domingo, 9 de maio de 2021

QUANDO O QUE NÃO ESTÁ BOM FICA PIOR


A pandemia do coronavírus é uma tragédia mundial, mas o Brasil tem feito o possível e o impossível para agravá-la com incompetência, ignorância e irresponsabilidade — três quesitos que não requerem muito esforço de demonstração, uma vez que a conduta do próprio presidente da República os evidencia à sociedade.

O governo foi lento em reagir à pandemia, demorou a reconhecer sua seriedade e até hoje insiste em enviar sinais contraditórios ao público, fomentando aglomerações e sabotando o sofrido trabalho dos agentes da saúde. 

ObservaçãoComissão criada pela OAB concluiu que Jair Bolsonaro cometeu crimes de responsabilidade e contra a humanidade ao fundar uma "República da Morte" no País. Segundo o colegiado, o capitão agiu deliberadamente contra medidas de proteção à Covid e se omitiu em diversas situações que poderiam reduzir o número de óbitos causados pela doença. A comissão foi presidida pelo ex-ministro do STF Ayres Britto e contou com a participação dos juristas Miguel Reale Jr., Carlos Roberto Siqueira Castro, Cléa Carpi, Nabor BulhõesAntonio Carlos de Almeida Castro (o Kakay), Geraldo PradoMarta SaadJosé Carlos Porciúncula e Alexandre Freire. O relatório de 24 páginas é dividido em análises sobre possíveis sanções a nosso soberbo mandatário, tanto no plano nacional (processo de impeachment e denúncias criminais) quanto no internacional (denúncia ao Tribunal Penal Internacional). “A questão que se põe no presente momento é a seguinte: pode-se provar com segurança, e de acordo com as leis da natureza, que centenas de milhares de vidas teriam sido salvas, caso o presidente e outras autoridades tivessem cumprido com o seu dever constitucional de zelar pela saúde pública? A resposta é um retumbante sim”, apontou o relatório dos juristas.

No entanto, subjacente à insanidade presidencial e tornando-a ainda mais perigosa, a pandemia divide a sociedade em dois interesses praticamente inconciliáveis.

De um lado, os que devem observar com rigor as precauções determinadas pelas autoridades sanitárias; do outro, os que precisam trabalhar para sustentar suas famílias. De um lado e de outro, são milhões de pessoas, e não há como satisfazer plenamente os interesses que os contrapõem. E ninguém sabe ao certo por quanto tempo ainda vamos permanecer expostos a esse terror.

Entre a dificuldade retrocitada e as aglomerações que vemos em praias, bares e “festinhas clandestinas” há uma distância sideral. Dia sim, outro também, uma corja de irresponsáveis organiza festas com 100, 200, 500 ou mais participantes inconsequentes.

Como pode alguém chegar a tal irresponsabilidade sabendo que desde fevereiro do ano passado (há míseros 14 meses, portanto) 420 mil pessoas perderam a vida para a Covid no Brasil? Note que não são casos isolados: esse quadro macabro se repete no país inteiro, enquanto a vacinação avança a passo de cágado inobstante o esforço conjunto do SUS e dos institutos Butantan e Fiocruz.

Pessoas assim não são apenas ignorantes e irresponsáveis. São criminosos, e como tal deveriam ser tratadas. Mas o diabo é que nossas leis são feitas para favorecer os criminosos em detrimento dos cidadãos de bem, cumpridores de seus compromissos e pagadores dos impostos que bancam os régios salários e mordomias servidos aos nobres membros do Poder Legislativo (e também do Executivo e do Judiciário, mas isso é outra conversa).

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Na última quinta-feira, depois que uma série de investigações (que vinham sendo realizadas há meses pela Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima) confirmarem que crianças estavam sendo aliciadas por traficantes na região do Jacarezinho (zona norte da capital fluminense) para integrar uma fação (Comando Vermelho), a polícia civil, cumprindo um mandado judicial, entrou na comunidade e foi recebida a tiros por marginais fortemente armados.

Ao descer do Caveirão (veículo blindado), o policial civil André Leonardo de Mello Frias e outros sete agentes entraram em um beco onde havia uma estrutura de concreto com buraco para apoiar o cano de um fuzil. Um criminoso atirou dali, e Frias foi atingido na cabeça, logo no começo da operação, iniciada às 6h. Os confrontos se multiplicaram, levando ao mais alto número de vítimas registradas em operações policiais no Rio nos últimos anos.

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Dos 21 procurados, três foram mortos e três presos. Os outros 21 mortos, segundo a polícia, são criminosos que reagiram à ação policial. Outras três pessoas, que não eram alvos da operação, foram presas no decorrer dela. Foram apreendidas 16 pistolas, 12 granadas, seis fuzis, uma submetralhadora e uma escopeta, além de drogas em quantidade ainda não contabilizada. Segundo a polícia, o tráfico da região adota táticas de guerrilha, com armas pesadas e “soldados fardados”.

De acordo com o delegado Felipe Curi, os outros 28 que perderam a vida na operação eram “todos criminosos”. “Não tem suspeito, é criminoso, bandido, traficante e homicida porque tentaram matar os policiais”, afirmou. O delegado Rodrigo Oliveira, subsecretário operacional da Polícia Civil, negou que tenha havido erros ou excessos na operação. “Se houve execução, foi do policial”.

Oliveira afirmou que todos os protocolos exigidos pelo STF na decisão que restringe ações policiais foram cumpridos na operação e criticou o ativismo de quem está contra o serviço da polícia. “Nós estamos do lado da sociedade, policial não entra (em favela) para executar ninguém”. Segundo ele, os traficantes têm tanta ingerência sobre a rotina da favela que chegam a determinar até se um morador pode ou não namorar determinada pessoa.

Em discurso durante o sepultamento de Frias, o secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski, elogiou a ação da polícia no Jacarezinho e disse que o setor de inteligência da corporação confirmou todos os mortos como traficantes, “19 com folhas corridas até aquele momento”.  Disse ainda que a Polícia Civil não age na emoção. A operação foi muito planejada, com todos os protocolos e em cima de 10 meses de investigação”, afirmou o subsecretário operacional da Polícia Civil.

O episódio foi classificado pelas mídias sociais (e por parte da imprensa profissional) de “banho de sangue”, “massacre”, “chacina” e por aí afora, e os criminosos, de “vítimas da sociedade”. Ninguém (ou quase ninguém) mencionou que o policial morto em serviço tinha 48 anos, estava casado desde 2018 com uma policial civil, tinha um enteado de 10 anos e era responsável pelo sustento da mãe, que sofreu um AVC três anos atrás e não sai da cama desde então.

Em nota, o governo do Estado lamentou as mortes, mas disse que a ação foi orientada por um longo e detalhado trabalho de inteligência e investigação, que demorou dez meses para ser concluído. Além disso, afirmou que todos os locais de confrontos e mortes foram periciados. Já representantes de grupos em defesa dos Direitos Humanos criticaram a operação. Para eles “direitos humanos são direitos dos manos.

 Até quando nossa sociedade continuará refém da bandidagem covarde? Muitos deles (bandidos e covardes) usam armas, mas outros usam a caneta. Os que usam armas ainda têm alguma coragem, mas os da caneta não valem nem a merda que cagam.