EM TERRA DE CEGO, QUEM TEM UM OLHO ATÉ PODE SER REI, MAS NÃO DEIXA DE SER CAOLHO.
No Brasil, nada é o que parece ser e tampouco há
certeza de coisa alguma — a não ser de que esta republiqueta de bananas se tornou
um circo em que o povo faz dois papeis — o de expectador pagante e o de palhaço
involuntário e não remunerado. Mas vamos deixar os detalhes para a postagem de
política e cingir nosso foco ao mais
recente capítulo da novela da política de privacidade do WhatsApp, que foi
objeto do post da última sexta-feira.
A não ser que o imprevisto tenha voto decisivo na
assembleia dos acontecimentos, a coisa ficou assim: os usuários que não concordaram
expressamente com as novas regras não terão suas contas canceladas, mas
receberão mensagens solicitando o aceite e, caso não o deem, perderão “progressivamente”
o acesso livre aos recursos do WhatsApp.
A alteração polêmica torna obrigatório o
compartilhamento de informações como número de telefone, dados de transações,
endereço IP, dados de dispositivo, dados sobre interações com outros contatos,
entre outros. Em janeiro, a empresa asseverou que a atualização não muda as
práticas de compartilhamento de dados entre o WhatsApp e o Facebook
nem impacta a maneira como os usuários se comunicam de forma privada com seus
amigos e familiares, além de reafirmar que todas as mensagens trocadas no app
têm criptografia ponta-a-ponta, ou seja, somente as pessoas que estão
participando de uma conversa podem ter acesso ao que foi enviado.
Fato é que os usuários não serão afetados em
conversas com outras pessoas físicas, mas em mensagens trocadas com contas
empresariais a história é outra. Quando usamos o WhatsApp para falar com
uma empresa, a conversa não se dá diretamente com a companhia, mas sim com
um intermediário que a “retransmite” para a empresa em questão. Assim, a
conversa é criptografada do indivíduo ao intermediário e do
intermediário à empresa final, e esse intermediário é o Facebook, com
quem o WhatsApp vai compartilhar os dados.
Em suma, a nova política de privacidade deixa de
garantir a proteção da criptografia em conversas com contas comerciais — ou
seja, mantidas com contas do WhatsApp Business —, e não às mensagens de bom dia
que sua avó envia para você. E o WhatsApp Pay, por funcionar apenas em contas pessoais,
também não deve ser afetado.
A Autoridade Nacional de Proteção de Dados publicou uma nota na qual afirmou que “o WhatsApp informa que não encerrará nenhuma conta, e que nenhum usuário no Brasil perderá acesso aos recursos do aplicativo nos 90 dias posteriores ao dia 15 de maio como resultado da entrada em vigor da nova política de privacidade e dos novos termos de serviço nesta data”, e que, nesses 90 dias, os órgãos responsáveis devem analisar novamente o aplicativo para encontrar quaisquer desacordos.
Ainda segundo a ANPD “a política de privacidade e as práticas de
tratamento de dados apresentadas pelo WhatsApp podem, em princípio, representar
violações aos direitos dos titulares de dados pessoais. As instituições ainda
demonstraram preocupação com os potenciais efeitos sobre a concorrência e sob a
ótica da proteção e defesa do consumidor”.
Volto a lembrar que o WhatsApp não é a última nem a única bolacha do pacote. Se você não se sentir seguro para aceitar o contrato imposta pela empresa de Zuckerberg, perderá o acesso aos recursos do app, mas talvez saia ganhando, no fim das contas, se migrar para o Signal, por exemplo, que teve um aumento de 1.192% em downloads em relação a 2020, sendo baixado cerca de 64,6 milhões de vezes.
Observação: O Telegram também cresceu
no começo deste ano, passando por um aumento de 98% em downloads, enquanto o
WhatsApp caiu 43% no mesmo período. Todos aplicativos oferecem
basicamente as mesmas funcionalidades, mas o Signal é o que menos
coleta dados dos usuários, seguido pelo Telegram, ao passo que o WhatsApp
e Messenger (ambos regidos pelo Facebook) são os que mais coletam
informações.
A segurança do Signal é melhor do que a do WhatsApp.
Em ambos os apps as mensagens são criptografadas ponto-a-ponto, mas, enquanto o
Signal tem o código totalmente aberto — podendo ser examinado quanto a
vulnerabilidades por pesquisadores de segurança —, o WhatsApp usa sua
própria implantação. Além disso, a opção de backup em nuvem, que
armazena o histórico das mensagens, sem criptografia, nos servidores do Google
ou da Apple, é uma fragilidade que o Signal não possui (até
porque, por razões de segurança, não existe a opção de backup em nuvem; as mensagens
ficam armazenadas no aparelho do próprio usuário).