segunda-feira, 17 de maio de 2021

MAIS SOBRE A NOVELA DA POLÍTICA DE PRIVACIDADE DO WHATSAPP

EM TERRA DE CEGO, QUEM TEM UM OLHO ATÉ PODE SER REI, MAS NÃO DEIXA DE SER CAOLHO. 

No Brasil, nada é o que parece ser e tampouco há certeza de coisa alguma — a não ser de que esta republiqueta de bananas se tornou um circo em que o povo faz dois papeis — o de expectador pagante e o de palhaço involuntário e não remunerado. Mas vamos deixar os detalhes para a postagem de política e cingir nosso foco ao mais recente capítulo da novela da política de privacidade do WhatsApp, que foi objeto do post da última sexta-feira.

A não ser que o imprevisto tenha voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, a coisa ficou assim: os usuários que não concordaram expressamente com as novas regras não terão suas contas canceladas, mas receberão mensagens solicitando o aceite e, caso não o deem, perderão “progressivamente” o acesso livre aos recursos do WhatsApp.

A alteração polêmica torna obrigatório o compartilhamento de informações como número de telefone, dados de transações, endereço IP, dados de dispositivo, dados sobre interações com outros contatos, entre outros. Em janeiro, a empresa asseverou que a atualização não muda as práticas de compartilhamento de dados entre o WhatsApp e o Facebook nem impacta a maneira como os usuários se comunicam de forma privada com seus amigos e familiares, além de reafirmar que todas as mensagens trocadas no app têm criptografia ponta-a-ponta, ou seja, somente as pessoas que estão participando de uma conversa podem ter acesso ao que foi enviado. 

Fato é que os usuários não serão afetados em conversas com outras pessoas físicas, mas em mensagens trocadas com contas empresariais a história é outra. Quando usamos o WhatsApp para falar com uma empresa, a conversa não se dá diretamente com a companhia, mas sim com um intermediário que a “retransmite” para a empresa em questão. Assim, a conversa é criptografada do indivíduo ao intermediário e do intermediário à empresa final, e esse intermediário é o Facebook, com quem o WhatsApp vai compartilhar os dados.

Em suma, a nova política de privacidade deixa de garantir a proteção da criptografia em conversas com contas comerciais — ou seja, mantidas com contas do WhatsApp Business —, e não às mensagens de bom dia que sua avó envia para você. E o WhatsApp Pay, por funcionar apenas em contas pessoais, também não deve ser afetado. 

A Autoridade Nacional de Proteção de Dados publicou uma nota na qual afirmou que “o WhatsApp informa que não encerrará nenhuma conta, e que nenhum usuário no Brasil perderá acesso aos recursos do aplicativo nos 90 dias posteriores ao dia 15 de maio como resultado da entrada em vigor da nova política de privacidade e dos novos termos de serviço nesta data”, e que, nesses 90 dias, os órgãos responsáveis devem analisar novamente o aplicativo para encontrar quaisquer desacordos. 

Ainda segundo a ANPD  a política de privacidade e as práticas de tratamento de dados apresentadas pelo WhatsApp podem, em princípio, representar violações aos direitos dos titulares de dados pessoais. As instituições ainda demonstraram preocupação com os potenciais efeitos sobre a concorrência e sob a ótica da proteção e defesa do consumidor”. 

Volto a lembrar que o WhatsApp não é a última nem a única bolacha do pacote. Se você não se sentir seguro para aceitar o contrato imposta pela empresa de Zuckerberg, perderá o acesso aos recursos do app, mas talvez saia ganhando, no fim das contas, se migrar para o Signal, por exemplo, que teve um aumento de 1.192% em downloads em relação a 2020, sendo baixado cerca de 64,6 milhões de vezes. 

Observação: O Telegram também cresceu no começo deste ano, passando por um aumento de 98% em downloads, enquanto o WhatsApp caiu 43% no mesmo período. Todos aplicativos oferecem basicamente as mesmas funcionalidades, mas o Signal é o que menos coleta dados dos usuários, seguido pelo Telegram, ao passo que o WhatsApp e Messenger (ambos regidos pelo Facebook) são os que mais coletam informações.

A segurança do Signal é melhor do que a do WhatsApp. Em ambos os apps as mensagens são criptografadas ponto-a-ponto, mas, enquanto o Signal tem o código totalmente aberto — podendo ser examinado quanto a vulnerabilidades por pesquisadores de segurança —, o WhatsApp usa sua própria implantação. Além disso, a opção de backup em nuvem, que armazena o histórico das mensagens, sem criptografia, nos servidores do Google ou da Apple, é uma fragilidade que o Signal não possui (até porque, por razões de segurança, não existe a opção de backup em nuvem; as mensagens ficam armazenadas no aparelho do próprio usuário).