”, que, até onde se sabe, utilizou-os para interferir tanto nas eleições americanas quanto no Brexit (ao longo dos últimos anos, a empresa foi acusada diversas vezes de uso indevido dos dados e pagou indenizações e multas milionárias para evitar problemas mais sérios).

Depois que a Apple incluiu na atualização do iOS para a versão 14.5 a ferramenta App Tracking Transparency (ATT), que alerta os usuários do iPhone quando eles acessarem aplicativos que coletam e compartilham dados com terceiros (permitindo-lhes autorizar ou não a operação), o Facebook rodou a baiana. 

Alegando que isso encarecerá o custo da Internet para o usuário final — já que muitos serviços online são gratuitos pois são financiados pela exibição de publicidade, realizada com a coleta dos dados —, mas mais preocupada com as consequências da restrição ao seu modelo de negócio, a empresa de Zuckerberg ameaçou acionar judicialmente a marca da Maçã.

A credibilidade do sistema de proteção de dados será testada pelas próprias sanções que poderão ser impostas pela ANPD. Como se tem visto, muitos vazamentos têm acontecido de forma massiva pela invasão de sistemas de ministérios e empresas públicas. Espera-se que as sanções sejam aplicadas de forma isonômica para todas as empresas, sem privilégios a empresas públicas ou do Vale do Silício