QUEM DÁ VOZ A BURROS DEVE SE PREPARAR PARA OS ZURROS
Numa sexta-feira qualquer, enquanto a última badalada do meio-dia reverbera e você se para gastar os poucos trocados que lhe restam num sanduba gorduroso do sujinho defronte ao escritório, seu smartphone acusa a chegada de uma nova mensagem.
Curioso, você abre o aplicativo e se dá conta
de que Ayman al-Zawahiri (sucessor do finado Osama Bin Laden no
comando da Al Qaeda) finalmente se lembrou do Brasil: dois 747s
carregados com explosivos acabaram de colidir com o Congresso Nacional,
ceifando de maneira chocante (literalmente) a carreira de centenas parlamentares
corruptos e ímprobos.
Estarrecido com a notícia, mas antevendo a possibilidade de o governo decretar feriado nacional pelos próximos três dias, você cogita desistir do lanche e investir os trocados num par de rojões de cinco tiros — afinal, acontecimentos dessa natureza devem ser comemorados em grande estilo. Eis senão quando cai a ficha: às sextas-feiras o Congresso costuma estar mais vazio que a sua carteira.
Conteúdo dessa natureza era chamado de “hoax” até algum tempo atrás. Hoje, chama-se “fake news”. O termo hoax é (ou era) usado para designar falsos alertas divulgados via email, aplicativo mensageiro, redes sociais, etc., geralmente em tom alarmista e não raro “avalizado” por órgãos públicos ou empresas renomadas. Esses “avisos” concitavam os destinatários a adotar com urgência “medidas corretivas” ou seguir links supostamente capazes de neutralizar a ameaça, e terminavam invariavelmente recomendando repassar a mensagem para o maior número possível de pessoas.
Um exemplo antigo — mas que ilustra adequadamente esta
abordagem — é o hoax do “Vírus do Ursinho” (jbdgmgr.exe). A mensagem alertava
para um poderoso vírus que as ferramentas de segurança não eram capazes de barrar,
e que ficava latente por 14 dias, daí a importância de o destinatário localizá-lo e eliminar o quanto antes. Quem seguia as instruções e deletava o
arquivo que tinha como ícone a figura de um ursinho removia na verdade um
componente legítimo do Windows (e induzia seus contatos a cair na mesma
infração).
Feita esta breve contextualização, repito aqui o que já
publiquei no Facebook na forma de resposta a postagens que algumas pessoas vêm compartilhando, que na verdade é um hoax (ou fake news). O texto afirma que o a plataforma limita
a visualização das postagens a 25 pessoas, e que “colar a mensagem” num post e republicá-la resultará numa crescimento astronômico do número de visualizações
do feed do usuário.
Essa tese da limitação — que já foi utilizada em outras mensagens falsas (como a de que o Instagram limitou o alcance para 7% dos amigos) — foi negada pelo próprio Facebook quando a versão original (em inglês) do boato começou a circular na rede. De acordo com o CNET, o Face reforçou que o feed de notícias é definido pela relevância dos posts para as pessoas e não há limite para 25 pessoas. A matéria aponta que a balela surgiu após o anúncio de que a plataforma faria com que posts de amigos ganhassem mais força do que posts de páginas.
A tese de que “copiar e colar” a mensagem produziria
mais visualizações também é falsa. Primeiro, porque mensagens como essa não têm
muito peso em redes sociais (algumas são até classificadas como spam). Segundo,
porque não se configura o feed de notícias “postando uma mensagem padrão”,
mas sim clicando nos “três pontinhos” ao lado do nome feed de notícias e
depois em “editar preferências”.
Essa conversa fiada de que só 25 amigos vão publicar na sua timeline é mera cantilena para dormitar bovinos — para não dizer “coisa de quem não tem o que fazer”. Seu feed no Face é definido pela relevância dos assuntos e não tem limite de pessoas para isso. E igualmente inócua é a sugestão de colar o texto e republicá-lo para “quebrar o feitiço”.
Tudo somado e subtraído, essa mensagem não passa de mais um hoax que circula na rede social.