segunda-feira, 28 de junho de 2021

O MOTOQUEIRO DAS TREVAS RISES AGAIN


O escândalo da Covaxin implodiu as redes sociais e pode implodir também o governo Jair Bolsonaro, diz O Antagonista. “Bolsonaro caiu” foi um dos assuntos mais comentados na manhã do último sábado. 

Após as revelações do deputado Luis Miranda na CPI do Genocídio, a cúpula do colegiado pretende apresentar uma notícia crime ao STF contra o chefe do Executivo por crime de prevaricação. Segundo o parlamentar, o líder do governo da Câmara, deputado Ricardo Barros, estaria à frente do esquema relacionado à compra de vacinas da Covaxin.

Enquanto isso, como se não estivesse balançando a roseira e o país não registrasse mais de 511 mil mortes causadas por Covid, o motoqueiro das sombras protagonizou mais uma “motociata. Desta vez o circo foi armado na cidade catarinense de Chapecó, e contou com a participação do senador Jorginho Mello e do deputado Daniel Freitas. O alcaide chapecoense, João Rodrigues, que é citado frequentemente por Bolsonaro em suas lives por ser um dos prefeitos que aderiram abertamente ao tratamento precoce contra a Covid, foi de carona na garupa do capetão.

Esta é a terceira motociata” promovida por Bolsonaro em quatro semanas. A primeira ocorreu no final de maio, no Rio, e contou com a presença do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, o que o levou à reconvocação do general do Exército à CPI da Covid. A segunda se deu em São Paulo, duas semanas atrás, e a mobilização de policiais três forças de segurança estaduais para garantir a segurança do presidente e a fluidez no trânsito custou ao Estado R$ 1,2 milhão

Por outro lado, o governo paulista autuou o presidente, a deputada federal Carla Zambelli, o então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (que já foi tarde), o deputado Coronel Tadeu e o ministro da Ciência e Tecnologia Marcos Pontes por não usarem máscaras na manifestação.

Observação: Segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, cerca de 12 mil motociclistas percorreram o trajeto de 129 quilômetros entre a Capital e Jundiaí — um número respeitável, mas anos-luz distante das 1.324.523 motos contabilizadas por um delirante organizador do evento e compartilhada nas redes sociais por Bia KicisCarla Zambelli e outros bolsonaristas-raiz, juntamente com a falácia de que a manifestação teria entrado para o Guinness World Records. Demais disso, o número citado pelos bolsonaristas é maior que toda a frota de motocicletas, motonetas e ciclomotores da cidade de São Paulo (são 1.260.276 veículos, segundo o Denatran). Para conseguir reunir 1,3 milhão de motos, os organizadores teriam que convocar 62% de toda a frota dos 39 municípios da região metropolitana de São Paulo — ou 22% da frota de todo o Estado, que corresponde a 6.015.445 de motos e assemelhados. 

Bolsonaro atacou o STF por ter anulado as condenações de Lula (nesse ponto eu concordo com o capetão), e a récua de apoiadores descerebrados respondeu em coro: Fecha! Fecha!

Causa espécie o presidente que “acabou com a Lava-Jato porque não tem mais corrupção no governo” (Deus tá vendo!), que passou os últimos dois anos torpedeando o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, que se reuniu secretamente com o dono do Supremo” e salvador do petralha ainda fingir descaradamente que se importa com os cambalachos da corte. Impeachment! Impeachment!

Em sua entrevista ao Papo Antagonista, o deputado Miranda afirmou que a tarefa do Ministério Público Federal e da Polícia Federal é “puxar o fio” em relação às denúncias sobre o escândalo da Covaxin.

Tenho certeza que a PF vai puxar isso com mais gosto e vai mostrar que tem algo errado de fato. O presidente vai falar o quê? Que ele encobriu? O bonito do presidente devia falar hoje que foi enganado pela equipe, que está exonerado todo mundo. Seria uma demonstração de hombridade. Ele deveria nos agradecer por expor a verdade.” Cá entre nós, deputado, seria melhor o senhor esperar sentado.

Miranda disse que vem sendo alvo de retaliações por ter dado nomes aos bois na CPI do Genocídio, que não recebeu retorno do deputado-réu Artur Lira — que foi eleito presidente da Câmara com as benção$ do Executivo — sobre o pedido de proteção policial por parte da Polícia Legislativa da Câmara, e que vários [parlamentares] do Centrão falaram que estão preparados para abandonar o barco […]. Eles sabem que estou falando a verdade. Essa história do Ministério da Saúde entre os parlamentares é de largo conhecimento.” Mas não deu nomes aos bois.

Foi uma pena os senadores Alessandro Vieira e Simone Tebet não terem participado da entrevista. Durante a sessão de sexta-feira, o deputado foi pressionado por vários integrantes da CPI, incluindo Vieira, que o chamou de “covarde” por não ter a mesma coragem do irmão. Na sequência, Tebet pediu mais uma vez, e Miranda finalmente declinou o nome do líder de governo na Câmara.

Eu sei o que vai acontecer comigo. A senhora [Simone Tebet] também sabe que é o Ricardo Barros que o presidente falou”, afirmou o depoente. A senadora insistiu: “O senhor confirma?” À beira das lágrimas, ele respondeu: “Foi o Ricardo Barros que o presidente falou”. E em seguida começou a chorar.

Eu queria ter dito desde o primeiro momento, mas é que vocês não sabem o que eu vou passar. Apontar para o presidente da República que todo mundo defende como correto e honesto, que sabe que tem algo errado, sabe o nome, sabe quem é e não faz nada por medo da pressão que pode levar do outro lado. Que presidente é esse que tem medo de pressão de quem está fazendo o errado, quem desvia dinheiro?”, lamentou Luiz Miranda.

O depoimento dos irmãos Miranda deixou claro que Bolsonaro sabia do esquema de fraude no Ministério da Saúde e nada fez a respeito, abrindo espaço para a suspeita de que o capetão seja culpado não apenas de prevaricação, mas também de corrupção passiva, peculato, organização criminosa, advocacia administrativa, tráfico de influência e sabe-se lá mais o quê. Sem contar que, ao determinar à PF que investigue os depoentes, Bolsonaro comete os crimes de abuso de autoridade, intimidação, coação de testemunhas e obstrução de justiça. Foi público e todo mundo viu. Se fosse um cidadão comum, poderia ter sido preso em flagrante.

Reproduzo aqui um sábio conselho de Ricardo Rangel: Senhor Procurador-Geral da República Augusto Aras, até quando o senhor vai se fingir de morto? É sua obrigação instaurar um inquérito contra Jair Messias Bolsonaro. Se não o instaurar, quem vai estar cometendo crime de prevaricação é o senhor. Lembre-se, senhor Aras: o senhor não vai ser Procurador-Geral para sempre. Mais cedo ou mais tarde, haverá outro presidente no Planalto e outro procurador com a sua caneta.